Acerca da pirâmide
social
Tentarei ser breve,
porque hoje é sábado, e como se diz em castelhano: Sábado
sabadete, camisa lavada y un polvete.
Não
traduzo porque é do nível da picardia. Corresponde ao facto de que
o sábado é um dia especial e refere uma forma de celebrar a folga
por parte dos que estão nos patamares inferiores.
E
aqui quero insistir na importância, evidente, da estratificação
social, Raramente é explicada, por ser inconveniente. Os patamares
inferiores são como os alicerces dum edifício. Conferem
estabilidade aos patamares superiores. Sem uns bons alicerces,
consolidados e sem problemas, não é possível erguer uma estrutura
pesada. Daí que quanto mais alta for a pirâmide, mais esconde a
distância económica, e por arrastamento também social, que existe
entre os habitantes das zonas inferiores comparativamente com os dos
patamares de topo.
Convêm
salientar que o termo habitantes não é equivalente ao de cidadãos
de pleno direito. Os imigrantes “clandestinos” constituem uma
parcela importante da população que está nos patamares inferiores
da real pirâmide, embora os que se encontram nos planos superiores
façam o possível para “esquecer” este grupo de suporte.
Um
exemplo que por estar fora das nossas fronteiras nos é permitido
referir sem que nos acusem de ofender, é a existência e utilização
de clandestinos no EUA. Indispensáveis para executar tarefas,
esgotantes e mal remuneradas, que só os “brancos” mais
degradados aceitam.
Desde
tempos imemoriais, inclusive antes da história documentada, os
escravos, caçados nas lutas entre tribos rivais, forneciam mão de
obra gratuita. Apesar das modulações de cariz social evolutivo já
conseguidas, a estratificação social continua a estar presente, e
indispensável.
Alguns
educados progressistas, instalados nos patamares cómodos,
preocupam-se, quase sempre teoricamente e não factualmente, com a
situação inaceitável dos elementos que se encontram “atados”
nos patamares do alicerce da estrutura. Após espremer as suas
meninges e querendo dispor dos avanços tecnológicos -que
muitos se deram ao procurar realizar algumas profecias de romancistas
e autores de banda desenhada- encontraram,
ou pensaram ter encontrado, a solução para este problema social.
E
assim chegou-se (?) à concepção e utilização de mecanismos
robotizados,
que podiam realizar tarefas perigosas, repetitivas ou extremamente
desagradáveis, substituindo o homem. A programação informática,
em conjunção com a mecânica e electrónica, já conseguiram muitos
resultados positivos. Notáveis e espectaculares. Desde a apanha de
frutos até o envio de veículos espaciais sem tripulantes, incluindo
viaturas sem condutor que se desloquem e recolhem amostras do solo em
astros onde o homem não pode sobreviver.
EUREKA
! Já podemos dispensar os nefastos patamares inferiores da
pirâmide.! A partir de agora é continuar neste caminho da
automatização, aceleradamente, e começar a estrutura a partir do
chão, sem afundar pessoas nos alicerces.
UTOPIA
! E como tal não é factível, pelo menos por enquanto.
Recordo,
a propósito, a tal fábula de como, num congresso de ratos, se
descobriu o modo de os precaver do gato: bastava colocar um guizo ao
pescoço do felino, e assim, quando ele se aproximasse para os caçar,
dava o alerta. Só que ficou um problema: Quem seria o valente de
penduraria o guizo no pescoço do gato?
Dito
de outra forma: Por mais que se avance na automatização, nos robots
se preferirmos, sempre restarão tarefas que carecerão de mãos
humanas para serem executadas. A solução seguinte, já imaginada,
seria a de gerar humanoides,
que seriam os fazedores silenciosos e não exigentes para labutar nos
alicerces dissimulados.
O que não diz é que agora, na época da globalização, as pirámides não são nacionáis, são internacionáis.
ResponderEliminarDito d'outra maneira, na base da pirámide não estão só os cidadãos que vivem, legal ou ilegalmente, num pais mas também os dos outros, pois o sistema de produção e de consumo deixou de ser nacional.