A Curva de Gauss e a Pirâmide
Uma
das mudanças mais profundas e contraproducentes que se tem
verificado nas últimas décadas, -e
já chegamos a uma centena delas-, é o do desprezo a que
foi relegada a estatística humana, sob qualquer dos factores que se
usam para classificar as pessoas, e a evolução dos países.
Infelizmente
os humanos não podemos ser uniformizados. Por mais tentativas que se
tenham feito, nos deparamos com uma realidade bastante prosaica. Quem
tenha destilado vinho para obter aguardente sabe que quando começa a
pingar o destilado, a primeira fracção, é de desprezar. Chamamos
de “cabeça”. Não presta! E após destilar o álcool aromático
desejado, aparecem outras fracções inaproveitáveis. São a
“cauda”.
Qualquer
população de objectos que se ponha em estudo, por mais uniformes
que nos pareçam, ao serem ponderados verifica-se que sempre se
distribuem obedecendo, graficamente, a uma curva com início quase
nulo, que vai aumentando de elementos nas sucessivas medições até
que atinge um máximo, e normalmente decresce com uma gradiente muito
semelhante ao que teve quando cresceu.
Se
separarmos as pessoas pela sua altura, ou peso, ou qualquer outra
variável merecedora de atenção, como pode ser o seu poder
económico, e representarmos os valores obtidos num gráfico onde as
grupos parciais estejam em abcissas e os valores de cada parcela nas
ordenadas, mais uma vez nos encontramos com a sempre presente Curva
de Gauss.
Outro
tipo de classificação estatística é o que corresponde à idade
das pessoas. Em geral e por seguir um hábito, separam-se os
elementos masculinos dos femininos. Mas os gráficos obtidos seguem a
regra geral. MAS... surgiu uma diferença importante nas décadas
mais recentes: a população com menos idade tem diminuído ano após
ano (no meio dos países ocidentais ou ocidentalizados)
enquanto o lado dos idosos já não segue o mesmo gradiente do lado
dos jovens. Cada ano que passa o número de idosos, não
produtivos e em consequência serem um peso na economia nacional,
aumenta. A curva deixou de ser simétrica.
Outro
gráfico interessante e que está sofrendo uma alteração pouco
estável é o de representar em patamares o quantitativo da população
que se encontra dentro de uma zona determinada de poder económico.
Tradicionalmente esta representação é feita colocando os
diferentes grupos em patamares horizontais sobrepostos, e centrados
num eixo vertical, como os antigos palheiros. Sempre mostrou ter uma
base bastante larga, onde estavam os dois ou três grupos com menos
capacidade económica. Sobre estes patamares iam-se situando as
camadas com maiores rendimentos, numa pirâmide aguçada, onde os
membros dos andares superiores “esmagavam” os dos patamares mais
baixos. Por mais que se tente a realidade é que este tipo de
distribuição piramidal é eterna.
Mas
a nova economia, baseada no consumismo induzido, só podia vingar se
retirasse, nem que fosse aparentemente, com enganos de diversa
índole, cidadãos das camadas inferiores dando-lhes a ilusão de que
com o consumismo conseguiam subir na escala social. Como todas as
tâcticas que se baseiam em enganos, em ilusões, fatalmente chegará
o dia em que a publicidade enganosa com que se incentiva o consumo
deixará de funcionar. A economia pessoal, ou familiar, não
resistirá.
Uma
das tâcticas, relativamente recente, mas a que os cidadãos já
veteranos viram nascer e progredir, é o de incentivar a miragem de
poder saltar degraus na escala através da educação “superior”.
Os vendedores de “banha da cobra” desta época já não aparecem
nas feiras com um microfone ao pescoço, coberto com um lenço para o
defender dos gafanhotos, oferecendo isto e mais aquilo por uma nota
de banco determinada. Hoje apregoam cursos sem saída profissional
com que demasiados ilusos acreditaram conseguir um canudo de
“doutor”. E depois de investir tempo e dinheiro (das
suas famílias, que ansiavam ter um filho/a não operário)
terminam desiludidos, com anos perdidos e empurrados a ter que
aceitar trabalhos a prazo, mal pagos e sem um horizonte efectivo de
progressão. No seio deste grupo de ludibriados sempre pode acontecer
que algum tenha sorte e consiga singrar.
Entretanto
os governantes que se sucederam com bandeiras diferentes, viram como
as finanças nacionais continuavam a perder o pé. Optaram por
vender, para fechar ou para outros explorar, as poucas empresas
rentáveis ou que proporcionavam uma base para a industrialização
do País. Esta situação é complexa e teve muitos implicados no
desastre económico, e bolsos que se beneficiaram indevidamente.
Qualquer pessoa atenta sabe dos factores e dos intervenientes que,
sucessivamente, tem afundado Portugal.
E
não acabou a desgraça...
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