quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

O PRESSÁGIO DE ALCOBAÇA


E O PEDRO NÃO PENSA NOUTRA COISA

Em verdade ele quer é “coisar”, seja com quer for. Até uma burra sem saias lhe daria prazer! Mesmo assim, nestes momentos “solenes” ele só pensa na Inês (pereira), enquanto, à falta de melhor, manipula Constança com mãos de mestre -de obras-, enquanto de relance pisca o olho à Inês.

Constança, que nem sequer aprecia as lides de Cupido, finge-se descomposta, com dores de cabeça, que ela, com fingida timidez atribui à um prenúncio do famoso “incómodo”. Se Pedro estivesse interessado em seguir o calendário e, além disso, soubesse alguns rudimentos da fisiologia das mulheres, já teria descoberto que era impossível Constança ter tantas visitas de ingleses, quase semanalmente. Teria que estar mesmo doente...

Mas vamos ao assunto que nos chama a atenção.

Dom Pedro “o fodilhão” aguardou, com semblante compungido, que a Dona Constança, sua amada esposa, se decidisse a retirar para os seus aposentos e depois de se mostrar atencioso e com reverencias contínuas, andando às arrecuas, deixou a real companheira junto aos fieis serviçais, entre eles o bobo preferido -que mais adiante e se surgir uma oportunidade, veremos justificava a fama de ser um anão, gracioso, com dichotes e ocorrências que provocavam a risota mesmo às pessoas mais sisudas. Mas, também, tal como tem fama os anões, o que lhe faltava em altura era sobradamente compensado em comprimento do seu aparelho urogenital- muito gabado pelas aias, criadas, cozinheiras, lavandeiras e paneleiros da corte. Nem se entende como o dito Bobo, de nome Gaspar o Bem Armado, conseguia satisfazer tantos orifícios. Devia tomar muito leite com cacau, ou outra porção revigorante.

El Pedro, que viria a ser apelidado de Cruel, tal como um seu primo lá das Castelas, sem tardança dirigiu-se para o ponto de encontro (tinha um grande X marcado no chão) e lá estava a Inês (a nespereira perdeu as folhas devido a uma mija de cão raivoso) lendo uma revista de mexericos, com muitas fotos e notícias falsas, inventadas ao gosto e desejo das ávidas leitoras.

- Então, seu Pedro, minha Alteza Real, já se livrou dos seus deveres conjugais? Com descarga seminal ou só com boas palavras?

- Inês, não sejas má para mim, tu que estás boa como o pão-de-ló de Avintes, Atrintas e até Aoitentas à hora. Sabes que pão de milho ou de centeio não é o meu forte. Mas, respondendo ao que inquiriste, sim, por sorte Constança alegou que estava prestes a ficar historiada e eu, se bem que contente, mostrei-me muito constrangido. Suspirei e disse baixinho, mas de modo que ela ouvisse: Que pena, e logo agora que eu queria cumprir com o meu dever de esposo amante e fiel.

- Pedro, és mais falso do que uma dobra de latão. Quem não te conheça que te compre. Mas sabes tantas artes amatórias, que aplicas tanto nos corredores como no campo ou sobre uma cama, que eu não consigo resistir. Sabes bem que és um garanhão.

- Pois sei. A minha irmã diz a mesma coisa. E até a minha mãe, que ficou derreada com a minha derradeira cavalgada com ela. E disso faleceu. Que Deus a tenha na sua glória e lhe deixe a seu mando uns arcanjos com armamento maiúsculo, para ver se a satisfazem. Que bem merece. Tadinha.

- E então, tens alguma ideia na mente, que não seja exclusivamente o fornicar, que de tal já nem duvido.

- Por acaso sim. Estive pensando em darmos um passeio até Alcobaça e ver como andam as obras no magnífico mosteiro que os frades de Cluny ou do Cister, estão levantando, com o esforço da gleba que lhes foi graciosamente atribuída, com todos os direitos, desde o de pernada até ao Pelourinho e forca se o réu não fosse indispensável. Se o espaço nos agradar podíamos marcar uma residência onde descansar tempos eternos. Bem sabes que estamos neste mundo por um tempo reduzido, marcado, mas que desconhecemos quando será o nosso derradeiro suspiro. E quem refere suspiros podem ser beijinhos das Caldas, que não cavacas, que são mais secas do que … não digo!

E depois de ajoelhar e fingir que rezamos perante a Santa Cruz, muito sensibilizados e pesarosos, podemos rumar para o Convento de Santa Maria de Cós, afamado pela hospitalidade das suas acolhedoras freiras e também pela excelente doçaria. Nunca lá estive, mas chegaram-me referências de que tem formosas freiras, nada ariscas e que já deram frutos em quantidade à nobreza que as visitou, motivo pelo qual, sendo respeitosas da vida dos humanos, organizaram um infantário e até uma escola para os anjinhos que alí se geraram.

Dizem que existe um túnel, subterrâneo portanto, que liga o mosteiro do Cister com este Convento. Deve ser para prevenir incêndios ou inundações, apesar que os túneis habitualmente estão numa cota inferior e portanto atreitos a ficar inundados. As más línguas, que sempre proliferaram, dizem que é frequentado pelos monjes, em grupos de quatro, escolhidos por sorteio ao almoço da comunidade.

- Vamos até Alcobaça e Cós, ali poderei descansar enquanto tu te distrais com algumas irmãs. Se o que te disseram corresponde à verdade. E neste entretanto engordarei um pouco com os doces que dizes serem de muita nomeada. Se os fados me acompanharem poderei apaladar uma ginjinha preparada por aquelas fadas, que é bem melhor do que outras que por aí circulam, em milhares de garrafas.

Seguirá, se o nosso Deus consentir, uma relação das coscuvilhices que as engraçadas e desenvoltas irmãs me contaram. Inês.

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