sexta-feira, 31 de julho de 2020

MEDITAÇÕES - O estado do terreiro


Não existe vacina contra a corrupção


Se o termo ”terreiro” for interpretado como referindo um espaço plano, amplo, onde a tropa possa afectuar as suas manobras com uma coreografia ao gosto dos seus comandantes, e os deixar preparados para desfilar pelas avenidas para pasmo dos cidadãos, então, neste caso, a proposta que deixo na mesa é mais ampla já que pretendo abranger todo o espaço, tanto físico como emocional, onde nos encontramos.


Imagino que existem dois temas que condicionam a nossa apreensão, um o de se temos que seguir, rigorosamente e sem hesitações todas as regras e normas de conduta que recomendam a fim de evitar ser caçados pelo vírus, seja de origem asiática, por serem comedores do tudo quanto ande, repte, voe ou nade, ou porque “nós” os progressistas humanos, proporcionamos, com a febre das deslocações rápidas e multitudinarias, a expansão global, quase que instantânea, do contágio.


Seja como for que isto se instalou e o grau de temor que cada um de nós mantêm no seu alerta, o facto é que aí está, e que nos dizem que pode levar um longo tempo até que a imunidade adquirida tenha algum efeito positivo.


O outro problema, sintomático e permanente na nossa sociedade,e para o qual nem sequer se procura descobrir uma “vacina”, e muito menos um tratamento drástico que o elimine de vez, é o da corrupção e facilidade com que, os dos de sempre, e mais os que se vão juntando ao longo dos anos, se enchem espoliando as arcas do estado. Desculpem o eufemismo com que refiro o que é, de facto, o dinheiro, o capital, que pertence a todos os cidadãos sem excepção.


O que torna este segundo problema como, aparentemente, insolúvel é o facto de que os cidadãos a quem lhes entregamos o poder de agir, de uma forma honesta e positiva, não cumprem este simples compromisso. Esta é uma constatação que humilha e desanima a qualquer cidadão inerme. Inerme porque não se sente com um mínimo de força para alterar este síndroma social.


Dada a extensão, praticamente geral, de carência de honradez patriótica, e que a sensatez nos diz pouco se ganharia com uma revolução interna, uma espécie de guerra civil, com a qual se pretendesse eliminar um problema congénito, humano, ao nível da reconhecido axioma que alerta para “A carne é fraca”. A voz da experiência vivida nos elucida de que o poder corrompe e quem não quer ser corrupto não aceita ter esta responsabilidade. Não se sente com força para resistir à multiplicidade de tentações de que será alvo. Mesmo “dentro de casa”.


Triste sina a dos humanos, que neste aspecto não conseguimos libertar-nos da mácula de antropófagos.



Para tirar um pouco de ferro a este escrito recordo uma gracinha, bem antiga, onde se pergunta “como se denomina um homem que come outro homem”. Pois é, a resposta imediata não tem prémio aceite aceite; a segunda, e valida, é antropófago.



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