quarta-feira, 10 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Uma situação previsível




A tentação de ver a marcha passar

Poucos minutos atrás comentava sobre o nosso futuro, preocupado e pesaroso. Pensando mais nos que se manterão vivos do que nos que fecharão os olhos (ou lhos fecharão com uma pesada moeda...) em função da inexorável término da vida.

São bastantes aqueles que ponderam com bastante receio o que nos espera quando se ultrapassar esta pandemia. Mesmo que sonhemos com a possibilidade de que a vida recupere a mesma despreocupação e leviandade no comportamento individual, coisa pouco provável apesar de desejável. O que não podemos esquecer é o peso que a economia nacional terá sobre a economia pessoal de muitos cidadãos, mesmo que seja imperioso reconhecer que serão bastantes aqueles que conseguirão fazer boas pescarias em águas turvas e mar alteroso.

A dívida pública aumenta de hora em hora, sem um horizonte de recuperação, nem sequer de uma possível ajuda importante vinda de parceiros ou de alguma economia boiante -a não ser que a China se ofereça para comprar Portugal por atacado. Figas, canhoto!!- O desemprego será notável, e os subsídios pessoais perderão, paulatinamente, parte do seu valor em função da inevitável inflação. Há quem defina o futuro, com bases históricas e actualizadas, como uma bancarrota iminente.

Virando a página, e repetindo o que deixei escrito no Fb, o campo da política ficará quase totalmente disponível para toda a espécie de demagogos extremistas. Que sempre derivaram para os tristemente conhecidos anarquistas-comunistas ou conservadores-fascistas. Não importa o nome que hoje tomarem, por livre baptismo, o que se deve temer é a deriva fatal que os conduz para comportamentos não democráticos.

O que mais lamento nesta futurologia é que os culpados para esta via extremista são sempre as pessoas comuns, os que preferem ver passar os desfiles e as multidões ululantes, nem que seja atrás dos vidros e com cortinas translucidas que não os identifiquem. Somos (e claramente me defino como tal) a base da sociedade respeitadora, os que sustentam a convivência e a solidariedade. Os que não aceitam, mas fecham-se no resguardo das suas quatro paredes, quando viram que alguém, fosse familiar, amigo, conhecido o desconhecido, era preso por não comungar com os que tomaram o poder discriminatório e sem dúvida ditatorial.

Pode parecer uma situação, mesmo que hipotética mas já verificada em demasiadas ocasiões, fácil de neutralizar logo de início, e até sem ter que agir com derrame de sangue.

Portugal, cuja população se qualifica como ser de “gente tranquila e respeitadora”, recordamos que esteve a poucos passos de participar na luta entre os dois sistemas de poder vigentes na altura, concretamente entre capitalismo e comunismo. Aquela fuga para o ocidente pareceu que foi conseguida quase que “por obra e graça do Espírito Santo”. Não foi assim. Os EUA enviaram para aqui um embaixador Carlucci, sabedor das artes e manhas do jogo subterrâneo que, com manobras hoje não totalmente conhecidas pela população em geral (que não quer saber, nem se interessa...) conseguiu, não sabemos com que cedências em troca (pois a política sempre comportou uma boa dose de negócio mundano) assegurar a colaboração mútua com o partido socialista português, já em vias de ficar desnatadado (diz-se que metendo o socialismo na gaveta) como compensação, para que fosse aceite como parceiro, com este a neutralização dos extremistas da bandeira vermelha.

Curiosamente muitas vezes é esquecida a importância que os conservadores a norte do famoso sistema orográfico de Montejunto-Estrela. Sempre acompanhados pela Igreja Católica que nesta zona mantinha uma notável influência sobre a população. E que ainda mantêm, em menos grau.

Na fase actual, em que os sectores contestatários não se identificam propriamente com o PCP e seus derivados, a demagogia cativante está num aparente questionar acerrimamente a governação, ambígua por não ser totalmente esquerdista (felizmente) nem se negar ao capitalismo de que depende para sobreviver.

Uma zona de caça social que foi bem utilizada, com êxito incontestável, por Mussolini primeiro e depois por Hitler. Salazar sempre se notabilizou por saber nadar e guardar a roupa (sem nunca entrar nas águas frias e alterosas. Agora se noticiou que foi numa banheira que derrapou e quebrou a cabeça...) Franco, um imitador sem preconceitos de seguir as regras alheias, utilizou o fascismo quando lhe convinha, manteve a sua ditadura militar e pessoal até morrer, mas, além de ter o braço mumificado de Teresa Cepeda no sue leito de agonia, teve que beijar a mão dos EUA.

Retomando o fio da conversa: Como admito que entre os cidadãos sérios e respeitáveis alguns cairão na conversa dos demagogos, o resto nada fará, por medo ou acanhamento, para tentar evitar um renascer de ditadura. Ver veremos, como se diz que disse o cego.



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