sábado, 6 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Será um futuro no terciário



Será que o pós-pandemia nos dará um novo horizonte ?

Os mais velhos entre os vivos, antes que o Covid-19 nos leve a Porto Seguro (querias...?) ainda recordamos a estagnação cultural que existia em Portugal até a década de '50. Uma estagnação apreciada pela média nacional, sem esquecer que desde o séc XVIII e seguintes, sempre existiu um reduzido núcleo, mas notável, de ilustrados que, influenciados principalmente pela cultura francesa e alguns toques vindos de pensadores espanhóis, tentaram, sem grande sucesso, lutar contra o analfabetismo e endémica ignorância das classes inferiores. Afirmação que esconde a pouco evoluídas classes ricas e incipientes médias.

O ensino particular, ou semioficial, estava maioritáriamente atribuído às ordens religiosas, e só com a primeira república e as iniciativas dos filiados na maçonaria portuguesa, surgiram os primeiros centros de ensino laico, oficial e privado. Com a implantação da ditadura e a entrega de pastas ao professor de Coimbra António Salazar, se decidiu dar um maior impulso ao ensino secundário e universitário, dado que já não era possível esconder o grau de analfabetismo e conhecimentos médios que existia comparativamente com os países europeus.

Paulatinamente foi suprimido o quase monopólio universitário de Coimbra, e se criaram, a partir de zero, escolas de artes e ofícios destinadas a criar os especialistas de que se carecia para a incipiente industrialização, não exactamente a partir de zero pois que já existiam estabelecimentos regidos por comunidades religiosas e também oficinas do exército e marinha

Entretanto a vontade de elevar a cultura nacional não esmoreceu. Pelo menos já apareceram anúncios de estabelecimentos universitários, uns mais idóneos do que outros, em que referem que aumentaram o número de vagas para cursos “superiores”. Apesar de saberem, sem a mínima dúvida, que o mercado de trabalho nacional não os pode empregar. Daí que, uma vez na posse de uma licenciatura, o futuro imediato quase sempre fica restringido a continuar na casa paterna, como um peso morto, ou aceitar um trabalho a termo certo, que apesar de ser mal remunerado, não existem grandes possibilidades de ser renovado. Porque? Simplesmente porque a entidade empregadora não está afim de correr o risco de que aquele tipo de contratos se tornem definitivos. Para a decisão colabora a longa fila de inscritos interessados em ocupar aquele “interessante e promissor” trabalho.

Nem todos os futuros são tão negros como o que referi. Que de facto são próprias de licenciaturas “da treta”. Podem safar-se caso disponham de bons padrinhos que os coloquem num lugar perpétuo no sempre dilatável aparelho do Estado.

Aqueles que rejeitaram, liminarmente, o trabalho “braçal” e optaram para faculdades onde deve-se estudar e trabalhar afincadamente, entre elas as de Medicina e afins, apesar de que a estrutura da Assistência Médica do Estado ser de excelente qualidade, sabemos que sofre, da doença de reduzir o investimento, como decisão crónica. Mas estes, e outros profissionais de craveira reconhecida internacionalmente, ficam de fora da escravidão dos empregos temporários, mal pagos. Restam-lhes, porém, as possibilidades dos centros hospitalares privados e mesmo o se transferirem, com armas e bagagens, para outro país.

Não devemos ficar pesarosos quando o condutor do tuk-tuk nos diz que teve que aceitar este trabalho porque não apareceram ofertas de emprego no mercado de trabalho com interesse com os conhecimentos adquiridos com a sua licenciatura. Ninguém os obrigou a optar para aquilo que se previa ser uma miragem. Perderam anos de preparação e vida profissional, melhor remuneradas, obcecados com a possibilidade de virem a ser tratados como “Senhor Doutor”, e se acrescentar mais uns três ou quatro sobrenomes de família, mesmo que já esquecidos, muito melhor...

CONCLUSÃO NÃO IMEDIATA: Em Portugal, nomeadamente após o golpe dos capitães, criou-se a ilusão de que o País tinha que avançar, rapidamente em força (usando as palavras de Salazar) para se modernizar, e para o conseguir devia-se educar o povo, a granel, atirando-o, inconscientemente logo para o ensino superior, sem cuidar primeiro de continuar e melhorar as tentativas anteriores (os citados Planos de Fomento, que deixaram-se de lado por cheirarem a ditadura ?)

Não seria honesto esconder a eterna mania das grandezas que é doença incurável nos pequenos países. Nem se pode apontar o dedo acusador ao ponderar decisões tomadas nos anos '60/'70 do século passado, quando se pensou e decidiu industrializar Portugal. Era difícil, quase impossível, prever que algumas daquelas iniciativas estavam condenadas a ficar obsoletas ou a não poder concorrer com os preços internacionais.

Um exemplo entre outros: Se a ideia de criar em Sines um porto de águas profundas na costa portuguesa, que pudesse ser um entreposto para as rotas transoceânico, e que apoiasse um grande, enorme, complexo químico-industrial, mas descurando a imprescindível via férrea, com bitola europeia, que servisse de ligação aos diferentes destinos das mercadorias, derrapou tal como aconteceu com outras boas iniciativas, pensadas mas estagnadas. Sines já foi vendido à China (comunista e rica, com operários mal pagos, mas calados) e este magno empresário estatal se encarregará de construir a linha férrea indispensável.





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