quinta-feira, 18 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Outra pandemia



Nem oito nem oitenta

Numa reacção extensiva perante o enésimo crime racista acontecido nos USA, vimos como já afectou uma data de países em mais do que um só continente. Até o momento as manifestações de repúdio não conduziram a mais vítimas. Desatou-se sim uma extensiva protesta com marchas de multidões onde participaram indivíduos de tipologias diferentes.

A contestação derivou da alegação de segregacionismo e maus tratos às pessoas com cor da pele diferente do que se chama de “raça branca”. O protesto chegou a ter como alvo certas pessoas, em geral já falecidas, que foram homenageadas por serem recordados por acções louváveis, por vezes com placas ou estátuas colocadas em locais públicos. Os activistas alegando que na biografia de certos próceres se eliminaram acções (hoje) reprováveis, mas correntes enquanto vivos, tomaram a iniciativa de derrubar ou emporcalhar estes símbolos, que durante anos mereceram ser respeitados.

Não podemos aplaudir as irreverências e desmandos, mas tampouco é correcto fechar os olhos quanto a acções deploráveis, não só pelos que mesmo na época em que aconteceram e eram consentidos legalmente, foram denunciados, mesmo que por um número reduzido de cidadãos Pessoas que podemos considerar além de precursoras na promoção da igualdade de direitos e deveres de TODOS os humanos, e até, extensivamente, a animais quando maltratados abusivamente por energúmenos que se julgam pessoas “de bem”.

Como céptico militante surgiram-me na memória as barbaridades que, mesmo neste cantinho da Europa, se fizeram sobre cidadãos cujas faltas, muitas vezes difamatórias sem fundamento e, quase sempre incitadas por uma visão extremista da doutrina religiosa, inclusive permitia, ocultamente, propósitos políticos ou vinganças pessoais por parte dos decisores das penas. As últimas execuções públicas foram “ontem” já no reinado de D. João V e do Ministro Sebastião e Melo.

O derrubar uma estátua, mesmo que os argumentos correspondam a comportamentos hoje inaceitáveis mas, na época em que se deram, eram usuais, pode ser comparado aos réus que, já mortos eram tirados das suas sepulturas para serem queimados na praça pública, para diversão não só da populaça mas também da corte e seus afins. Para encobrir o desrespeito humano chamavam ao “festejo” AUTO DE FÉ.

Sem comentários:

Enviar um comentário