Espelho
meu, que é mais belo ela ou eu?
Tenho
observado, ao longo de décadas, uma confusão entre o que se avalia
sob o restrito olhar zoológico, não só com os animais mamíferos
como em quase todas as espécies, acerca da vistosidade, quase que
universal, dos machos relativamente às fêmeas da sua mesma espécie.
E mais observamos, as fêmeas, que detêm, inequivocamente, o poder
de decisão na escolha do macho que as deve inseminar, mostram um
grau de inapetência muito evidente, quase que depreciativo, embora o
galanteio habitual, misturando o afastamento com a provocação, seja
indubitável.
Esta
dupla provocação galante (ligação
óbvia entre o termo galante-galanteador e galo)
na natureza animal é fortemente potenciada com as vestes que
habitualmente enfeitam os machos, sejam penas, escamas, pele, canto
ou até dança. Sem hesitação podemos afirmar que o macho se
apresenta muito mais vistoso do que a modesta fêmea. E, no entanto,
o papel mais importante da manutenção da espécie fica -salvo
excepções conhecidas- a cargo
das fêmeas.
A
conclusão imediata, mesmo que não geral, é que a selecção da
componente genética, mesmo que dependente da escolha da fêmea, está
fortemente condicionada pela capacidade de atracção do macho, e da
sua força para afastar os interessados concorrentes. Daí o “macho
dominante ou macho alfa” E
como funciona entre os humanos?
Nos
grupos ainda pouco “civilizados” -Os que permanecem isolados do
que nós entendemos como progresso- os homens enfeitam-se mais do que
as mulheres. E com a evolução social, especialmente entre a classe
dominante e os mais abastados, os homens mantiveram a motivação de
se vestirem de um modo ostentoso, aparatoso, com rendas e folhos que
hoje nos parecem ridículos ou efeminados: chapéus aparatosos, que
mais tarde foram relegados às damas; calções com folhos, meias
arrendadas, sapatos com salto (excepto o Sarkozi)
Que
o corpo das mulheres, nem que seja para ser visualizado, sempre
mereceu o apreço do homem, que sem dúvida detestava a roupagem que
ocultava a formosura corporal daquele ser que desejava como
complemento, é denotado pela escultura e pintura, que nunca
descuidaram a beleza das mulheres.
A
mulher desde cedo teve a noção de que podia e devia aproveitar e
melhorar, tanto quanto pudesse e soubesse, o seu atractivo visual.
Deste conhecimento resultou que tanto as roupas como penteados e
maquilhagem com que podia realçar a sua seducção, fosse eclipsando
a imagem dos homens. Sendo historicamente correcto temos que
reconhecer que desde as sociedades egípcia, helénica e romana, as
mulheres já sabiam e aplicavam cosméticos e roupagens vistosas e
insinuantes, muitas vezes translucidas.
Recuando.
Sem que renegue do agrado que podemos sentir ao ver uma das nossas
companheiras (genericamente
falando...), seja menina
ou madura, quando bem “preparada”, fica esclarecido o aparente
enigma do porque os humanos optaram por uma decisão anormal entre os
mamíferos (e não só
estes) que nos
acompanham.
Um
pormenor discordante: da cintura para cima os homens, quando se
enfarpelam usam enchumaços, postiços, nos ombros, imitando as palas
onde os militares colocam as suas divisas. É para parecer mais
musculados? Mas as mesmas pessoas, quando se vestem informalmente,
raramente usam estes postiços.
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