ASSIMILAÇÃO, MISCIGENAÇÃO, SEGREGAÇÃO
Um
das situações sociais que acompanhou, desde os primeiros homens
erectos, e certamente ainda antes, quando andávamos como os gorilas
apoiando o corpo também com os membros anteriores, é o modo como
convivemos com os que não são exactamente iguais a nós. O que não
garante que com os iguais andemos sempre aos abraços e beijos...
Andar à pancada, facadas, envenenar e outros devaneios de
convivência e tão próprio dos humanos como o espirrar.
Os
arqueólogos, em conluio com os geneticistas da actualidade e os
restantes estudiosos da evolução, nos alertam paulatinamente de que
encontram novos elos da nossa ancestral cadeia evolutiva. E nem
sempre estas descobertas se encaixam na sequência anteriormente
definida. Quando era um jovem e inexperiente estudante as referências
de humanos pré-históricos resumiam-se aos Crómagnon e aos Neandertal,
com o consequente diferendo de se estas duas ramas evolutivas eram
compatíveis, miscíveis, ou se uma eliminou a outra. Hoje creio
ter lido que nem uma coisa nem outra, pelo menos em absoluto, que do
encontro entre membros (e membras) duns e outros também geraram
mestiços. E isso sem fazer referência aos seres que apresentam sinais corporais de que não estão muito longe do homem das
cavernas, ou tabernas para que não as visualize como grutas.
Como
as ciências evoluem sem descanso, ao analisar, geneticamente,
inclusive fósseis humanos, sempre incompletos e petrificados,
já se conseguiram identificaram outras ramas de evolução de
hominídeos, o que veio complicar ainda mais a nossa estimada árvore
genealógica. Esta confusão está em linha com a actual fúria
vandálica com que se abatem as árvores vetustas.
Se entrarmos em linha de conta com as condições climatéricas e de alimentação, próprias das
zonas onde viveram aqueles que hoje nos aparecem como fósseis, justificam-se muitas mudanças permanentes e transmissíveis na estatura, na cor
da pele e dos olhos, além do cabelo e mais pilosidade corporal. Estas
alterações corporais ao se tornarem hereditárias conduziram a uma
verdadeira confusão visual, que em épocas anteriores, mas recentes, se pretendeu arrumar com a noção
de existirem diversas raças de humanos.
A
educação e civismo, que muitas vezes ofuscam em vez de esclarecer,
renegaram deste conceito, digamos que pelo menos classicista, por
decidir classificar os indivíduos por raças, como se os humanos
fossemos (e somos) equivalentes a animais domésticos de convívio
habitual, sejam cavalos, cabras, ovelhas, ruminantes ou aves de
capoeira. Coisa feia! Intolerável no séc XXI! FICOU DECIDIDO, NÃO
HÁ RAÇAS HUMANAS!!! o que não elimina as diferenças entre um
esquimó e um cafre, como exemplos claramente opostos.
Felizmente
que nos dizem ter terminado a escravidão humana, mesmo que ainda
exista e não pouca. Devia ser um sossego poder adquirir, no mercado
livre, algum prisioneiro/a avaliado pelo corpo, a dentadura (como os
equídeos), a idade presumível e, como a nossa Igreja nos garantia
que estes seres não tinham alma, podiam ser tratados com o rigor que
fosse compatível com a sua rentabilidade. Os cuidados e atenções
que o dono dos seus escravos lhes proporcionava deviam ser,
ressalvando as distâncias temporais e físicas, com os que se dão a
um tractor, uma ceifeira-debulhadora ou uma camionete.
Com
a vantagem de que se podiam vender quando não fossem indispensáveis,
e inclusive negociar as suas crias, mesmo aquelas que que tinham
algum dos patrões como co-progenitor. Um escravo “clarinho” era
mais valorizado do que um retinto. Uma confusão que pode ser
habitual é a de imaginar como escravos exclusivamente indivíduos de
ascendência africana (isso de ter que fugir do termo pretos é
uma seca...) desconhecendo que também os havia branquinhos pois que podia-se ser condenado à escravidão por alguns delitos que o justificassem (?). Estes brancos deviam estar bastante sujos por falta de asseio, Mas entre os escravos do mercado encontravam-se amarelos, asiáticos de
diferentes etnias e indígenas das Américas. Podemos aceitar que
tudo o que vinha à rede era peixe.
Só
para recordar a quem não saiba: O senhor feudal, cá do sítio e de
todos os quadrantes europeus, era não só amo e senhor das terras
como também dono absoluto dos seus habitantes, com os quais podia
entreter-se a fazer as velhacarias que quisesse, inclusive matar e
esfolar ou vender como qualquer outro bem transaccional. Entre nós,
-no Portugal, como dizem os migras- até poucos anos atrás havia
quem se referisse aos trabalhadores braçais do campo como servos ou
ganhões, com uns direitos cívicos um pouco inferiores aos já
diminutos dos seus amos, caso estes não fossem da estirpe dos
“grandes senhores”. O termo amo já nos revela muita coisa...
Mais
abaixo deste escrito aparecem, destacados, uns termos que estava
previsto incluir no meio dos textos, pois que, sem dúvida, estão em
sintonia com o carácter ambíguo do que mal escrevi. Os deixo passar
com a certeza de que o leitor, ou leitora, os podem arrumar
convenientemente no lugar devido do contexto (esta
do contexto é boa, podem guardar para as palavras cruzadas)
Assimilação
Compenetrar-se de ideias ou
sentimentos alheios. Tornar-se semelhante. O oposto da segregação.
Não confundir com as gorduras corporais excessivas, fruto da
assimilação dos excessos alimentares; mesmo nas pessoas que afirmam
que até a água os engorda (?)
Miscigenação
Assimilação por mestiçagem,
sem pretender a igualdade. Nada de confusões! Nem todos podem vir a
ser um Almada Negreiros, ou um presidente de governo. O a fadista
Míssia, que não é carne nem peixe.
Pragmatismo
Valorizar só o que nos seja
útil. Pode-se utilizar, erradamente, como um falso sinónimo de
cinismo.
Segregação
Opor-se, até com violência,
à mistura racial. Promove a separação, o isolamento, castigando os
atrevimentos de convivência, excepto quando é o patrão que os
procura. Os cidadãos de terceira que querem galgar para a primeira
especial e reservada sabem que devem aguentar com atitudes
segregacionistas por parte dos que não os aceitam como seus pares.
Pelo menos enquanto não tenham amassado grandes fortunas, sem
trabalhar, como é óbvio.
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