segunda-feira, 4 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES .- Entrar em polémicas




Sem desejar terminamos caindo

Escrever é como coçar. O pior é começar. Depois só para se nos esforçarmos, mentalmente, por esquecer a comichão. No tema de hoje; ou seja das polémicas, é o impulso de responder a quem nos increpa, mesmo que não se mostre uma identificação concreta do alvo, é que nos pode incitar a entrar no debate, em geral estéril. Neste espaço, porém, tenho a sorte (?) de que ninguém está interessado em apoiar ou rebater. Nem sequer para pedir um esclarecimento. Portanto tentar criar aqui uma polémica é tempo perdido. Termino “falando para o boneco”, que é uma situação muito desmoralizadora, ou, mais seriamente, deixando o teclado sossegado durante uns tempos

Em chegando a este ponto salta a pergunta: E porque sentimos que estamos falando para o boneco? Ou o seu equivalente mais representativo, de que se deve inculpar o orador quando percebe que ninguém naquela sala, ou num dos meios de difusão actuais, não lhe está prestando um mínimo de atenção? O culpado é ele, por não ser capaz de interessar uma audiência. Se chegar a esta conclusão só tem um caminho: enrolar a trouxa e recolher a penates (1) Uma pequena história que ouvia referir ao meu pai dizia”o sinal mais potente de que deves terminar de falar é quando alguém à tua frente não só olha o relógio como até o sacuda (para ver se funciona!)

No meu caso concreto -que em português chamamos de betão- o estar ciente de que não tenho quórum é um facto comprovado desde inicio, ou quase, e se eu tivesse um mínimo de respeito por mim próprio já me tinha decidido a fechar a matraca. Todavia, quando nos entra na pele uma coceira...

E, quase que por casualidade, encontrei um poço, sem fundo, onde são muitos aqueles que não resistem a lançar a sua pedra. Ou menos violentamente será dizer: dar a sua opinião, em geral rebatendo a do outro. E se os ânimos estiverem exaltados ou a educação do indígena for fraca, então inclusive podem chegar a ser insultantes. Já estamos fartos de saber que o anonimato favorece, e muito, a predisposição de denegrir, insultar, desacreditar, aquele que por vezes não se identificou, mas que, mesmo assim, pode dar muita satisfacção derrubar. Ou pelo menos tentar prostrar, sempre e tanto que seja factível atingir este efeito recorrendo ao anonimato ou ao seu equivalente pseudónimo.

Regressando ao início: Se coçar e comer são duas actividades que consideramos anímicamente gratificantes, o polemizar deve-se juntar, sem dúvida alguma. Quantas pessoas procuram criar uma polémica geral e uma vez acesa se retiram para a zona dos espectadores anónimos para ali poder desfrutar da luta de galos, e até lançar bocas de incitamento?

Um dos campos onde facilmente se pode iniciar uma polémica, ou meter um pé dentro se já está em cartaz, é o da política nacional. É ali onde se podem referir e comentar os problemas que atingem a cada um de nós, ou pelo menos aqueles temas que se sabe de antemão que podem incitar outros tontos sem nada melhor para fazer. Mas, este campo de temático torna-se sumamente tedioso quando se volta no dia seguinte. Chega-se à conclusão, imediata, que equivale ao discutir o sexo dos anjos. Situação que não se esclareceu totalmente quando os artistas imaginaram estes seres com um tímido pirilau, no caso de pretenderem representar anjos do sexo masculino, pois que as “anjas” com o corte característico, mesmo que cuidadosamente depilado, não deviam ser aceites pelo cliente quando chegava o momento de receber os honorários da encomenda. Voltavam a surgir aqueles panos esvoaçantes, que não se descobre onde se seguravam, mas que censuravam os anseios dos mirones.


(1) Penates corresponde ao lar paterno, a casa. Também se diria “fechar a loja”

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