A
tentação de ver a marcha passar
Poucos minutos atrás comentava
sobre o nosso futuro, preocupado e pesaroso. Pensando mais nos que se
manterão vivos do que nos que fecharão os olhos (ou
lhos fecharão com uma pesada moeda...) em função da
inexorável término da vida.
São bastantes aqueles que ponderam
com bastante receio o que nos espera quando se ultrapassar esta
pandemia. Mesmo que sonhemos com a possibilidade de que a vida
recupere a mesma despreocupação e leviandade no comportamento
individual, coisa pouco provável apesar de desejável. O que não
podemos esquecer é o peso que a economia nacional terá sobre a
economia pessoal de muitos cidadãos, mesmo que seja imperioso
reconhecer que serão bastantes aqueles que conseguirão fazer boas
pescarias em águas turvas e mar alteroso.
A dívida pública aumenta de hora
em hora, sem um horizonte de recuperação, nem sequer de uma
possível ajuda importante vinda de parceiros ou de alguma economia
boiante -a não ser que a
China se ofereça para comprar Portugal por atacado. Figas,
canhoto!!- O desemprego será notável, e os subsídios
pessoais perderão, paulatinamente, parte do seu valor em função da
inevitável inflação. Há quem defina o futuro, com bases
históricas e actualizadas, como uma bancarrota iminente.
Virando a página, e repetindo o que
deixei escrito no Fb, o campo da política ficará quase totalmente
disponível para toda a espécie de demagogos extremistas. Que sempre
derivaram para os tristemente conhecidos anarquistas-comunistas ou
conservadores-fascistas. Não importa o nome que hoje tomarem, por
livre baptismo, o que se deve temer é a deriva fatal que os conduz
para comportamentos não democráticos.
O que mais lamento nesta futurologia
é que os culpados para esta via extremista são sempre as pessoas
comuns, os que preferem ver passar os desfiles e as multidões
ululantes, nem que seja atrás dos vidros e com cortinas translucidas
que não os identifiquem. Somos (e
claramente me defino como tal) a base da sociedade
respeitadora, os que sustentam a convivência e a solidariedade. Os
que não aceitam, mas fecham-se no resguardo das suas quatro paredes,
quando viram que alguém, fosse familiar, amigo, conhecido o
desconhecido, era preso por não comungar com os que tomaram o poder
discriminatório e sem dúvida ditatorial.
Pode parecer uma situação, mesmo
que hipotética mas já verificada em demasiadas ocasiões, fácil de
neutralizar logo de início, e até sem ter que agir com derrame de
sangue.
Portugal, cuja população se
qualifica como ser de “gente tranquila e respeitadora”,
recordamos que esteve a poucos passos de participar na luta entre os
dois sistemas de poder vigentes na altura, concretamente entre
capitalismo e comunismo. Aquela fuga para o ocidente pareceu que foi
conseguida quase que “por obra e graça do Espírito Santo”. Não
foi assim. Os EUA enviaram para aqui um embaixador Carlucci, sabedor
das artes e manhas do jogo subterrâneo que, com manobras hoje não
totalmente conhecidas pela população em geral (que
não quer saber, nem se interessa...) conseguiu, não
sabemos com que cedências em troca (pois
a política sempre comportou uma boa dose de negócio mundano)
assegurar a colaboração mútua com o partido socialista português,
já em vias de ficar desnatadado (diz-se
que metendo o socialismo na gaveta) como compensação,
para que fosse aceite como parceiro, com este a neutralização dos
extremistas da bandeira vermelha.
Curiosamente muitas vezes é
esquecida a importância que os conservadores a norte do famoso
sistema orográfico de Montejunto-Estrela. Sempre acompanhados pela
Igreja Católica que nesta zona mantinha uma notável influência
sobre a população. E que ainda mantêm, em menos grau.
Na fase actual, em que os sectores
contestatários não se identificam propriamente com o PCP e seus
derivados, a demagogia cativante está num aparente questionar
acerrimamente a governação, ambígua por não ser totalmente
esquerdista (felizmente) nem se negar ao capitalismo de que
depende para sobreviver.
Uma zona de caça social que foi bem
utilizada, com êxito incontestável, por Mussolini primeiro e depois
por Hitler. Salazar sempre se notabilizou por saber nadar e
guardar a roupa (sem
nunca entrar nas águas frias e alterosas. Agora se noticiou que foi
numa banheira que derrapou e quebrou a cabeça...) Franco,
um imitador sem preconceitos de seguir as regras alheias, utilizou o
fascismo quando lhe convinha, manteve a sua ditadura militar e
pessoal até morrer, mas, além de ter o braço mumificado de Teresa
Cepeda no sue leito de agonia, teve que beijar a mão dos EUA.
Retomando o fio da conversa: Como
admito que entre os cidadãos sérios e respeitáveis alguns cairão
na conversa dos demagogos, o resto nada fará, por medo ou
acanhamento, para tentar evitar um renascer de ditadura. Ver veremos,
como se diz que disse o cego.
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