sábado, 9 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES - Os mitómanos são imputáveis ?



Como reage a sociedade e como os trata a lei?

Ao longo da vida e desde a infância, nos deparamos com sujeitos que são capazes de afirmar factos tão inverossímeis e numa continuidade tal que não tardamos em os qualificar como mentirosos compulsivos. A nossa reacção, defensiva, é de fazer ouvidos moucos, pois que se sabe não valer a pena argumentar com estas personagens. Estão tão treinados que escorrem como enguias. Saltam para outro tema e não tentam defender o que até o momento anterior davam como certo e seguro.

Mais difíceis de lidar são aqueles mentirosos, de capacidade inventiva e convincentes em excesso, que, sem nos encarar pessoalmente, nem por isso deixam de nos afectar. Entre estes indivíduos os com maior peso para prejudicar colectivamente os simples cidadãos, que além de não estarem preparados para enfrentar, individualmente os bem colocados, sentem-se moralmente perdidos e indefesos, vítimas a imolar e com os olhos abertos são os que sabemos serem poderosos, uns por herança cromossómica ou de capital e outros porque nasceram com a capacidade de se aproveitar dos incautos.

Estou referindo -como já devem ter captado- e de um modo geral, sem puntualizar, aos que, genericamente, os qualificamos de “peixes graúdos”, sejam eles políticos ou blindados por grandes negócios, fortunas, compadrios e influências. Não é por mania que se admite o preceito de que Deus os cria e eles agrupam-se. O estarmos conscientes de que é practicamente impossível lutar contra este tipo de gente, não obsta a que o simples cidadão não se sinta vítima, revoltada, das manobras que certos mitómanos practicam impunemente. Nomeadamente quando se verifica, sem dificuldade, que a indignação é resultado de verificar que com estas fantasias se arrebatam parcelas consideráveis dos fundos públicos, que por não existir em excesso, reflectem-se em carências que afectam à maioria dos cidadãos contribuintes e carenciados.

Ao longo duma série de anos as pessoas tem assistido, estoicamente, a estas impunidades. Mas ao mesmo tempo esperam que as sentenças legais sejam de molde a nos satisfazer. Ou seja chegar, pelo menos, ao consolador “ganhar moralmente”. E este sonho, quase uma daquelas fantásticas miragens de água na estrada com o calor, seja o corolário de algumas das sentenças já proferidas nos derradeiros tempos. Tememos que este sonho não passe de um pesadelo, que nos defraude sem mostrar que a histórica e inamovível impunidade de grupo já está a ter algumas gretas.

Sabemos, os simples cidadãos, que não podemos pensar em dar sentenças sem uma base jurídica forte. Mas os portugueses já se sentem por demais defraudados por argumentações que nem uma criança de teta poderia admitir como correctas. Há notícias de jornais e de noticiários que, para o cidadão comum, até são insultuosas, tal é a alacridade argumental que apresentam.

Como, sensatamente, não aceitamos que o marchar a pé até um santuário, rezar o terço ou outras orações estereotipadas, acender velas devotamente, ou até oferecer uma fracção do capital que tanto custou a amealhar sejam métodos eficazes para conseguir uma justiça justa (e valha o pleonasmo, que certamente entenderam) não nos resta um caminho credível para onde solicitar ajuda. Saber que podemos esperar bons resultados na actuação da justiça, correcta e célere, seria o mais produtivo para o País.

O incorrigível pessimismo não nos garante, nem um pouco, que o vento sopre de feição para corrigir alguns males, que são endémicos, pois já duram por longas gerações.

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