quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

MEDITAÇÕES – Ganhar e Perder



ASSIMILAÇÃO, MISCIGENAÇÃO, SEGREGAÇÃO

Um das situações sociais que acompanhou, desde os primeiros homens erectos, e certamente ainda antes, quando andávamos como os gorilas apoiando o corpo também com os membros anteriores, é o modo como convivemos com os que não são exactamente iguais a nós. O que não garante que com os iguais andemos sempre aos abraços e beijos... Andar à pancada, facadas, envenenar e outros devaneios de convivência e tão próprio dos humanos como o espirrar.

Os arqueólogos, em conluio com os geneticistas da actualidade e os restantes estudiosos da evolução, nos alertam paulatinamente de que encontram novos elos da nossa ancestral cadeia evolutiva. E nem sempre estas descobertas se encaixam na sequência anteriormente definida. Quando era um jovem e inexperiente estudante as referências de humanos pré-históricos resumiam-se aos Crómagnon e aos Neandertal, com o consequente diferendo de se estas duas ramas evolutivas eram compatíveis, miscíveis, ou se uma eliminou a outra. Hoje creio ter lido que nem uma coisa nem outra, pelo menos em absoluto, que do encontro entre membros (e membras) duns e outros também geraram mestiços. E isso sem fazer referência aos seres que apresentam sinais corporais de que não estão muito longe do homem das cavernas, ou tabernas para que não as visualize como grutas.

Como as ciências evoluem sem descanso, ao analisar, geneticamente, inclusive fósseis humanos, sempre incompletos e petrificados, já se conseguiram identificaram outras ramas de evolução de hominídeos, o que veio complicar ainda mais a nossa estimada árvore genealógica. Esta confusão está em linha com a actual fúria vandálica com que se abatem as árvores vetustas.  

Se entrarmos em linha de conta com as condições climatéricas e de alimentação, próprias das zonas onde viveram aqueles que hoje nos aparecem como fósseis, justificam-se muitas mudanças permanentes e transmissíveis na estatura, na cor da pele e dos olhos, além do cabelo e mais pilosidade corporal. Estas alterações corporais ao se tornarem hereditárias conduziram a uma verdadeira confusão visual, que em épocas anteriores, mas recentes,  se pretendeu arrumar com a noção de existirem diversas raças de humanos.

A educação e civismo, que muitas vezes ofuscam em vez de esclarecer, renegaram deste conceito, digamos que pelo menos classicista, por decidir classificar os indivíduos por raças, como se os humanos fossemos (e somos) equivalentes a animais domésticos de convívio habitual, sejam cavalos, cabras, ovelhas, ruminantes ou aves de capoeira. Coisa feia! Intolerável no séc XXI! FICOU DECIDIDO, NÃO HÁ RAÇAS HUMANAS!!! o que não elimina as diferenças entre um esquimó e um cafre, como exemplos claramente opostos.

Felizmente que nos dizem ter terminado a escravidão humana, mesmo que ainda exista e não pouca. Devia ser um sossego poder adquirir, no mercado livre, algum prisioneiro/a avaliado pelo corpo, a dentadura (como os equídeos), a idade presumível e, como a nossa Igreja nos garantia que estes seres não tinham alma, podiam ser tratados com o rigor que fosse compatível com a sua rentabilidade. Os cuidados e atenções que o dono dos seus escravos lhes proporcionava deviam ser, ressalvando as distâncias temporais e físicas, com os que se dão a um tractor, uma ceifeira-debulhadora ou uma camionete.

Com a vantagem de que se podiam vender quando não fossem indispensáveis, e inclusive negociar as suas crias, mesmo aquelas que que tinham algum dos patrões como co-progenitor. Um escravo “clarinho” era mais valorizado do que um retinto. Uma confusão que pode ser habitual é a de imaginar como escravos exclusivamente indivíduos de ascendência africana (isso de ter que fugir do termo pretos é uma seca...) desconhecendo que também os havia branquinhos pois que podia-se ser condenado à escravidão por alguns delitos que o justificassem (?). Estes brancos deviam estar bastante sujos por falta de asseio, Mas entre os escravos do mercado encontravam-se amarelos, asiáticos de diferentes etnias e indígenas das Américas. Podemos aceitar que tudo o que vinha à rede era peixe.

Só para recordar a quem não saiba: O senhor feudal, cá do sítio e de todos os quadrantes europeus, era não só amo e senhor das terras como também dono absoluto dos seus habitantes, com os quais podia entreter-se a fazer as velhacarias que quisesse, inclusive matar e esfolar ou vender como qualquer outro bem transaccional. Entre nós, -no Portugal, como dizem os migras- até poucos anos atrás havia quem se referisse aos trabalhadores braçais do campo como servos ou ganhões, com uns direitos cívicos um pouco inferiores aos já diminutos dos seus amos, caso estes não fossem da estirpe dos “grandes senhores”. O termo amo já nos revela muita coisa...

Mais abaixo deste escrito aparecem, destacados, uns termos que estava previsto incluir no meio dos textos, pois que, sem dúvida, estão em sintonia com o carácter ambíguo do que mal escrevi. Os deixo passar com a certeza de que o leitor, ou leitora, os podem arrumar convenientemente no lugar devido do contexto (esta do contexto é boa, podem guardar para as palavras cruzadas)


Assimilação Compenetrar-se de ideias ou sentimentos alheios. Tornar-se semelhante. O oposto da segregação. Não confundir com as gorduras corporais excessivas, fruto da assimilação dos excessos alimentares; mesmo nas pessoas que afirmam que até a água os engorda (?)

Miscigenação Assimilação por mestiçagem, sem pretender a igualdade. Nada de confusões! Nem todos podem vir a ser um Almada Negreiros, ou um presidente de governo. O a fadista Míssia, que não é carne nem peixe.

Pragmatismo Valorizar só o que nos seja útil. Pode-se utilizar, erradamente, como um falso sinónimo de cinismo.

Segregação Opor-se, até com violência, à mistura racial. Promove a separação, o isolamento, castigando os atrevimentos de convivência, excepto quando é o patrão que os procura. Os cidadãos de terceira que querem galgar para a primeira especial e reservada sabem que devem aguentar com atitudes segregacionistas por parte dos que não os aceitam como seus pares. Pelo menos enquanto não tenham amassado grandes fortunas, sem trabalhar, como é óbvio.

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