sábado, 18 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 8 As convicções


AS CONVICÇÕES MUDAM

Mudar não tem nada de extraordinário. Se admitirmos que as células que constituem o nosso corpo sofrem uma substituição, paulatina certamente, que faz com que, num periodo entre seis e oito anos, tudo o que constitui a nossa pessoa é novo. Permitam-me que duvide desta totalidade, sem ter razões sérias para duvidar, mas nem que sejam as células cerebrais que nos posibilitam ter memórias bastante afastadas do momento actual.

De igual modo admito, sem provas que me avalem, que os ossos, enquanto não sofrem a descalcificação da velhice, possam ter os mesmos componentes minerais que auferem desde a idade adulta. Mas aceito que existe uma renovação de tecidos Assim como que a sábia natureza, tal como se encarrega de manter funcionais os elementos essenciais, com novas equipas de substituição, também possibilita o nascimento de tumores que não tinhamos.

Se de facto assim é tampouco nos deve causar admiração que os nossos sentimentos, os nossos ódios e querenças, convicções em geral, que consideravamos estarem fixas “a pedra e cal”, já diferem bastante do que foram na década anterior. Não será na totalidade, pois deixariamos de ser o indivíduo que os outros conheceram, mas as alterações pode que se apreciem sem esforço. Socorrendo-me de uma frase célebre mutatis mutandis o classicismo nos avisa da necessidade de mudar ou actualizar para não perder a identidade.

Uma das situações, entre muitas, que pode empurrar as pessoas a mudar de convicções está no casamento, na vida em comum de dois seres estruturalmente diferentes e competencias fisiológicas muito diferentes, apesar de complementares. No caso, hoje normal, de a selecção de conjugue ser livre e dependente do ajustamento de características individuais dos futuros esposos, a vida em comum vai evidenciar, mais cedo ou mais tarde, da existência de convicções, manias, costumes, preceitos e uma longa lista de pequenas diferenças que, se se deixam crescer em importância, podem empurrar aquele casal para uma ruptura.

Nem sempre se chega a esta situação extrema. Mas para isso sabemos que um deles, ou ambos, tem que ceder nos pontos mais propícios a se tornarem fonte de conflitos. Quem conhecia com certa profundidade algum dos dois membros vai notando, com algum espanto, como as cedências que se fazem, em especial quando são mais numerosas num deles do que no outro, os descaracteriza. Dizemos que mudou muito, que está como o dia para a noite, que é um pau mandado, dominado pela outra parte. Nem sempre esta cedência é notória, de um nível alarmante, assim como há casais em que é ela que abdica da sua personalidade e noutros sucede o inverso.

As mudanças que citei são uma entre outras tantas possíveis, e que nem sempre se atribuem a factores tão determinados. Um exemplo que me ocorreu, e que me foi referido por um popular practicamente sem ilustração, digamos analfabeto, e que verifiquei estar compilado num volume de refões, diz Não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu . Alerta-nos de como mudam certas pesoas quando as voltas da vida os situam bastante acima da camada de onde vieram. Também se podem avaliar as mudanças de caracter dos que abjuram de um credo para outro; ou das que mudaram de partido. Em geral o neófito faz o possível e impossível para se mostrar mais pertinaz na defesa da nova filiação do que os veteranos. Isso se refere no ditado Mudam os ventos, mudam os pensamentos.

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