sábado, 23 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – No topo da pirâmide




É DESEJÁVEL UMA CERTA RESERVA?

Seja qual for o cariz do governo vigente num país, ou mesmo num clube privado, sempre se encontra uma pessoa que fica colocada no tipo da pirâmide, não só representando o comando do grupo como, maiormente, de toda a população. Estar situado neste topo, num equilíbrio muitas vezes precário, mesmo numa monarquia fortemente sedimentada, implica que o ali instalado tenha um comportamento, uma atitude, que não inspire críticas desnecessárias. Dentro destes cuidados de imagem certamente que se deve ponderar evitar um excesso de exposição.

Se nas ditaduras, com um indivíduo no topo da hierarquia, a manutenção da imagem depende, essencialmente, da capacidade de propaganda do seu sistema de apoio, paralelamente com o cuidado extremo e fiel da censura e guarda-costas, mais a repressão política, a quem lhes está determinado que, por todos os meios disponíveis, procurem ter a seu “cabeça de cartaz” protegido, não só fisicamente como das opiniões que o pretendem desprestigiar e depois derrubar o esquema que aguenta o poder, já nos regimes democráticos esta pressão ou mais propriamente ameaça de repressão, tantas vezes efectiva e cruel, não é aceite.

Tomando o exemplo das notas de banco, seja qual for o seu valor e país onde circulam, as entidades que emitem este papel-moeda sabem que o manuseamento de certas cédulas (um termo mais usado no Brasil do que em Portugal) implica a sua degradação física. Que não é o mesmo do que a diminuição do seu poder de compra, por inflacção. Daí que mesmo que o valor real da moeda se mantenha quase que inalterável, a entidade emissora se encarrega de mandar recolher as notas deterioradas e as substituir por novas impressões. É assim que funciona, em todos os países.

A similitude que se pode encontrar entre um excesso de reserva ou, pelo contrário, uma ininterrupta exposição à população, pode levar a considerar que é pertinente manter uma dose de restrição. NEM OITO NEM OITENTA. Aceitar o meio termo é mais propício. Que todos os extremos podem ser prejudiciais.

Para exemplificar temos a referência histórica da clausura em que a casa imperial japonesa se mantinha até o desastre da segunda guerra mundial. Hoje já é mais frequente a exposição dos membros da realeza japonesa, não só entre os seus cidadãos como até fora do seu País. Mesmo assim, não imaginamos que um cidadão nipónico receie encontrar o seu imperador quando abre a porta de um armário, ou sentado na sua sanita. Pouco nos falta!

Aqui, onde vivemos, já começamos a duvidar do critério do Presidente da República em quando e donde se entende seria aconselhável aparecer, para receber o bafo da multidão, distribuir beijinhos protocolares (?) e aceitar ser fotografado face-a-face com ilustres desconhecidos, mesmo que cidadãos com todos os direitos que a constituição lhes garantem.

Algumas pessoas, e desconheço se são muitas ou poucas, entendem que o Presidente da República é uma figura a respeitar, sem necessidade de dar-lhe os famosos chi-coração da popularidade destravada, mais próprios para as estrelas cadentes da fama social.

Há quem opine que este comportamento, fingidamente tão aberto e popularucho é uma táctica, bem pensada e melhor seguida, para lavar o seu passado, comprometido com o regime ditatorial anterior. O evoluir da sociedade vai deslindar esta, e outras, dúvidas. Ou até pode ser que tudo se aceite com bonomia e desportivismo. Não daquele vergonhoso das claques de futebol. Que já se está espalhando noutras modalidades.

É tão fácil e atractivo tentar a popularidade desmedida...



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