sábado, 11 de julho de 2020

MEDITAÇÕES – A mensagem implícita




Acerca da pirâmide social

Tentarei ser breve, porque hoje é sábado, e como se diz em castelhano: Sábado sabadete, camisa lavada y un polvete.

Não traduzo porque é do nível da picardia. Corresponde ao facto de que o sábado é um dia especial e refere uma forma de celebrar a folga por parte dos que estão nos patamares inferiores.

E aqui quero insistir na importância, evidente, da estratificação social, Raramente é explicada, por ser inconveniente. Os patamares inferiores são como os alicerces dum edifício. Conferem estabilidade aos patamares superiores. Sem uns bons alicerces, consolidados e sem problemas, não é possível erguer uma estrutura pesada. Daí que quanto mais alta for a pirâmide, mais esconde a distância económica, e por arrastamento também social, que existe entre os habitantes das zonas inferiores comparativamente com os dos patamares de topo.

Convêm salientar que o termo habitantes não é equivalente ao de cidadãos de pleno direito. Os imigrantes “clandestinos” constituem uma parcela importante da população que está nos patamares inferiores da real pirâmide, embora os que se encontram nos planos superiores façam o possível para “esquecer” este grupo de suporte.

Um exemplo que por estar fora das nossas fronteiras nos é permitido referir sem que nos acusem de ofender, é a existência e utilização de clandestinos no EUA. Indispensáveis para executar tarefas, esgotantes e mal remuneradas, que só os “brancos” mais degradados aceitam.

Desde tempos imemoriais, inclusive antes da história documentada, os escravos, caçados nas lutas entre tribos rivais, forneciam mão de obra gratuita. Apesar das modulações de cariz social evolutivo já conseguidas, a estratificação social continua a estar presente, e indispensável.

Alguns educados progressistas, instalados nos patamares cómodos, preocupam-se, quase sempre teoricamente e não factualmente, com a situação inaceitável dos elementos que se encontram “atados” nos patamares do alicerce da estrutura. Após espremer as suas meninges e querendo dispor dos avanços tecnológicos -que muitos se deram ao procurar realizar algumas profecias de romancistas e autores de banda desenhada- encontraram, ou pensaram ter encontrado, a solução para este problema social.

E assim chegou-se (?) à concepção e utilização de mecanismos robotizados, que podiam realizar tarefas perigosas, repetitivas ou extremamente desagradáveis, substituindo o homem. A programação informática, em conjunção com a mecânica e electrónica, já conseguiram muitos resultados positivos. Notáveis e espectaculares. Desde a apanha de frutos até o envio de veículos espaciais sem tripulantes, incluindo viaturas sem condutor que se desloquem e recolhem amostras do solo em astros onde o homem não pode sobreviver.

EUREKA ! Já podemos dispensar os nefastos patamares inferiores da pirâmide.! A partir de agora é continuar neste caminho da automatização, aceleradamente, e começar a estrutura a partir do chão, sem afundar pessoas nos alicerces.

UTOPIA ! E como tal não é factível, pelo menos por enquanto.

Recordo, a propósito, a tal fábula de como, num congresso de ratos, se descobriu o modo de os precaver do gato: bastava colocar um guizo ao pescoço do felino, e assim, quando ele se aproximasse para os caçar, dava o alerta. Só que ficou um problema: Quem seria o valente de penduraria o guizo no pescoço do gato?

Dito de outra forma: Por mais que se avance na automatização, nos robots se preferirmos, sempre restarão tarefas que carecerão de mãos humanas para serem executadas. A solução seguinte, já imaginada, seria a de gerar humanoides, que seriam os fazedores silenciosos e não exigentes para labutar nos alicerces dissimulados.

1 comentário:

  1. O que não diz é que agora, na época da globalização, as pirámides não são nacionáis, são internacionáis.
    Dito d'outra maneira, na base da pirámide não estão só os cidadãos que vivem, legal ou ilegalmente, num pais mas também os dos outros, pois o sistema de produção e de consumo deixou de ser nacional.

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