A DIREITA MAIS A ESQUERDA COMPLEMENTAM-SE
Penso
que só um doente mental, em estado crítico, pode sentir a infeliz
ideia de amputar uma das suas mãos. Talvez por entender que uma
delas não tem o seu agrado, e daí que mais vale a deitar fora. Como
se faz, habitualmente, com os jornais depois de os ler. E por vezes
mesmo antes de os abrir e folhear. Coisas... que acontecem.
Se
atendermos às frases feitas que utilizamos com alguma frequência,
uma delas nos valoriza a utilidade de ambas mãos, sem se parar em
considerações sobre se o utente destes membros é destro ou
canhoto. Quando dizemos que UMA MÃO LAVA A OUTRA, o mais normal é
que a mensagem tenha um alcance muito mais ampla do que o simples
valorizar das nossas próprias extremidades superiores.
E
o incitamento para debater esta diferença entre as mãos direita e
esquerda surgiu, como é de prever, quando estava lendo assuntos de
política que implicavam exclusão ou obsessão. Uma situação
em incremento em algumas fases da vida comunitária. Se no caso de
atacar um quantitativo pouco representativo da sociedade não nos
causa engulhos, o mesmo não se pode dizer quando os ânimos se
inflamam e, por motivos tantas vezes sem grande importância, as
discussões originam incompatibilidades que, caso não se deitar água
na fervura, podem originar conflitos armados, locais, nacionais ou
até entre países e zonas geográficas.
Um
assunto que imagino não é considerado como potencialmente perigoso
pela maioria dos cidadãos, mas que se deve observar com atenção é
a proliferação dos movimentos de contestação violenta e,
simultaneamente, o ressurgir dos partidos de direita com
características de neo-fascismo. Curiosamente o sector de extrema
esquerda não tem tido um crescimento equiparável. Reconhecem-se as
razões deste declínio.
Podemos
deduzir que, para a população que se auto considera a-política,
ainda está mais condicionada pelos relatos em que denunciam
barbaridades cometidas por governos de esquerda, desde socialistas,
mais ou menos puros, até comunistas Estalinista ou Maoista, do que
das memórias, já pouco expostas, dos crimes cometidos por governos
de extrema direita.
Parece
que a população ocidental, depois de aderir plenamente à chamada
Sociedade de Consumo (por não ter outra solução factível) se
acomodou numa visão de “paz e trabalho”, e que o resto vai-se
vendo ao longo dos dias. É uma versão actualizada da histórica
paz romana, identificada pela táctica de PÃO E CIRCO, que não
é tão estável e satisfatória como se pode imaginar, porque não
abrange, com as mesmas facilidades, todas as a camadas da sociedade.
E daí que os há que se sentem discriminados, com razões de peso.
São estes descontentes o alvo procurado pelos demagogos que desejam
ver romper a sociedade actualmente sossegada, e ir aos conflitos
sangrentos. Os mais astutos entre estes promotores sabem que, caso
tiverem sucesso nos seus propósitos, nada lhes acontecerá
pessoalmente, a não ser o conseguirem entrar em algum dos muitos
negócios chorudos que sempre acompanham os problemas sociais de
vulto.
Muitos
de nós, admitindo que o meu modo de pensar tem alguma possibilidade
de se igualar ao de um lote de cidadãos tranquilos, estamos
descrentes de um reviver do comunismo, seja de tipo Marxista ou Maoista, não tememos, nem desejamos, este retorno. Mas deixamos de
dar importância à insistência de espertar as chamas do fascismo. E
os pirómanos existem, estão por aí! Desta feita agarram em temas
de actualidade, manipulando as situações de modo a que se vejam
perigos graves em factos que não são novos na história e que na
maioria das vezes se resolveram por adaptação e assimilação.
Temos,
como exemplo, a questão do declínio da população no ocidente da
Europa, nomeadamente de a substituição dos mortos e reformados por
novos elementos que entrem na vida produtiva. Não é a desejada,
entre outras razões porque surgem mais empregos mal pagos enquanto
que as novas gerações se sentem preparadas (estão de facto?
Todos?) para escalões com remunerações mais elevadas.
Na
maioria das nações europeias o deficit de activos humanos
acentuou-se. A solução mais imediata, e que se utilizou em muitas
fases da vida europeia, foi a de aceitar e integrar gentes vindas de
outras zonas do globo. E nem sempre a assimilação dos forasteiros
foi total, embora deixasse de preocupar nalguns casos. O exemplo mais
imediato é o da chegada, já no séc XVIII de levas de ciganos,
vindos inicialmente do industão, mas depois deslocados dos países
europeus mais a leste onde se instalaram, alternando o seu ancestral
nomadismo com o sedentarismo, enquanto os indígenas os aturassem sem
os rejeitar.
Hoje,
as migrações já não constituem novidade pois que após as duas
guerras mundiais a Europa recebeu muitos indivíduos vindos de países
vizinhos e outros de continentes afastados. O que utiliza a propagando
de extrema-direita, sem ter que se esforçar muito, são os
argumentos da cor da pele e de adeptos a religiões estruturadas não cristãs. São diferenças indissolúveis ou difíceis de mudar para
conseguir uma assimilação. Estes dois conceitos são os argumentos
de peso, apesar de raramente os referirem abertamente, para incitar
os europeus a não aceitar as multidões de imigrantes que tentam,
com riscos de vida não desprezíveis, chegar ao seu ilusionado Éden.
Com esta bandeira de rejeição os movimentos de estrema-direita
ganham, todos os dias, mais adeptos, e estes novos adeptos não sabem
ou nem querem saber do problema onde se arriscam a meter.
Muitas
vezes dizemos que NO MEIO ESTÁ A VIRTUDE, e eu acrescento: E A POUCA
VERGONHA MAIS O DEBOCHE. Menos caricato mas muito mais sensato era o que
o meu pai, falecido, me dizia: As pessoas que não querem entrar
nos extremos levam tareia dos dois lados.
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