Ao
acordar perdemos sem recuperar
Sei
que, como é normal acontecer e os estudos científicos efectuados
sobre o sono dos humanos mostraram, practicamente sonho todas as
noites. A testemunha que me acompanha no tálamo conjugal refere que
muitas noites passo por fantasias inconsciêntes, involuntárias, tão
agitadas que chega a temer pela sua integridade física, dado que é
sumamente exagerado e violento é o entusiasmo com que esbracejo.
Felizmente, até hoje, parece que tivemos sorte ou ela é sumamente
hábil em esquivar os meus golpes de karaté.
A
intensidade mental dos meus sonhos não tem, que eu possa apreciar,
uns periodos concretos dentro do horário dedicado ao descanso
nocturno. Mas é provável que siga os periodos que se identificaram
com os voluntários que se pretaram a ser estudaos. Assim sendo devo
ser Não sei mais activo nas fases REM, que dizem acontecerem por
mais do que uma vez aolongo do sono, do que nas fases NaoREM, que os
encefalogramas mostram ser mais tranquilas. Acordo em muitas ocasiões
e naquelas alturas ainda mantenho os acontecimentos oníricos
bastante presentes, se bem que dispersam-se no esquecimento com
rapidez.
Mesmo
assim, não é infrequente que um acordar, repentino, na madrugada,
sinta o tema da última sessão muito vigente, e quando o assunto do
sonho é do mau agrado fecho os olhos com uma intensa vontade de
recuperar o fio da meada; de conseguir empalmar a cena interrompida e
poder continuar numa linha de ficção que me satisfazia.
Hoje
foi um destes dias. E conseguí manter na memória parte dos sucessos
que estavam presentes naquela fantasia. Uma fantasia que, como é
normal, ou usual, estava baseada em factos vividos anteriormente,
mesmo que modificados com a inclusão de personagens inventadas e sem
seguir uma cronologia que respeitasse, mínimanete, o que podia estar
na origem daquela compexidade ficcional.
Recordo
que as cenas estavam situadas num cenário que pretendia ser o
retrato dos locais e ambientes que vivi na primeira fase da minha
vida profissional. Mas nem todas as personagens eram reconhecíveis.
Por exemplo, uma das cenas acontecia numa reunião de profissionais,
todos eles desconhecidos, onde se deviam debater assuntos técnicos.
Esta cena terminou rápidamente, e foi subsituída por outra
personificada por uma senhora, elegante, educada e de excelente
trato, com idade mais perto dos 40 do que dos 35, que se apresentou
como sendo a delegada para as relações públicas. Mostrou ser de
uma perspicácia e intuição pouco habituais, que deu azo a umas
conversas a duo cheias de subentendidos, de trocadilhos levemente
picantes, que me entusiamou de tal modo que, acordando súbitamente,
fiz um esforço, tremendo, mas improficuo, para retomar o sono.
Curioso o facto de que esta dama não correspondia, pelo menos não a
fixei como identificável a nenhuma pessoa conhecida na vida real.
Aceitei a perda com uma tristeza tal que me levou a recordar esta
cena, o que raramente me sucede. Sentia que aquele diálogo, estilo
Sit-com estava predestinado a
dar pano para mangas.
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