domingo, 21 de junho de 2020

MEDITAÇÕES - Violência racial



A difusão de eventos negativos

Embora todos partilhamos na qualificação imediata das pessoas com que nos cruzamos em função de factores congénitos, aos que, por pressão atávica lhes atribuímos características de rejeição, reconhecemos, quando pensamos analiticamente, que esta adversão nem sempre está justificada.

Julgo, eu, que são muitos os cidadãos que, instintivamente, receamos do comportamento daqueles que avaliamos, num primeiro olhar, como diferentes e daí com possibilidades de serem perigosos. Uma situação que por ser de reacção impensada só se pode anular por meio do raciocino.

Por um daqueles azares que acontecem na sociedade, com bastante frequência, a sociedade global está hoje submetida a duas situações de calamidade potencial, e que, sem dúvida, a difusão dada pelos meios de comunicação, tanto os clássicos (em declínio) como os mais recentes (em expansão) colaboram negativamente na geração e propagação de incitações para comportamentos errados.

Se no que corresponde ao alarme e cuidados, nem sempre cumpridos para nos tentar afastar dos perigos de contágio pelo vírus actual, é de admitir que quase todos estamos sabedores das recomendações que nos são enviadas. Que o comportamento oficial nem sempre nos parece ser coerente com as recomendações é outra faceta desta situação.

Mas sente-se no ar, precisamente pelo perigo de contágio ou de imitação do que nos é noticiado, que aquele convívio pluriracial (1), de que tanto nos orgulhávamos, está em risco de se quebrar. Um orgulho excessivo e até irreal, pois com esta fantasia de convivência aberta e total escondíamos as rejeições instintivas, efectivas, que sempre existiram nas sociedades humanas.

Admite-se que o aumento da cultura geral -Que verificamos não coincidir exactamente com o caracter “enciclopédico” que se lhe atribuía antes da invasão da informática, sempre mais selectiva- é o caminho a trilhar com melhores possibilidades de possibilitar uma progressiva integração dos sectores tradicionalmente marginalizados. Até agora admite-se ser débil percentagem de indivíduos que conseguem subir degraus na escala social. Mesmo assim acontece com mais frequência. Ou aconteceu até a pandemia, que promete vir a levar ao desemprego mais gente do que já era habitual.

Mas, dentro deste capítulo dos sectores marginalizados, surge o perigo da imitação aos motins de tipo racial que se tem espalhado no mundo, tradicionalmente denominado como ocidental. Começando pelos EUA, que por razões históricas tem no seu seio um volumoso sector de descendentes de escravos, hoje com nacionalidade equivalente, em principio, com a dos descendentes dos brancos, igualmente invasores daquele enorme território. Mas com a característica negativa de que entre os afro-americanos o índice de pobreza e incultura é muito elevado.

Esta situação, inegável e com uma magnitude que ultrapassa as capacidades económicas dos EUA para a poder alterar, sempre esteve em risco de explodir em revolta incontrolável por algum acontecimento nada inusual, mas sempre reprovável. O inusitado que nos deparamos é que os protestos, sejam simplesmente manifestações pacíficas ou violentas, com assaltos, agressões e roubos, já alastraram para a Europa, apesar de que as sociedade locais não seguiram os mesmos trilhos de comportamento do que as dois estados sulistas dos EUA. E, curiosamente, o facto de nestas manifestações de protesto, sempre predisposto à violência, se incorporem indivíduos de pele clara, contestatários do sistema e apoiantes dos revoltados, em nada alteraram o sentimento de agressividade reinante entre os afro-descendentes.

O perigo de imitação, de incitação a confrontos de massas, não é de temer hoje em Portugal. Mas existe latente em muitos bairros “marginais” e em muitas mentes de indivíduos que, por razões ou sem elas, se consideram mal tratados pelos naturais dos países onde se introduziram. No dia menos esperado podemos ver nascer a sua intifada.

Não creio que esta possível, mas indesejada, revolução social se possa neutralizar antes de acontecer. Pelo menos não acredito que os bons argumentos e atitudes conciliadoras possam anular os azedumes já existentes.

(1) ainda não nos habituamos a retirar da linguagem os termos que derivam das pretensas raças humanas. Lá chegaremos. Espero.


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