terça-feira, 16 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 26 DAR MILHO



DAR MILHO AOS POMBOS

Por princípio não estou vocacionado a tratar, neste espaço quase público, temas de política nacional. Mas esta relutância não se deve aplicar in eternum, em especial quando os assuntos atingem a maioria dos cidadãos, em favorecimento de uma classe dominante. Aliás, os dominantes nem sequer são homogéneos entre si, pois os há que se movem em compartimentos muito diferentes. Mas o que os une é o facto de, por um lado ou outro, terem uma influência pesada no comportamento de quem, mais ou menos legalmente, nos governa. Apetecia dizer “nos orienta”, mas isso é aceitar uma pressão de nível excessivo.

Nesta altura, e curiosamente coincidindo com a governação vigente além Elvas-Caia, temos um governo em teoria de cariz socialista mas que sendo ambos reféns de outros partidos, que exigem ser compensados pelo seu apoio, seguem uma navegação à vista que não corresponde a nenhum ideário sério e reconhecido. Podemos afirmar que comportam-se mais como governantes conservadores. Os “sócios” tem a governação agarrada por onde mais dói, e por este facto vemos que, apesar de ter a economia nacional em muito pior estado do que aquele que se propagandeia, conseguem algumas benesses para os seus apoiantes, sem se preocuparem do facto de que estas “victórias” causam prejuízo a outros grupos que sentem-se preteridos. E que não deixaremos, todos os que estejam vivos, a pagar com língua de palmo e estômago colado , quando nos colocarem em frente do paredão, metafóricamente falando.

A solução adoptada é clássica e transparente: para dar aquilo que não se tem é necessário ir pescar em toda a população, indiscriminadamente. Assim é possível dar milho a uns pombos, calarem os urros e ameaças por uma temporada, sem garantia de que não retomem as ameaças em breve, e conseguir uma entrada por impostos, directos e indirectos, que compense o rombo daquela cedência.

Até aqui estivemos comentando os acontecimentos que se identificam com as exigências de uma parte dos assalariados. Mas os outros grupos, também dependentes de salário, estão atentos para aplicar as mesmas pressões. Sintomaticamente esta situação se identifica com as camadas mais propícias a serem incitadas, ou seja, aquilo que se denomina como a esquerda do leque social. Os seus representantes, sempre estão dispostos a negar as suas falsas convicções por umas moedas, ou mais solenemente por umas prebendas que não merecem nem fizeram méritos honestos para as justificar.

Estes teoricamente representantes da população trabalhadora, e mais os simpatizantes honestos, é que merecem se qualificados de esquerdalha, termo despectivo. ofensivo, que não se deve aplicar a quem simplesmente tenha no seu espírito a vocação de ser necessária uma extrema justiça social.

Mas não podemos deixar passar o contraponto, que justificará o identificar os grupos de pressão ligados ao poder e ao capital, que são como irmãos siameses, em conluio com as igrejas de massas. O sempre presente dinheiro, capital se preferirmos, comanda as decisões e dá, ou não, a sua aprovação às políticas governamentais. São os membros da direitalha que decidem o donde e como ir sacar mais dinheiro à população, para pagar aquele milho que se deu a alguns pombos.

Tanto em regimes capitalistas, como o nosso actualmente, como nos falidos socialistas ou comunistas, o esquema funcional é especular. Os truques são idênticos e sempre se baseiam na “compensação por serviços prestados”. O facto de que as remunerações anexas aos lugares de administrador ou equivalente, serem elevadas, correspondendo a muitos salários médios ou mínimos, não preocupa a quem distribui as regalias, pois ele também sabe que terá outra satrapia, possivelmente melhor, quando chegar a sua vez. Já tem o lugar reservado! Tampouco lhes tira o sono o montante de dinheiro que é distribuído entre as centenas, ou milhares, dos e que recebem para nada fazerem. Já fizeram! Se calhar algumas assinaturas.

A sociedade humana, para a definir de alguma forma, é maioritariamente vergonhosa. Razão tinha Diógenes quando passeava em pleno dia, com uma candeia acesa na mão, dizendo que procurava alguém honesto e ainda não o tinha encontrado. Os cínicos, realistas, afirmam, convictamente, que todos tem um preço. Uns vendem-se por dez réis de mel coado, e outros exigem mundos e fundos. Tenho pena de não ter sido eleito para merecer uma boa compensação. Quiçá noutra vida, se houver reencarnação em humano e não num animal, considerado mais irracional do que nós.

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