segunda-feira, 20 de julho de 2020

MEDITAÇÕES – Tentar entender os outros



Será que os cidadãos não sentem vergonha?

Cada dia que passa somos alvo de comentários capciosos em que se insinua que somos, -digamos que Portugal na sua população e economia- abandonados à nossa sorte e capacidade para ultrapassar o mau momento económico que esta pandemia nos ofereceu. Dito de outra forma: Os países do centro europeu, tendo como porta-voz o representante dos Países Baixos, não avaliam positivamente, não confiam, pelo comportamento passado, presente e futuro dos nossos governantes quanto a compromissos a que se sujeitam as ajudas.

Concretamente, conhecem, melhor do que a maioria dos portugueses, como sempre se esbanjaram os fundos que desde Bruxelas nos foram entregando com o propósito -aqui temos as nossas dúvidas pessoais- de que servissem para efectuar uma modernização acelerada e abrangente, em muitos sectores fundamentais. E depois viram como as verbas que nos entregaram foram desaparecendo como areia seca nas mãos, sem que os resultados conseguidos alterassem a situação económica e social do País.

Não é o momento de discriminar os resultados conseguidos, ou não, em sectores fundamentais como o ensino básico, Ou como se abandonou a ferrovia em prol das auto-estradas. Nem sequer insinuar se houve inflação nas propostas a concursos e na sua implementação. Todos estes temas, e outros mais, foram longamente referidos nos meios de comunicação social e reservados. E inevitávelmente bem conhecidos e escalpelizados em Bruxelas.

Tampouco podemos admitir, de olhos fechados, que a falta de nitidez nas contas das despesas públicas seja uma característica exclusiva deste País onde vivemos. O capital tem artimanhas e caminhos escuros em outros muitos sítios. Inclusive em alguns que agora se mostram refractários a nos entregar importantes quantias para “equilibrar” a economia nacional. Seria difícil encontrar aquele que podia atirar a primeira pedra.

Já que estamos a levantar as lebres -que todos sabemos onde se encontram-, é de preceito referir que as condições que impunham aos países do sul da Europa, e neles estava incluído Portugal, um dos mais importantes e comprometidos era o de reconhecer que em muitos sectores do tecido produtivo nacional, apesar do favorável, por ser baixo, custo da mão de obra, produzíamos com preços não competitivos. E o Mercado Comum, base do acordo, nos empurrava a modernizar, fechar ou vender muitas das nossas indústrias. Comprando os seus produtos. Mesmo quando, progressivamente, os foram fabricando em países terceiros.

Tudo isto é conhecido, por nós e por eles, e o aproveitam para justificar que não somos um País com governos que mereçam confiança, Tanto no passado como no presente e para o futuro. Em outros tempos, quando os empréstimos à Coroa eram concedidos directamente por entidades independentes, que considerava-se serem usurários, as cláusulas que implicavam o retorno e os juros, eram de respeitar, pois as penalidades podiam ser insuperáveis.

Ignoro totalmente como os portugueses mais evoluídos culturalmente, avaliam esta situação, de banca-rota iminente, e as denúncias de sermos tratados como apestados sem razões que justifiquem (?). Ou será que sendo a população dos Países Baixos descendentes dos judeus que foram expulsos de Portugal para não cumprir as exigências aceites dos banqueiros quando se pediram vultuosos empréstimos. Quem sai aos seus não degenera. E sempre chega o momento da vingança!

Dentro do que os tesoureiros da UE sabem estão os processos, -possivelmente com o tradicional desfecho das águas de bacalhau- em que a Justiça Nacional se mostra incapaz de recuperar os enormes capitais malbaratados. Como podem confiar em nós?

Mudando o ponto de vista, proponho que nos façamos a pergunta mais simples: Se um caloteiro, já impenhorável, nos pedisse mais dinheiro, seja dado ou empresta-dado, ou nos negávamos sem possibilidade de acordo? Qual seria a nossa reacção?

Pessoalmente, pelo menos, sinto muita vergonha e inclusive admito que nos deixem afundar. Mais do que já sabemos. Pois muito se esconde.



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