Será que o
pós-pandemia nos dará um novo horizonte ?
Os mais velhos entre os
vivos, antes que o Covid-19 nos leve a Porto Seguro (querias...?)
ainda recordamos a estagnação cultural que existia em Portugal até
a década de '50. Uma estagnação apreciada pela média nacional,
sem esquecer que desde o séc XVIII e seguintes, sempre existiu um
reduzido núcleo, mas notável, de ilustrados que, influenciados
principalmente pela cultura francesa e alguns toques vindos de
pensadores espanhóis, tentaram, sem grande sucesso, lutar contra o
analfabetismo e endémica ignorância das classes inferiores.
Afirmação que esconde a pouco evoluídas classes ricas e
incipientes médias.
O ensino particular, ou
semioficial, estava maioritáriamente atribuído às ordens
religiosas, e só com a primeira república e as iniciativas dos
filiados na maçonaria portuguesa, surgiram os primeiros centros de
ensino laico, oficial e privado. Com a implantação da ditadura e a
entrega de pastas ao professor de Coimbra António Salazar, se
decidiu dar um maior impulso ao ensino secundário e universitário,
dado que já não era possível esconder o grau de analfabetismo e
conhecimentos médios que existia comparativamente com os países
europeus.
Paulatinamente foi
suprimido o quase monopólio universitário de Coimbra, e se criaram,
a partir de zero, escolas de artes e ofícios destinadas a criar os
especialistas de que se carecia para a incipiente industrialização,
não exactamente a partir de zero pois que já existiam
estabelecimentos regidos por comunidades religiosas e também
oficinas do exército e marinha
Entretanto a vontade de
elevar a cultura nacional não esmoreceu. Pelo menos já apareceram
anúncios de estabelecimentos universitários, uns mais idóneos do
que outros, em que referem que aumentaram o número de vagas para
cursos “superiores”. Apesar de saberem, sem a mínima dúvida,
que o mercado de trabalho nacional não os pode empregar. Daí que,
uma vez na posse de uma licenciatura, o futuro imediato quase sempre
fica restringido a continuar na casa paterna, como um peso morto, ou
aceitar um trabalho a termo certo, que apesar de ser mal remunerado,
não existem grandes possibilidades de ser renovado. Porque?
Simplesmente porque a entidade empregadora não está afim de correr
o risco de que aquele tipo de contratos se tornem definitivos. Para a
decisão colabora a longa fila de inscritos interessados em ocupar
aquele “interessante e promissor” trabalho.
Nem todos os futuros
são tão negros como o que referi. Que de facto são próprias de
licenciaturas “da treta”. Podem safar-se caso disponham de bons
padrinhos que os coloquem num lugar perpétuo no sempre
dilatável aparelho do Estado.
Aqueles que rejeitaram,
liminarmente, o trabalho “braçal” e optaram para faculdades onde
deve-se estudar e trabalhar afincadamente, entre elas as de Medicina
e afins, apesar de que a estrutura da Assistência Médica do Estado
ser de excelente qualidade, sabemos que sofre, da doença de reduzir
o investimento, como decisão crónica. Mas estes, e outros
profissionais de craveira reconhecida internacionalmente, ficam de
fora da escravidão dos empregos temporários, mal pagos.
Restam-lhes, porém, as possibilidades dos centros hospitalares
privados e mesmo o se transferirem, com armas e bagagens, para outro
país.
Não devemos ficar
pesarosos quando o condutor do tuk-tuk nos diz que teve que aceitar
este trabalho porque não apareceram ofertas de emprego no mercado de
trabalho com interesse com os conhecimentos adquiridos com a sua
licenciatura. Ninguém os obrigou a optar para aquilo que se previa
ser uma miragem. Perderam anos de preparação e vida profissional,
melhor remuneradas, obcecados com a possibilidade de virem a ser
tratados como “Senhor Doutor”, e se acrescentar mais uns três ou
quatro sobrenomes de família, mesmo que já esquecidos, muito
melhor...
CONCLUSÃO NÃO
IMEDIATA: Em Portugal, nomeadamente após o golpe dos capitães,
criou-se a ilusão de que o País tinha que avançar, rapidamente em
força (usando as palavras
de Salazar) para se modernizar, e para o conseguir
devia-se educar o povo, a granel, atirando-o, inconscientemente logo
para o ensino superior, sem cuidar primeiro de continuar e melhorar
as tentativas anteriores (os
citados Planos de Fomento, que deixaram-se de lado por cheirarem a
ditadura ?)
Não seria honesto
esconder a eterna mania das grandezas que é doença incurável
nos pequenos países. Nem se pode apontar o dedo acusador ao ponderar
decisões tomadas nos anos '60/'70 do século passado, quando se
pensou e decidiu industrializar Portugal. Era difícil, quase
impossível, prever que algumas daquelas iniciativas estavam
condenadas a ficar obsoletas ou a não poder concorrer com os preços
internacionais.
Um exemplo entre
outros: Se a ideia de criar em Sines um porto de águas profundas na
costa portuguesa, que pudesse ser um entreposto para as rotas
transoceânico, e que apoiasse um grande, enorme, complexo
químico-industrial, mas descurando a imprescindível via férrea,
com bitola europeia, que servisse de ligação aos diferentes
destinos das mercadorias, derrapou tal como aconteceu com outras
boas iniciativas, pensadas mas estagnadas. Sines já foi vendido à
China (comunista e rica, com
operários mal pagos, mas calados) e este magno empresário
estatal se encarregará de construir a linha férrea indispensável.
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