E
O PEDRO NÃO PENSA NOUTRA COISA
Em
verdade ele quer é “coisar”, seja com quer for. Até uma burra
sem saias lhe daria prazer! Mesmo assim, nestes momentos “solenes”
ele só pensa na Inês (pereira), enquanto, à falta de melhor,
manipula Constança com mãos de mestre -de obras-, enquanto
de relance pisca o olho à Inês.
Constança,
que nem sequer aprecia as lides de Cupido, finge-se descomposta, com
dores de cabeça, que ela, com fingida timidez atribui à um
prenúncio do famoso “incómodo”. Se Pedro estivesse interessado
em seguir o calendário e, além disso, soubesse alguns rudimentos da
fisiologia das mulheres, já teria descoberto que era impossível Constança ter tantas visitas de ingleses, quase semanalmente. Teria
que estar mesmo doente...
Mas
vamos ao assunto que nos chama a atenção.
Dom
Pedro “o fodilhão” aguardou, com semblante compungido, que a
Dona Constança, sua amada esposa, se decidisse a retirar para os
seus aposentos e depois de se mostrar atencioso e com reverencias
contínuas, andando às arrecuas, deixou a real companheira junto aos
fieis serviçais, entre eles o bobo preferido -que
mais adiante e se surgir uma oportunidade, veremos justificava a fama
de ser um anão, gracioso, com dichotes e ocorrências que provocavam
a risota mesmo às pessoas mais sisudas. Mas, também, tal como tem
fama os anões, o que lhe faltava em altura era sobradamente
compensado em comprimento do seu aparelho urogenital-
muito gabado pelas aias,
criadas, cozinheiras, lavandeiras e paneleiros da corte. Nem se
entende como o dito Bobo, de nome Gaspar o Bem Armado, conseguia
satisfazer tantos orifícios. Devia tomar muito leite com cacau, ou
outra porção revigorante.
El
Pedro, que viria a ser apelidado de Cruel, tal como um seu primo lá
das Castelas, sem tardança dirigiu-se para o ponto de encontro
(tinha um grande X
marcado no chão) e
lá estava a Inês (a nespereira perdeu as folhas devido a uma mija de cão raivoso)
lendo uma revista de mexericos, com muitas fotos e notícias falsas,
inventadas ao gosto e desejo das ávidas leitoras.
-
Então, seu Pedro, minha Alteza Real, já se livrou dos seus deveres
conjugais? Com descarga seminal ou só com boas palavras?
-
Inês, não sejas má para mim, tu que estás boa como o pão-de-ló
de Avintes, Atrintas e até Aoitentas à hora. Sabes que pão de
milho ou de centeio não é o meu forte. Mas, respondendo ao que
inquiriste, sim, por sorte Constança alegou que estava prestes a
ficar historiada e eu, se bem que contente, mostrei-me muito
constrangido. Suspirei e disse baixinho, mas de modo que ela ouvisse:
Que pena, e logo agora que eu queria cumprir com o meu dever de
esposo amante e fiel.
-
Pedro, és mais falso do que uma dobra de latão. Quem não te
conheça que te compre. Mas sabes tantas artes amatórias, que
aplicas tanto nos corredores como no campo ou sobre uma cama, que eu
não consigo resistir. Sabes bem que és um garanhão.
-
Pois sei. A minha irmã diz a mesma coisa. E até a minha mãe, que
ficou derreada com a minha derradeira cavalgada com ela. E disso
faleceu. Que Deus a tenha na sua glória e lhe deixe a seu mando uns
arcanjos com armamento maiúsculo, para ver se a satisfazem. Que bem
merece. Tadinha.
-
E então, tens alguma ideia na mente, que não seja exclusivamente o
fornicar, que de tal já nem duvido.
-
Por acaso sim. Estive pensando em darmos um passeio até Alcobaça e
ver como andam as obras no magnífico mosteiro que os frades de
Cluny ou do Cister, estão levantando, com o esforço da gleba que
lhes foi graciosamente atribuída, com todos os direitos, desde o
de pernada até ao Pelourinho e forca se o réu não fosse
indispensável. Se o espaço nos agradar podíamos marcar uma
residência onde descansar tempos eternos. Bem sabes que estamos
neste mundo por um tempo reduzido, marcado, mas que desconhecemos
quando será o nosso derradeiro suspiro. E quem refere suspiros
podem ser beijinhos das Caldas, que não cavacas, que são mais
secas do que … não digo!
E
depois de ajoelhar e fingir que rezamos perante a Santa Cruz, muito
sensibilizados e pesarosos, podemos rumar para o Convento de Santa
Maria de Cós, afamado pela hospitalidade das suas acolhedoras
freiras e também pela excelente doçaria. Nunca lá estive, mas
chegaram-me referências de que tem formosas freiras, nada ariscas e
que já deram frutos em quantidade à nobreza que as visitou, motivo
pelo qual, sendo respeitosas da vida dos humanos, organizaram um
infantário e até uma escola para os anjinhos que alí se geraram.
Dizem
que existe um túnel, subterrâneo portanto, que liga o mosteiro do
Cister com este Convento. Deve ser para prevenir incêndios ou
inundações, apesar que os túneis habitualmente estão numa cota
inferior e portanto atreitos a ficar inundados. As más línguas, que
sempre proliferaram, dizem que é frequentado pelos monjes, em grupos
de quatro, escolhidos por sorteio ao almoço da comunidade.
-
Vamos até Alcobaça e Cós, ali poderei descansar enquanto tu te
distrais com algumas irmãs. Se o que te disseram corresponde à
verdade. E neste entretanto engordarei um pouco com os doces que
dizes serem de muita nomeada. Se os fados me acompanharem poderei
apaladar uma ginjinha preparada por aquelas fadas, que é bem melhor
do que outras que por aí circulam, em milhares de garrafas.
Seguirá,
se o nosso Deus consentir, uma relação das coscuvilhices que as
engraçadas e desenvoltas irmãs me contaram. Inês.
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