segunda-feira, 27 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES – 14 - Sonhar



Ao acordar perdemos sem recuperar

Sei que, como é normal acontecer e os estudos científicos efectuados sobre o sono dos humanos mostraram, practicamente sonho todas as noites. A testemunha que me acompanha no tálamo conjugal refere que muitas noites passo por fantasias inconsciêntes, involuntárias, tão agitadas que chega a temer pela sua integridade física, dado que é sumamente exagerado e violento é o entusiasmo com que esbracejo. Felizmente, até hoje, parece que tivemos sorte ou ela é sumamente hábil em esquivar os meus golpes de karaté.

A intensidade mental dos meus sonhos não tem, que eu possa apreciar, uns periodos concretos dentro do horário dedicado ao descanso nocturno. Mas é provável que siga os periodos que se identificaram com os voluntários que se pretaram a ser estudaos. Assim sendo devo ser Não sei mais activo nas fases REM, que dizem acontecerem por mais do que uma vez aolongo do sono, do que nas fases NaoREM, que os encefalogramas mostram ser mais tranquilas. Acordo em muitas ocasiões e naquelas alturas ainda mantenho os acontecimentos oníricos bastante presentes, se bem que dispersam-se no esquecimento com rapidez.

Mesmo assim, não é infrequente que um acordar, repentino, na madrugada, sinta o tema da última sessão muito vigente, e quando o assunto do sonho é do mau agrado fecho os olhos com uma intensa vontade de recuperar o fio da meada; de conseguir empalmar a cena interrompida e poder continuar numa linha de ficção que me satisfazia.

Hoje foi um destes dias. E conseguí manter na memória parte dos sucessos que estavam presentes naquela fantasia. Uma fantasia que, como é normal, ou usual, estava baseada em factos vividos anteriormente, mesmo que modificados com a inclusão de personagens inventadas e sem seguir uma cronologia que respeitasse, mínimanete, o que podia estar na origem daquela compexidade ficcional.

Recordo que as cenas estavam situadas num cenário que pretendia ser o retrato dos locais e ambientes que vivi na primeira fase da minha vida profissional. Mas nem todas as personagens eram reconhecíveis. Por exemplo, uma das cenas acontecia numa reunião de profissionais, todos eles desconhecidos, onde se deviam debater assuntos técnicos. Esta cena terminou rápidamente, e foi subsituída por outra personificada por uma senhora, elegante, educada e de excelente trato, com idade mais perto dos 40 do que dos 35, que se apresentou como sendo a delegada para as relações públicas. Mostrou ser de uma perspicácia e intuição pouco habituais, que deu azo a umas conversas a duo cheias de subentendidos, de trocadilhos levemente picantes, que me entusiamou de tal modo que, acordando súbitamente, fiz um esforço, tremendo, mas improficuo, para retomar o sono. Curioso o facto de que esta dama não correspondia, pelo menos não a fixei como identificável a nenhuma pessoa conhecida na vida real. Aceitei a perda com uma tristeza tal que me levou a recordar esta cena, o que raramente me sucede. Sentia que aquele diálogo, estilo Sit-com estava predestinado a dar pano para mangas.

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