Sem
desejar terminamos caindo
Escrever
é como coçar. O pior é começar. Depois só para se nos
esforçarmos, mentalmente, por esquecer a comichão. No tema de hoje;
ou seja das polémicas, é o impulso de responder a quem nos increpa,
mesmo que não se mostre uma identificação concreta do alvo, é que
nos pode incitar a entrar no debate, em geral estéril. Neste espaço,
porém, tenho a sorte (?) de que ninguém está interessado em apoiar
ou rebater. Nem sequer para pedir um esclarecimento. Portanto tentar
criar aqui uma polémica é tempo perdido. Termino “falando para o
boneco”, que é uma situação muito desmoralizadora, ou, mais
seriamente, deixando o teclado sossegado durante uns tempos
Em
chegando a este ponto salta a pergunta: E porque sentimos que estamos
falando para o boneco? Ou o seu equivalente mais representativo, de
que se deve inculpar o orador quando percebe que ninguém naquela
sala, ou num dos meios de difusão actuais, não lhe está prestando
um mínimo de atenção? O culpado é ele, por não ser capaz de
interessar uma audiência. Se chegar a esta conclusão só tem um
caminho: enrolar a trouxa e recolher a penates (1) Uma pequena
história que ouvia referir ao meu pai dizia”o sinal mais potente
de que deves terminar de falar é quando alguém à tua frente não só
olha o relógio como até o sacuda (para ver se funciona!)
No
meu caso concreto -que em
português chamamos de betão- o estar ciente de que não
tenho quórum é um facto comprovado desde inicio, ou quase, e se eu
tivesse um mínimo de respeito por mim próprio já me tinha decidido
a fechar a matraca. Todavia, quando nos entra na pele uma coceira...
E,
quase que por casualidade, encontrei um poço, sem fundo, onde são
muitos aqueles que não resistem a lançar a sua pedra. Ou menos
violentamente será dizer: dar a sua opinião, em geral rebatendo a
do outro. E se os ânimos estiverem exaltados ou a educação do
indígena for fraca, então inclusive podem chegar a ser insultantes.
Já estamos fartos de saber que o anonimato favorece, e muito, a
predisposição de denegrir, insultar, desacreditar, aquele que por
vezes não se identificou, mas que, mesmo assim, pode dar muita
satisfacção derrubar. Ou pelo menos tentar prostrar, sempre e tanto
que seja factível atingir este efeito recorrendo ao anonimato ou ao
seu equivalente pseudónimo.
Regressando
ao início: Se coçar e comer são duas actividades que consideramos
anímicamente gratificantes, o polemizar deve-se juntar, sem dúvida alguma. Quantas pessoas procuram criar uma polémica geral e uma vez
acesa se retiram para a zona dos espectadores anónimos para ali
poder desfrutar da luta de galos, e até lançar bocas de
incitamento?
Um
dos campos onde facilmente se pode iniciar uma polémica, ou meter um
pé dentro se já está em cartaz, é o da política nacional. É ali
onde se podem referir e comentar os problemas que atingem a cada um
de nós, ou pelo menos aqueles temas que se sabe de antemão que
podem incitar outros tontos sem nada melhor para fazer. Mas, este
campo de temático torna-se sumamente tedioso quando se volta no dia
seguinte. Chega-se à conclusão, imediata, que equivale ao discutir
o sexo dos anjos. Situação que não se esclareceu totalmente
quando os artistas imaginaram estes seres com um tímido pirilau, no
caso de pretenderem representar anjos do sexo masculino, pois que as
“anjas” com o corte característico, mesmo que cuidadosamente
depilado, não deviam ser aceites pelo cliente quando chegava o
momento de receber os honorários da encomenda. Voltavam a surgir
aqueles panos esvoaçantes, que não se descobre onde se seguravam,
mas que censuravam os anseios dos mirones.
(1)
Penates
corresponde ao lar paterno, a casa. Também se diria “fechar a
loja”
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