Compagnons de route
Estamos numa fase da vida em que nos deparamos com uma encruzilhada
múltipla. Não nos debatemos entre o seguir em frente, escolher o caminho da direita ou o da esquerda -quero esclarecer que este
dilema, ou trilema, não está supeditado a questões
de política- uma vez que o tema deste escritio continua a estar
centrado na noção de amizade e amigos.
No léxico informal, que inclusive podiamos denominar de coloquial,
ou caseiro, o termo amigo pode actualmente abranger um leque de pessoas muito
heterogéneo, Com uma leviandade que não era habitual.
Historicamente, e coincidindo com a habitual simpatia da população
local, a amizade verdadeira reservava-se para um grupo de pessoas
bastante restrito. Um exemplo que todos conhecemos é o que denuncia
a frase incompleta que refere Amigos de Peniche... e alguns
rifões que versam neste mesmo tema:
- Amigo de mesa, não é de firmeza.
- Amigo certo, conhece-se na fortuna incerta.
-
Amigo de todos, amigo de nenhum, tudo é um,
-
Amigo só de chapéu.
No que respeita à má fama que parece se insinua sobre os naturais
de Peniche não recordo as possíveis razões que a possam
justificar. Mas penso que devem estar ligadas a feitos relativamente recentes da história de Portugal.
De momento só queria deixar uma adversão para a leviandade com que
hoje se chamam de “amigos” a pessoas que, mal se conhecem, e que
em muitas ocasiões nunca viram fisicamente, E é pouco provável que
esta carência se ultrapasse. No campo da política ou mesmo da
politiquice, aquilo que mais acontece é que passem a ser
considerados como amigos (?) pessoas que não passam de ser uns
companheiros de percurso, sem nenhumas garantias de que este
andamento conjunto tenha uma duração que, de facto, possa permitir
a entrega, sem condições exigentes, de entrar num círculo de
amigos, sempre restrito.
Mais curioso e actual é a tentativa de poder conseguir uma listagem
notória de nomes de pessoas, em geral totalmente desconhecidas, que
se incitam através dos recentes meios de comunicação “social”
que, com algum cinismo, podemos qualificar de tentativas de sair da
frustração do real isolamento em que as pessoas ficaram.
As mudanças de hábitos que se enquistaram na sociedade actual, em
que se muitos se colocaram, reclusos, voluntariamente em frente de um
computador, E com esta decisão se alterou o anterior hábito do convívio físico, presencial, em
cafés, clubes, grupos de políticos, de grupos corais, de literatos,
de excursionistas, de seguidores adeptos dum clube determinado, etc. Com o defeito comúm em muitos deles serem exclusivos a membros
masculinos, mesmo sem que os estatutos -.caso existam- o determinem.Muitas desta reuniões sociais, com presença humana,
desapareceram do mapa, e as poucas que ainda tem actividade efectiva
devem estar fora das grandes urbes, ou seguidas quase que exclusivamente por idosos.
Seja qual for a razão aquilo que é factual é que as pessoas cada
vez estão mais isoladas. Por vezes mesmo no seio de uma família
estruturada, pois é suficiente manter-se agarrado um computador
para estar como um Robinson Crusoe.
E depois orgulha-se de ter conseguido uma longa lista de nomes de
“amigos fictícios”.
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