Qualificar
e desqualificar sem ponderar
Escrever
opiniões sobre a população, ou mais directamente acerca dos
sentimentos e opções políticas, e obviamente sociais, atribuindo
qualificações a certos grupos, muitas vezes só imaginados, sem
que se tenha efectuado uma ponderação correcta e ampla sobre os
factores que incidiram sobre aqueles que, levianamente qualificamos,
é um erro muito frequente.
E
mais ainda quando se está sob alguma pressão social que não é
devida, concretamente, ao comportamento “político” dos seus
membros. Ou, precisamente, se são estes medos que disparam os
alarmes sem ponderar a pressão que existe na situação sanitária
actual.
Causa-me
um grande desconforto ver como irreflectidamente se dá como
indiscutível que os que sentem, com maior ou menor intensidade, uma
rejeição social ao sector onde estão agarrados, são tão
“irrecuperáveis” como eliminar a melamina da pele. Coisa que só
se sabe conseguiu um tal Michael Jacson. E sabemos que não é assim
que a segregação económica-social funciona. Propositadamente
não referimos, constantemente, os principais factores que conduzem a
uma “incompatibilidade” entre os desprezados e os soberbos.
Qualquer
sociólogo que consultemos acerca deste problema sectorial nos dirá
que são a pobreza e a ignorância que mantém muitas pessoas na
chamada “mó de baixo”. E mais, que é muito difícil e carece de
esforços invulgares o poder sair do nível onde se nasceu, criou ou,
por infelicidade, se viu atirado.
Não
é por casualidade, nem por tentativas de cumprir devidamente a lei
de Deus, que muitos dos que se dedicaram a meditar sobre este
problema apresentaram projectos de acção onde eram fundamentais os
esforços do estado no incremento cultural do povo baixo,
juntamente com um esforço sério na implementação dos cuidados de
saúde e, paralelamente, melhorar a salubridade dos locais onde
existiam aglomerados com notórios sintomas de pobreza.
Não
demorou a percepção de que estas metas eram difíceis de alcançar
caso não se instalassem perto destas áreas de carência endémica,
unidades fabris produtivas que dessem a possibilidade de trabalho
remunerado, e até de ganharem com algum excesso, para o seu sustento
e necessidades básicas. Infelizmente
os capitalistas que tinham a capacidade e os conhecimentos para dar
trabalho aos marginalizados se depararam com o dilema de que, em
geral, aqueles indivíduos que se pretendia ajudar tinham um nível
de conhecimentos muito primário, e que mais depressa entraram no que
era doce do que se habilitaram para trabalhos fabris com certas
exigências. A evolução, apesar de real, não foi suficiente para
igualar. Cinicamente para muitos era rentável contratar, por baixo
preço, a gente rude e ignorante.
Quando
estes cidadãos atingem um nível primário de literacia, mesmo que
ainda pouco versados nas ratoeiras que os demagogos lhes
apresentavam, foi, como era de prever, um campo lavrado onde os
políticos com o espírito subversivo tiveram, e tem, a possibilidade
de criar adictos. E aqui chegamos aos tais da esquerda activa e
provocadora. Que como nos alerta a Física elementar, gera uma
reacção.
Virando
para o outro sector, o da direita “bem pensante e
falsamente humanista”. Aqui se
juntam pessoas já com alguma cultura, muitos com noções deturpadas
da “luta de classes”.
Os mais astutos e capazes de manipular o seu sector chegam a
capitalistas, atropelando pelo caminho aqueles que se lhe opõem, mas
respeitando com receio os que podem vir a ser seus inimigos
“dentro de casa”.
O
que lhes mostra ser mais rentável é o explorar, directamente os
membros mais débeis da sociedade, ou indirectamente sonegando os
fundos que são do País, especialmente dos que trabalham mas não
conseguem sair do seu nível e crescer para o estatuto
de incipiente predador.
Para este fim, desde sempre, o capital manteve os governantes debaixo
dos seus interesses e propósitos.
Este
sector social que manipula na sombra, sem alaridos nem desfiles -que
reservam para a ocasião em que já tem uma maioria domesticada e
fiel- é pouco numeroso e
exclusivo no topo. Alguns, que não todos, fazem publicamente alarde
da sua rica vida, das suas propriedades e das suas festas sociais. Os
outros, os que denotam a esquerda baixa limitam-se a aplaudir os do
topo e a entrar na sopa dos pobres, com o que as suas leves críticas
internas ficam neutralizadas. Sem jamais avançarem para a realidade
factual do problema.
Resumindo:
o mundo é velho e tem problemas quase que irresolúveis porque mesmo
nos grupos de população mais isolados, onde os bens são da
comunidade, é que a desigualdade é mais notória. Até aqui chega a
distinção pelo poder, nem que seja eleito pelo povo. Chefes, seus
próximos e adivinhos ou bruxos, não tardam em se distinguir e
comandar, indirectamente tendo o chefe como intermediário.
Entrar
numa adesão “convicta” para separar a cidadania entre
“esquerdalha e direitalha”, desprezando os que preferem não
alinhar, é uma consequência do dinheiro e da imaginação de cada
um, que só vê no espelho aquilo que deseja encontrar.
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