Nem
oito nem oitenta
Numa
reacção extensiva perante o enésimo crime racista acontecido nos
USA, vimos como já afectou uma data de países em mais do que um só
continente. Até o momento as manifestações de repúdio não
conduziram a mais vítimas. Desatou-se sim uma extensiva protesta com
marchas de multidões onde participaram indivíduos de tipologias
diferentes.
A
contestação derivou da alegação de segregacionismo e maus tratos
às pessoas com cor da pele diferente do que se chama de “raça
branca”. O protesto chegou a ter como alvo certas pessoas, em geral
já falecidas, que foram homenageadas por serem recordados por acções
louváveis, por vezes com placas ou estátuas colocadas em locais
públicos. Os activistas alegando que na biografia de certos próceres
se eliminaram acções (hoje) reprováveis, mas correntes enquanto
vivos, tomaram a iniciativa de derrubar ou emporcalhar estes
símbolos, que durante anos mereceram ser respeitados.
Não
podemos aplaudir as irreverências e desmandos, mas tampouco é
correcto fechar os olhos quanto a acções deploráveis, não só
pelos que mesmo na época em que aconteceram e eram consentidos
legalmente, foram denunciados, mesmo que por um número reduzido de
cidadãos Pessoas que podemos considerar além de precursoras na
promoção da igualdade de direitos e deveres de TODOS os humanos, e
até, extensivamente, a animais quando maltratados abusivamente por
energúmenos que se julgam pessoas “de bem”.
Como
céptico militante surgiram-me na memória as barbaridades que, mesmo
neste cantinho da Europa, se fizeram sobre cidadãos cujas faltas,
muitas vezes difamatórias sem fundamento e, quase sempre incitadas
por uma visão extremista da doutrina religiosa, inclusive permitia,
ocultamente, propósitos políticos ou vinganças pessoais por parte
dos decisores das penas. As últimas execuções públicas foram
“ontem” já no reinado de D. João V e do Ministro Sebastião e
Melo.
O
derrubar uma estátua, mesmo que os argumentos correspondam a
comportamentos hoje inaceitáveis mas, na época em que se deram,
eram usuais, pode ser comparado aos réus que, já mortos eram
tirados das suas sepulturas para serem queimados na praça pública,
para diversão não só da populaça mas também da corte e seus
afins. Para encobrir o desrespeito humano chamavam ao “festejo”
AUTO DE FÉ.
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