Será que os cidadãos
não sentem vergonha?
Cada
dia que passa somos alvo de comentários capciosos em que se insinua
que somos, -digamos que Portugal na sua população e economia-
abandonados à nossa sorte e capacidade para ultrapassar o mau
momento económico que esta pandemia nos ofereceu. Dito de outra
forma: Os países do centro europeu, tendo como porta-voz o
representante dos Países Baixos, não avaliam positivamente, não
confiam, pelo comportamento passado, presente e futuro dos nossos
governantes quanto a compromissos a que se sujeitam as ajudas.
Concretamente,
conhecem, melhor do que a maioria dos portugueses, como sempre se
esbanjaram os fundos que desde Bruxelas nos foram entregando com o
propósito -aqui temos as nossas dúvidas pessoais- de que
servissem para efectuar uma modernização acelerada e abrangente, em
muitos sectores fundamentais. E depois viram como as verbas que nos
entregaram foram desaparecendo como areia seca nas mãos, sem que os
resultados conseguidos alterassem a situação económica e social do
País.
Não
é o momento de discriminar os resultados conseguidos, ou não, em
sectores fundamentais como o ensino básico, Ou como se abandonou a
ferrovia em prol das auto-estradas. Nem sequer insinuar se houve
inflação nas propostas a concursos e na sua implementação. Todos
estes temas, e outros mais, foram longamente referidos nos meios de
comunicação social e reservados. E inevitávelmente bem conhecidos
e escalpelizados em Bruxelas.
Tampouco
podemos admitir, de olhos fechados, que a falta de nitidez nas contas
das despesas públicas seja uma característica exclusiva deste País
onde vivemos. O capital tem artimanhas e caminhos escuros em outros
muitos sítios. Inclusive em alguns que agora se mostram refractários
a nos entregar importantes quantias para “equilibrar” a economia
nacional. Seria difícil encontrar aquele que podia atirar a primeira
pedra.
Já
que estamos a levantar as lebres -que todos sabemos onde se
encontram-, é de preceito referir que as condições que
impunham aos países do sul da Europa, e neles estava incluído
Portugal, um dos mais importantes e comprometidos era o de reconhecer
que em muitos sectores do tecido produtivo nacional, apesar do
favorável, por ser baixo, custo da mão de obra, produzíamos com
preços não competitivos. E o Mercado Comum, base do acordo, nos
empurrava a modernizar, fechar ou vender muitas das nossas
indústrias. Comprando os seus produtos. Mesmo quando,
progressivamente, os foram fabricando em países terceiros.
Tudo
isto é conhecido, por nós e por eles, e o aproveitam para
justificar que não somos um País com governos que mereçam
confiança, Tanto no passado como no presente e para o futuro. Em
outros tempos, quando os empréstimos à Coroa eram concedidos
directamente por entidades independentes, que considerava-se serem
usurários, as cláusulas que implicavam o retorno e os juros, eram
de respeitar, pois as penalidades podiam ser insuperáveis.
Ignoro
totalmente como os portugueses mais evoluídos culturalmente, avaliam
esta situação, de banca-rota iminente, e as denúncias de
sermos tratados como apestados sem razões que justifiquem (?). Ou
será que sendo a população dos Países Baixos descendentes dos
judeus que foram expulsos de Portugal para não cumprir as exigências
aceites dos banqueiros quando se pediram vultuosos empréstimos. Quem
sai aos seus não degenera. E sempre chega o momento da vingança!
Dentro
do que os tesoureiros da UE sabem estão os processos, -possivelmente
com o tradicional desfecho das águas de bacalhau- em que a
Justiça Nacional se mostra incapaz de recuperar os enormes capitais
malbaratados. Como podem confiar em nós?
Mudando
o ponto de vista, proponho que nos façamos a pergunta mais simples:
Se um caloteiro, já impenhorável, nos pedisse mais dinheiro, seja
dado ou empresta-dado, ou nos negávamos sem possibilidade de acordo?
Qual seria a nossa reacção?
Pessoalmente,
pelo menos, sinto muita vergonha e inclusive admito que nos deixem
afundar. Mais do que já sabemos. Pois muito se esconde.
Sem comentários:
Enviar um comentário