A
difusão de eventos negativos
Embora
todos partilhamos na qualificação imediata das pessoas com que nos
cruzamos em função de factores congénitos, aos que, por pressão
atávica lhes atribuímos características de rejeição,
reconhecemos, quando pensamos analiticamente, que esta adversão nem
sempre está justificada.
Julgo,
eu, que são muitos os cidadãos que, instintivamente, receamos do
comportamento daqueles que avaliamos, num primeiro olhar, como
diferentes e daí com possibilidades de serem perigosos. Uma situação
que por ser de reacção impensada só se pode anular por meio do
raciocino.
Por
um daqueles azares que acontecem na sociedade, com bastante
frequência, a sociedade global está hoje submetida a duas
situações de calamidade potencial, e que, sem dúvida, a
difusão dada pelos meios de comunicação, tanto os clássicos (em
declínio) como os mais recentes (em expansão) colaboram
negativamente na geração e propagação de incitações para
comportamentos errados.
Se
no que corresponde ao alarme e cuidados, nem sempre cumpridos para
nos tentar afastar dos perigos de contágio pelo vírus actual, é de
admitir que quase todos estamos sabedores das recomendações que nos
são enviadas. Que o comportamento oficial nem sempre nos parece ser
coerente com as recomendações é outra faceta desta situação.
Mas
sente-se no ar, precisamente pelo perigo de contágio ou de imitação
do que nos é noticiado, que aquele convívio pluriracial (1), de que
tanto nos orgulhávamos, está em risco de se quebrar. Um orgulho
excessivo e até irreal, pois com esta fantasia de convivência
aberta e total escondíamos as rejeições instintivas, efectivas,
que sempre existiram nas sociedades humanas.
Admite-se
que o aumento da cultura geral -Que
verificamos não coincidir exactamente com o caracter “enciclopédico”
que se lhe atribuía antes da invasão da informática, sempre mais
selectiva- é o caminho a trilhar com melhores
possibilidades de possibilitar uma progressiva integração dos
sectores tradicionalmente marginalizados. Até agora admite-se
ser débil percentagem de indivíduos que conseguem subir degraus na
escala social. Mesmo assim acontece com mais frequência. Ou
aconteceu até a pandemia, que promete vir a levar ao desemprego mais
gente do que já era habitual.
Mas,
dentro deste capítulo dos sectores marginalizados, surge o perigo da
imitação aos motins de tipo racial que se tem espalhado no mundo,
tradicionalmente denominado como ocidental. Começando pelos EUA, que
por razões históricas tem no seu seio um volumoso sector de
descendentes de escravos, hoje com nacionalidade equivalente, em
principio, com a dos descendentes dos brancos, igualmente invasores
daquele enorme território. Mas com a característica negativa de que
entre os afro-americanos o índice de pobreza e incultura é muito
elevado.
Esta
situação, inegável e com uma magnitude que ultrapassa as
capacidades económicas dos EUA para a poder alterar, sempre esteve
em risco de explodir em revolta incontrolável por algum
acontecimento nada inusual, mas sempre reprovável. O inusitado que
nos deparamos é que os protestos, sejam simplesmente manifestações
pacíficas ou violentas, com assaltos, agressões e roubos, já
alastraram para a Europa, apesar de que as sociedade locais não
seguiram os mesmos trilhos de comportamento do que as dois estados
sulistas dos EUA. E, curiosamente, o facto de nestas manifestações
de protesto, sempre predisposto à violência, se incorporem
indivíduos de pele clara, contestatários do sistema e apoiantes dos
revoltados, em nada alteraram o sentimento de agressividade reinante
entre os afro-descendentes.
O
perigo de imitação, de incitação a confrontos de massas, não é
de temer hoje em Portugal. Mas existe latente em muitos bairros
“marginais” e em muitas mentes de indivíduos que, por razões ou
sem elas, se consideram mal tratados pelos naturais dos países onde
se introduziram. No dia menos esperado podemos ver nascer a sua
intifada.
Não
creio que esta possível, mas indesejada, revolução social se possa
neutralizar antes de acontecer. Pelo menos não acredito que os bons
argumentos e atitudes conciliadoras possam anular os azedumes já
existentes.
(1)
ainda não nos habituamos a
retirar da linguagem os termos que derivam das pretensas raças
humanas. Lá chegaremos. Espero.
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