terça-feira, 19 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – Temos duas mãos



 A DIREITA MAIS A ESQUERDA COMPLEMENTAM-SE

Penso que só um doente mental, em estado crítico, pode sentir a infeliz ideia de amputar uma das suas mãos. Talvez por entender que uma delas não tem o seu agrado, e daí que mais vale a deitar fora. Como se faz, habitualmente, com os jornais depois de os ler. E por vezes mesmo antes de os abrir e folhear. Coisas... que acontecem.

Se atendermos às frases feitas que utilizamos com alguma frequência, uma delas nos valoriza a utilidade de ambas mãos, sem se parar em considerações sobre se o utente destes membros é destro ou canhoto. Quando dizemos que UMA MÃO LAVA A OUTRA, o mais normal é que a mensagem tenha um alcance muito mais ampla do que o simples valorizar das nossas próprias extremidades superiores.

E o incitamento para debater esta diferença entre as mãos direita e esquerda surgiu, como é de prever, quando estava lendo assuntos de política que implicavam exclusão ou obsessão. Uma situação em incremento em algumas fases da vida comunitária. Se no caso de atacar um quantitativo pouco representativo da sociedade não nos causa engulhos, o mesmo não se pode dizer quando os ânimos se inflamam e, por motivos tantas vezes sem grande importância, as discussões originam incompatibilidades que, caso não se deitar água na fervura, podem originar conflitos armados, locais, nacionais ou até entre países e zonas geográficas.

Um assunto que imagino não é considerado como potencialmente perigoso pela maioria dos cidadãos, mas que se deve observar com atenção é a proliferação dos movimentos de contestação violenta e, simultaneamente, o ressurgir dos partidos de direita com características de neo-fascismo. Curiosamente o sector de extrema esquerda não tem tido um crescimento equiparável. Reconhecem-se as razões deste declínio.

Podemos deduzir que, para a população que se auto considera a-política, ainda está mais condicionada pelos relatos em que denunciam barbaridades cometidas por governos de esquerda, desde socialistas, mais ou menos puros, até comunistas Estalinista ou Maoista, do que das memórias, já pouco expostas, dos crimes cometidos por governos de extrema direita.

Parece que a população ocidental, depois de aderir plenamente à chamada Sociedade de Consumo (por não ter outra solução factível) se acomodou numa visão de “paz e trabalho”, e que o resto vai-se vendo ao longo dos dias. É uma versão actualizada da histórica paz romana, identificada pela táctica de PÃO E CIRCO, que não é tão estável e satisfatória como se pode imaginar, porque não abrange, com as mesmas facilidades, todas as a camadas da sociedade. E daí que os há que se sentem discriminados, com razões de peso. São estes descontentes o alvo procurado pelos demagogos que desejam ver romper a sociedade actualmente sossegada, e ir aos conflitos sangrentos. Os mais astutos entre estes promotores sabem que, caso tiverem sucesso nos seus propósitos, nada lhes acontecerá pessoalmente, a não ser o conseguirem entrar em algum dos muitos negócios chorudos que sempre acompanham os problemas sociais de vulto.

Muitos de nós, admitindo que o meu modo de pensar tem alguma possibilidade de se igualar ao de um lote de cidadãos tranquilos, estamos descrentes de um reviver do comunismo, seja de tipo Marxista ou Maoista, não tememos, nem desejamos, este retorno. Mas deixamos de dar importância à insistência de espertar as chamas do fascismo. E os pirómanos existem, estão por aí! Desta feita agarram em temas de actualidade, manipulando as situações de modo a que se vejam perigos graves em factos que não são novos na história e que na maioria das vezes se resolveram por adaptação e assimilação.

Temos, como exemplo, a questão do declínio da população no ocidente da Europa, nomeadamente de a substituição dos mortos e reformados por novos elementos que entrem na vida produtiva. Não é a desejada, entre outras razões porque surgem mais empregos mal pagos enquanto que as novas gerações se sentem preparadas (estão de facto? Todos?) para escalões com remunerações mais elevadas.

Na maioria das nações europeias o deficit de activos humanos acentuou-se. A solução mais imediata, e que se utilizou em muitas fases da vida europeia, foi a de aceitar e integrar gentes vindas de outras zonas do globo. E nem sempre a assimilação dos forasteiros foi total, embora deixasse de preocupar nalguns casos. O exemplo mais imediato é o da chegada, já no séc XVIII de levas de ciganos, vindos inicialmente do industão, mas depois deslocados dos países europeus mais a leste onde se instalaram, alternando o seu ancestral nomadismo com o sedentarismo, enquanto os indígenas os aturassem sem os rejeitar.

Hoje, as migrações já não constituem novidade pois que após as duas guerras mundiais a Europa recebeu muitos indivíduos vindos de países vizinhos e outros de continentes afastados. O que utiliza a propagando de extrema-direita, sem ter que se esforçar muito, são os argumentos da cor da pele e de adeptos a religiões estruturadas não cristãs. São diferenças indissolúveis ou difíceis de mudar para conseguir uma assimilação. Estes dois conceitos são os argumentos de peso, apesar de raramente os referirem abertamente, para incitar os europeus a não aceitar as multidões de imigrantes que tentam, com riscos de vida não desprezíveis, chegar ao seu ilusionado Éden. Com esta bandeira de rejeição os movimentos de estrema-direita ganham, todos os dias, mais adeptos, e estes novos adeptos não sabem ou nem querem saber do problema onde se arriscam a meter.

Muitas vezes dizemos que NO MEIO ESTÁ A VIRTUDE, e eu acrescento: E A POUCA VERGONHA MAIS O DEBOCHE. Menos caricato mas muito mais sensato era o que o meu pai, falecido, me dizia: As pessoas que não querem entrar nos extremos levam tareia dos dois lados.

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