sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

MEDITAÇÕES – Dois problemas bicudos


Problemas com solução problemática

E, por azar, estes dois problemas, entre outros, são de incerta solução, e suficientemente complexos para nos aconselhar não os querer tratar, até porque cada individuo, isoladamente, não tem potencial para poder agir no sentido de condicionar a sua evolução.

E, após esta espécie de introdução, que nada diz, será que o leitor está preparado para o que daí pode advir? Podemos “entrar a matar” sem receio de provocar AVC? Pois aí vão, sem os referir por ordem de importância, pois cada um, no seu género e dimensão, nos prometem alterações na débil tranquilidade que tanto apreciamos. Outros existem com previsíveis consequências nefastas.

Referirei, em primeiro lugar, o que está ainda quentinho, nas letras gordas de todos os jornais desta zona em que nos encontramos. Ou seja, que o tema do dia corresponde ao resultado da última consulta eleitoral havida no Reino Unido, e que, em poucas palavras, corresponde à liberdade de decisão do governo inglês, eleito ontem, para proceder à gestão da vontade maioritária dos súbditos de Sua Majestade no sentido de abandonar a sua presença na União Europeia.

Os que se consideram muito entendidos quanto aos efeitos que podem causar este tal de Brexit, que podemos valorizar, de forma excessivamente simplista, como sendo uma espécie de divórcio entre nações livres e soberanas. Apesar de este propósito estar na ordem do dia durante muitos meses, deve ser geral ignorar, concretamente, todos os efeitos directos e indirectos que poderá causar, tanto para os súbditos de Sua Majestade como para os restantes membros da União Europeia.

Para já é possível que nem sequer a maioria dos votantes do U.K., que ofereceram, ao seu partido conservador, as chaves desta iniciativa, que se pode entender como uma ordem de despejo à medida dos inquilinos, sem passar pela fase de um divórcio não litigioso, devem conhecer toda a água no bico que carrega esta separação. Tem o potencial de uma verdadeira inundação, na qual muitos se afogarão.

Admito que muitos cidadãos da Inglaterra actual, e mais concretamente os que são desta naturalidade por direito de gerações pretéritas, votaram condicionados por questões com génese complexa e que não serão neutralizadas pelos que ganharam estas eleições. O responsabilizar as normas fronteiriças vigentes na UE pelo crescente número de migrantes estrangeiros que ocupam os postos de trabalho dos nacionais(?) é esquecer a porta dos fundos aberta para os originários da Comunidade Britânica, herdeira do seu Império.

Entendamos. Muitas destas situações tiveram a sua génese já no tempo da Margaret Thatcher quando do encerramento de minas de carvão e ferro, dos altos fornos produtores de aço, e por arrastamento, de algumas actividades que, ao abrir as fronteiras aos produtos que se encomendaram a países do Oriente, com grande satisfacção de quem abandonou a produção na Inglaterra -assim como sucedeu nos restantes países ocidentais- pensando que livravam-se dos problemas sindicais, e outros anexos, mas mantinham a comercialização das suas marcas, com melhores margens e menos problemas, não tardaram a verificar que a invasão de cópias fabricadas pelos mesmos que aceitaram produzir os seus modelos patenteados, fatalmente produziram versões próprias, que comercializaram directamente invadindo os mercados ocidentais e mundiais em geral.

Apesar de não ser exactamente idênticas as duas situações, podemos avaliar esta falta de previsão com a dos colonos na Austrália, que para eliminar outros problemas locais implantaram espécies não autóctones, nomeadamente coelhos e gatos, que actualmente constituem pragas de difícil neutralização.

Ninguém se atreve a profetizar as consequências que podem advir da saída do RU na “sociedade em comandita” que é a UE. Entre os optimistas e os pessimistas deve existir uma longa lista de efeitos, do tipo co-lateral, que poucos se atrevem a diagnosticar. Já é suficiente considerar que, sejam poucos ou muitos, simples ou complexos, os temas que se terão que abordar. Não demorarão a vir à tona da água, ou a descer às profundidades do irresolúvel.

E o segundo tema “bicudo” que gostaríamos de esquecer, sem conseguir, é o da degradação ambiental. Não só do aquecimento global de que muito se tem falado e pouco ou nada agido para tentar travar, mas também o problema dos resíduos da sociedade actual. Não só são as matérias plásticas de síntese, não degradáveis na natureza, mas também de outros muitos resíduos industriais, incluídos materiais rejeitados mas com longos períodos de radioactividade.

São muitos os compostos descartados com características perniciosas venenosas e até que não se podem reutilizar, ou seria “muito caro”, “não rentável” o eliminar as características perniciosas. Daí que, com atitudes irresponsáveis e totalmente inaceitáveis, livram-se de ter o problema em casa, como quem varre o lixo para debaixo do tapete. Tanto o ocidente industrial como a evoluída Ásia e Indostão, numa atitude cinicamente capitalista, enviam para zonas pobres de outros países, muito do que não podem esconder ou neutralizar. Com estas atitudes transformam áreas campestres em perigosas lixeiras.

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