sexta-feira, 12 de junho de 2020

MEDITAÇÕES - Pobreza e Estabilidade. Consequências



Qualificar e desqualificar sem ponderar

Escrever opiniões sobre a população, ou mais directamente acerca dos sentimentos e opções políticas, e obviamente sociais, atribuindo qualificações a certos grupos, muitas vezes só imaginados, sem que se tenha efectuado uma ponderação correcta e ampla sobre os factores que incidiram sobre aqueles que, levianamente qualificamos, é um erro muito frequente.

E mais ainda quando se está sob alguma pressão social que não é devida, concretamente, ao comportamento “político” dos seus membros. Ou, precisamente, se são estes medos que disparam os alarmes sem ponderar a pressão que existe na situação sanitária actual.

Causa-me um grande desconforto ver como irreflectidamente se dá como indiscutível que os que sentem, com maior ou menor intensidade, uma rejeição social ao sector onde estão agarrados, são tão “irrecuperáveis” como eliminar a melamina da pele. Coisa que só se sabe conseguiu um tal Michael Jacson. E sabemos que não é assim que a segregação económica-social funciona. Propositadamente não referimos, constantemente, os principais factores que conduzem a uma “incompatibilidade” entre os desprezados e os soberbos.

Qualquer sociólogo que consultemos acerca deste problema sectorial nos dirá que são a pobreza e a ignorância que mantém muitas pessoas na chamada “mó de baixo”. E mais, que é muito difícil e carece de esforços invulgares o poder sair do nível onde se nasceu, criou ou, por infelicidade, se viu atirado.

Não é por casualidade, nem por tentativas de cumprir devidamente a lei de Deus, que muitos dos que se dedicaram a meditar sobre este problema apresentaram projectos de acção onde eram fundamentais os esforços do estado no incremento cultural do povo baixo, juntamente com um esforço sério na implementação dos cuidados de saúde e, paralelamente, melhorar a salubridade dos locais onde existiam aglomerados com notórios sintomas de pobreza.

Não demorou a percepção de que estas metas eram difíceis de alcançar caso não se instalassem perto destas áreas de carência endémica, unidades fabris produtivas que dessem a possibilidade de trabalho remunerado, e até de ganharem com algum excesso, para o seu sustento e necessidades básicas. Infelizmente os capitalistas que tinham a capacidade e os conhecimentos para dar trabalho aos marginalizados se depararam com o dilema de que, em geral, aqueles indivíduos que se pretendia ajudar tinham um nível de conhecimentos muito primário, e que mais depressa entraram no que era doce do que se habilitaram para trabalhos fabris com certas exigências. A evolução, apesar de real, não foi suficiente para igualar. Cinicamente para muitos era rentável contratar, por baixo preço, a gente rude e ignorante.

Quando estes cidadãos atingem um nível primário de literacia, mesmo que ainda pouco versados nas ratoeiras que os demagogos lhes apresentavam, foi, como era de prever, um campo lavrado onde os políticos com o espírito subversivo tiveram, e tem, a possibilidade de criar adictos. E aqui chegamos aos tais da esquerda activa e provocadora. Que como nos alerta a Física elementar, gera uma reacção.

Virando para o outro sector, o da direita “bem pensante e falsamente humanista”. Aqui se juntam pessoas já com alguma cultura, muitos com noções deturpadas da “luta de classes”. Os mais astutos e capazes de manipular o seu sector chegam a capitalistas, atropelando pelo caminho aqueles que se lhe opõem, mas respeitando com receio os que podem vir a ser seus inimigos “dentro de casa”.

O que lhes mostra ser mais rentável é o explorar, directamente os membros mais débeis da sociedade, ou indirectamente sonegando os fundos que são do País, especialmente dos que trabalham mas não conseguem sair do seu nível e crescer para o estatuto de incipiente predador. Para este fim, desde sempre, o capital manteve os governantes debaixo dos seus interesses e propósitos.

Este sector social que manipula na sombra, sem alaridos nem desfiles -que reservam para a ocasião em que já tem uma maioria domesticada e fiel- é pouco numeroso e exclusivo no topo. Alguns, que não todos, fazem publicamente alarde da sua rica vida, das suas propriedades e das suas festas sociais. Os outros, os que denotam a esquerda baixa limitam-se a aplaudir os do topo e a entrar na sopa dos pobres, com o que as suas leves críticas internas ficam neutralizadas. Sem jamais avançarem para a realidade factual do problema.

Resumindo: o mundo é velho e tem problemas quase que irresolúveis porque mesmo nos grupos de população mais isolados, onde os bens são da comunidade, é que a desigualdade é mais notória. Até aqui chega a distinção pelo poder, nem que seja eleito pelo povo. Chefes, seus próximos e adivinhos ou bruxos, não tardam em se distinguir e comandar, indirectamente tendo o chefe como intermediário.

Entrar numa adesão “convicta” para separar a cidadania entre “esquerdalha e direitalha”, desprezando os que preferem não alinhar, é uma consequência do dinheiro e da imaginação de cada um, que só vê no espelho aquilo que deseja encontrar.

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