segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

MEDITAÇÕES – Como queremos o Exército Nacional.



Organizado com recrutas, profissionais ou voluntários?

Antes de avançar no tema de hoje, por razões que não são de interesse geral, entendo que é honesto referir que eu, pessoalmente, e por condições de isenção legal, não “fiz a tropa”. Portanto as minhas noções não estão baseadas num conhecimento em primeira mão. São mais o fruto de uma visão histórica e do que me foi possível deduzir do que vi, estudei e ouvi.

Tenho um conceito, empírico, de que na actualidade os jovens que atingem a idade em que habitualmente eram chamados a se incorporarem nas fileiras militares, no que se denominava de recruta, tal obrigação é vista, por muitos deles, como uma exigência abusiva e sem sentido. Estamos vivendo um longo período de paz na Europa Ocidental, anormal se olharmos para a história. Não há memória de um período sem conflitos armados entre vizinhos que se possa equiparar. Todavia reconhecemos que perto das fronteiras deste “pacífica” Europa continuamente deflagrem conflitos armados, e que em alguns deles inclusive se enviem militares de Portugal.

O que decidiu foi optar pelo voluntariado, tendo sido abolida a recruta obrigatória. Mas em compensação (?) abriram-se as portas dos quartéis para as raparigas. Já não exclusivamente para ocupar postos de não combate mas, pelo contrário, consideradas em igualdade de condições com os militares masculinos. Algumas mulheres já atingiram graduações e até postos de comando.

Esta versão pacifista que desobrigou a permanência, mesmo que temporal, nas forças armadas é practicamente geral em todos os países do ocidente europeu. Mas esta bondade decretada não garante nem descansa os que receiam a possibilidade de se iniciar um grave conflito armado. Não porque se respire um ar belicista que alerte sobre este ressurgimento, mas porque os especialistas entendem que as forças disponíveis actualmente para entrar em campo não se podem valorizar como suficientes se tiverem que enfrentar um inimigo forte e bem preparado.

A solução que se tomou, numa tentativa de equilibrar os efectivos por comparação com o estimado poder de um opositor, com recurso a voluntários-mercenários é a mesma que sempre existiu, e que foi uma das causas do declínio do Império Romano. Recordemos que a incorporação de tropas recrutadas nas colónias esteve vigente, com um peso numérico não desprezível, nos dois conflitos mundiais que ainda perduram na memória colectiva. A estabilidade e boa vida que os cidadãos romanos tinham na vida civil não os motivava para se oferecerem para incorporar as famosas legiões imperiais. Progressivamente foram admitidos, ou contratados, guerreiros que foram adversários temíveis na véspera e chegou o momento de que estar legiões, teoricamente sob as insígnias imperiais ou republicanas, deixaram de obedecer os seus comandantes romanos e ficaram leais aos seus conterrâneos “bárbaros”.

Recordemos que a incorporação de tropas recrutadas nas colónias esteve vigente, com um peso numérico não desprezível, nos dois conflitos mundiais Facto que por perdurar na memória colectiva, não é legítimo escamotear

Retomando a referência do Império Romano, reconhecemos que em todos os grandes conflitos se incorporaram mercenários, voluntários a soldo, mais fieis aos seus chefes de origem e às possibilidades de saque, do que à Roma dos togados. Ou seja, a parcela mental que pode incitar à luta para defesa dos símbolos da Pátria e, em consequência, o arriscar a vida para resguardar o que o soldado considera ser mais importante do que a possibilidade de ser ferido ou morto, não se pode esperar entre as tropas de voluntários estrangeiros, ou pior de mercenários. Nestes o travão para não desertar pode estar nas mãos dos oficiais que os controlam de pistola em punho, ou pelo medo que os do outro lado lhes imponham.

Os militares de carreira, que imagino não são muito estimados pela maioria dos cidadãos, por pertencerem a outra parcela da sociedade e com regras de comportamento próprias, não devem estar muito tranquilos com a situação actual neste ocidente europeu. Além de que não há memória de um tão longo período sem guerras, os estrategas não podem estar convictos de que esta “pax romana” possa ser eterna.

Há três factores, entre outros também importantes, que alertam os pessimistas: Um deles é o progressivo envelhecimento da população, com incremento dos não produtivos e a falta de nascimentos para compensar o deficit. Outro factor a ponderar é que a possibilidade de recuperar o montante populacional com elementos vindos do exterior e com características e religiões compatíveis com as dos autóctones europeus se verifica estar longe de ser geral; com a agravante de se verificar que a vontade de se integrarem na nossa sociedade não é evidente, antes pelo contrário. Os autóctones, em muitas zonas da Europa actual sentem-se em perigo de ser minoritários na sua terra.

O terceiro factor tem duas frentes diferentes. Por um lado o “sócio” poderoso que tinha a Europa na NATO com os EUA está derivando para um isolacionismo, pelo menos em relação aos problemas actuais e previsíveis da Europa Ocidental. Para completar o panorama teme-se, e com razão, a perda da hegemonia da Europa nos campos das tecnologias, produção de bens e serviços e capital disponível.

Não parece factível que estas nuvens negras se dissipassem devido a retomar a recruta obrigatória, nem que o treino de mais indivíduos já com valor antes de uma incorporação urgente, seja a solução. Nem sequer se pode avaliar como perto disso. Mas tampouco parece que confiar a nossa defesa do território e dos seus habitantes a voluntários, mais ou menos contratados como mercenários, nos possa dar uma garantia de segurança. Não deve haver Companhia de Seguros que se atreva a propor uma apólice neste problema.

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