quinta-feira, 9 de julho de 2020

MEDITAÇÕES – Esquecimento conveniente.


A Curva de Gauss e a Pirâmide

Uma das mudanças mais profundas e contraproducentes que se tem verificado nas últimas décadas, -e já chegamos a uma centena delas-, é o do desprezo a que foi relegada a estatística humana, sob qualquer dos factores que se usam para classificar as pessoas, e a evolução dos países.

Infelizmente os humanos não podemos ser uniformizados. Por mais tentativas que se tenham feito, nos deparamos com uma realidade bastante prosaica. Quem tenha destilado vinho para obter aguardente sabe que quando começa a pingar o destilado, a primeira fracção, é de desprezar. Chamamos de “cabeça”. Não presta! E após destilar o álcool aromático desejado, aparecem outras fracções inaproveitáveis. São a “cauda”.

Qualquer população de objectos que se ponha em estudo, por mais uniformes que nos pareçam, ao serem ponderados verifica-se que sempre se distribuem obedecendo, graficamente, a uma curva com início quase nulo, que vai aumentando de elementos nas sucessivas medições até que atinge um máximo, e normalmente decresce com uma gradiente muito semelhante ao que teve quando cresceu.

Se separarmos as pessoas pela sua altura, ou peso, ou qualquer outra variável merecedora de atenção, como pode ser o seu poder económico, e representarmos os valores obtidos num gráfico onde as grupos parciais estejam em abcissas e os valores de cada parcela nas ordenadas, mais uma vez nos encontramos com a sempre presente Curva de Gauss.

Outro tipo de classificação estatística é o que corresponde à idade das pessoas. Em geral e por seguir um hábito, separam-se os elementos masculinos dos femininos. Mas os gráficos obtidos seguem a regra geral. MAS... surgiu uma diferença importante nas décadas mais recentes: a população com menos idade tem diminuído ano após ano (no meio dos países ocidentais ou ocidentalizados) enquanto o lado dos idosos já não segue o mesmo gradiente do lado dos jovens. Cada ano que passa o número de idosos, não produtivos e em consequência serem um peso na economia nacional, aumenta. A curva deixou de ser simétrica.

Outro gráfico interessante e que está sofrendo uma alteração pouco estável é o de representar em patamares o quantitativo da população que se encontra dentro de uma zona determinada de poder económico. Tradicionalmente esta representação é feita colocando os diferentes grupos em patamares horizontais sobrepostos, e centrados num eixo vertical, como os antigos palheiros. Sempre mostrou ter uma base bastante larga, onde estavam os dois ou três grupos com menos capacidade económica. Sobre estes patamares iam-se situando as camadas com maiores rendimentos, numa pirâmide aguçada, onde os membros dos andares superiores “esmagavam” os dos patamares mais baixos. Por mais que se tente a realidade é que este tipo de distribuição piramidal é eterna.

Mas a nova economia, baseada no consumismo induzido, só podia vingar se retirasse, nem que fosse aparentemente, com enganos de diversa índole, cidadãos das camadas inferiores dando-lhes a ilusão de que com o consumismo conseguiam subir na escala social. Como todas as tâcticas que se baseiam em enganos, em ilusões, fatalmente chegará o dia em que a publicidade enganosa com que se incentiva o consumo deixará de funcionar. A economia pessoal, ou familiar, não resistirá.

Uma das tâcticas, relativamente recente, mas a que os cidadãos já veteranos viram nascer e progredir, é o de incentivar a miragem de poder saltar degraus na escala através da educação “superior”. Os vendedores de “banha da cobra” desta época já não aparecem nas feiras com um microfone ao pescoço, coberto com um lenço para o defender dos gafanhotos, oferecendo isto e mais aquilo por uma nota de banco determinada. Hoje apregoam cursos sem saída profissional com que demasiados ilusos acreditaram conseguir um canudo de “doutor”. E depois de investir tempo e dinheiro (das suas famílias, que ansiavam ter um filho/a não operário) terminam desiludidos, com anos perdidos e empurrados a ter que aceitar trabalhos a prazo, mal pagos e sem um horizonte efectivo de progressão. No seio deste grupo de ludibriados sempre pode acontecer que algum tenha sorte e consiga singrar.

Entretanto os governantes que se sucederam com bandeiras diferentes, viram como as finanças nacionais continuavam a perder o pé. Optaram por vender, para fechar ou para outros explorar, as poucas empresas rentáveis ou que proporcionavam uma base para a industrialização do País. Esta situação é complexa e teve muitos implicados no desastre económico, e bolsos que se beneficiaram indevidamente. Qualquer pessoa atenta sabe dos factores e dos intervenientes que, sucessivamente, tem afundado Portugal.

E não acabou a desgraça...

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