domingo, 7 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Desorientação




Segundo diz o Dicionário este adjectivo equivale a desnorteado, desvairado, desequilibrado, maníaco. Entre as quatro opções eu me inscrevo no desnorte, pelo menos neste momento concreto, pois que o que nos dizem e recomendam oficialmente e insistentemente, não se pode aceitar como coerente. Por um lado nos alertam sobre a possibilidade de um recrudescimento do número de infectados, mas por outro permitem, e quase que incitam, a que as pessoas percam o medo, que saiam, que vão à praia, com umas regras que nem sequer são congruentes entre si.

Embora, sem grande convicção, alertam para que não se juntem em multidões, excepto casos “especiais”, que incluem alguns espectáculos, mas não as touradas, competições de futebol e boxe, entre outros. O resultado visível é que a cidadania optou para fazer o que lhe sai impulsivamente dos c... Já perdeu o medo, aquele que antigamente guardava a vinha. E a prova evidente é que já não são seguidas regras de distanciamento, como o que se quis mostrar na ridícula distribuição dos manifestantes no relvado da Alameda, num relvado marcado a régua e esquadro para evidenciar que eram respeitosos e bem comportados. Sobre o facto das camionetas que transferiram o pessoal dos seus redutos normais para a capital, optou-se pela sensata decisão de não ver, não ouvir nem falar, dado que poucos estiveram interessados neste mínimo pormenor.

Mas com o andar dos dias, (poucos) e para seguir o exemplo vindo dos EUA, e de algumas cidades europeias, Lisboa mostrou (?) com manifestações multitudinárias, munidas de cartazes e gritaria provocadora, que circularam por ruas e avenidas da capital até se cansarem e desviarem-se para, possivelmente, beber umas cervejas pelo gargalo (para evitar o covid-19 que podia espreitar num copo mal lavado) Mostraram, com clara evidencia, o repúdio visceral que sentem quando se diz -num pensar mais quimérico do que real-, que a sociedade lusitana actual, e especialmente os membros das forças da ordem, se atiram como gatos aos bofes para agredir, malhar e até matar, aos cidadãos mais escuros do que os alentejanos, quando deixam cair uma beata ao chão ou outro delito do mesmo teor. Este exagero, contraria o facto real de que a polícia, mesmo agindo em grupo e com razões de sobra para agir, evita confrontos “raciais”. Porque o mais normal é que sejam eles os que levam com as agressões e mesmo com algumas vítimas mortais.

Por muito que levantem os punhos e agitem cartazes, Portugal não tem uma sociedade equiparável com a dos EUA. Não se pode negar que alguns portugueses negociaram com a escravidão, e até que já antes das viagens pelo Atlântico, havia escravos em Lisboa. Assim como pessoas reduzidas a este triste estatuto sempre houve em todas as sociedades. Mas o consentimento, a aceitação, de que estas pessoas, que se sentem (e alguns são de fecto) marginalizados, tal não os isenta de seguir as mesma normas de comportamento e respeito geral que se aplicam a todos os cidadãos.

O que é de salientar foi que se aproveitou esta maré de protesto pandémico para saltar por cima das normas de protecção que, até aqui, se tinham obedecido sem sequer resmungar.

No caso de que se venha a noticiar que deste aglomerado de manifestantes alguns se tornaram foram focos de transmissão do vírus, só lamentaremos os que, sem estarem presentes, foram vítimas transversais destes que participaram na iniciativa.

Só para aliviar o ambiente e recordando que este tipo de vírus nos foi definido como uma das variantes das periódicas afecções pulmonares que chamamos, genericamente, como gripes, e que habitualmente são endémicas nos meses frios, podemos ter a esperança -mais a fé e a caridade- de que a partir de agora, apesar de não ser recomendável comer marisco fresco por ser este o início do período de desova destes bichos com casca, já podemos aliviar o luto pandémico, ou se preferirmos, o luto académico, que estava na moda antes do golpe dos capitães.

Ah! UMA NOTA DE TRANQUILIDADE: Podem comer marisco congelado, pois estes já não estão em condições de se reproduzir.



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