MEDITAÇÕES
– Evitar os -ismos
Todos
os favoritismos são obsessivos e condicionantes.
É
muito difícil escapar dos extremismos, que tarde ou cedo derivam
para fanatismos que limitam a capacidade crítica das pessoas e, pior
ainda, a isenção que nos é crucial para poder valorizar qualquer
assunto. O cair num -ismo comporta ficar com a nossa visão mental
reduzida a um espaço restrito e preconceito.
O
lote de temas que nos podem incitar a desprezar a análise fria e
tanto quanto possível livre de preconceitos é muito ampla. Abrange
tal quantidade de assuntos que provavelmente são poucas as pessoas
que estão cientes de quão limitada é a sua liberdade mental e até
onde o seu comportamento e diálogo com os outros cidadãos está
condicionado por ideias e conceitos pré-determinadas. Estas baias
mentais tanto podem ter sido fruto de livre criação do mesmo
indivíduo, como sucede em muitos casos, ou por transferências
familiares ou de grupo. Seja qual for a génese das “verdades”
inquestionáveis o que podemos afirmar, com conhecimento directo, é
que podem ter ficado tão fixas na mente que só com um grande
esforço de vontade é que nos podemos livrar.
Os
temas propensos a se tornarem obsessões, e por isso adquirirem o
estatuto de -ismos é amplo e variado. Sem ter a pretensão de um
inventário exaustivo referirei os de índole religiosa ou
para-religiosa; os que nos tornam obsessivos patriotas ou
bairristas; os que renegam das pronúncias e terminologias locais ou
regionais. Estes puristas obsessivos tem um poderoso aliado nas redes
de televisão, que, em todos os países, induzem os seguidores a
utilizar a dita “linguagem padrão”, sem captar que com esta
uni-formatação linguística perde-se uma parte importante da riqueza
cultural do povo.
Capítulo
próprio são os fanatismos de cariz político e clubístico. Apesar
de que a experiência nos mostra que são bastante numerosos aqueles
que se deslocaram de um credo para outro; mesmo nas antípodas do
precedente, temos que admitir que a fidelidade fanática no campo dos
clubes desportivos é muito mais rígida do que nos da política,
nomeadamente quando a mudança de partido pode implicar benefícios
económicos ou estatutários.
É
semelhante a dificuldade de isenção que se sente, pelo menos no
reflexo do instintivo sobre o racional, no campo do racismo ou
estratificação semelhante, como podem ser o classicismo, estirpe,
casta, estatuto social ou económico, etc. Cada pessoa recebe
indícios visuais sobre algumas características que, por serem
exactamente as nossas, o pode impulsar para duas situações opostas.
Por um lado é plausível que instintivamente nos afastemos ou
qualifiquemos o outro com um termo que, sem dúvida, nos pode dar a
noção de ser racista. E na margem oposta sentir a vontade de
“saltar o muro” e poder integrar-se naquele sector social que nos
estava vedado inicialmente.
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