“Eles”
são os culpados. Ou O AUMENTO DA ABSTENÇÃO
Caso
se alterasse o esquema de adjudicação dos votos pelos diferentes
concorrentes e fosse possível atribuir
algum poder de decisão aos abstencionistas -que não é.
do todo- deixaria de existir o
estigma de considerar estes não-eleitores, por decisão pessoal,
como uns descastados, uns não cidadãos, que se arvoaram como tendo
direito a ser uns críticos agudos à governação, seja ela qual
for, sem que sintam a necessidade, irresistível, de tentar alterar a
situação que consideram sem crédito.
O
facto de que, progressivamente, o volume de abstenção
tem mostrado tendência a aumentar,
é pertinente duvidar da má formação política destes membros
transviados. Serão todos uns negacionistas, uns adeptos das
ditaduras sejam de que sentido forem?
Não
me parece que estes cidadãos se coloquem de fora deste esquema
democrático por terem sido “catequizados” por uma central
derrotista. O problema é sobejamente conhecido.
É o descrédito em que
se colocaram, por interesses muito terrenos, os partidos que em princípio deviam representar quem não entrou no esquema dos
alevins de formação (1) dos partidos já radicados. Os compromissos
grupais e pessoais, que posteriormente irão decidir os seus votos e
opções caso cheguem a lugares com poder de decidir, raramente são
coincidentes com as necessidades da população
anónima, expressas nos
meios de comunicação social existentes e nas poucas rodas de amigos
que ainda persistem. Pois que são consideradas como as celebradas
vozes de burro,
que se diz não chegam ao céu.
Quando
através da comunicação social se dá conhecimento à população
de grandes abusos, desfalques, preferências, negociatas escuras,
etc., o cidadão anónimo está de prevenção acerca da isenção
dos meios de comunicação -admite
que todos eles estão na mão de grupos de interesses, que se
encarregam de delimitar o campo de notícias a editar- Então,
com uma certa dose de inocência pueril, pode-se duvidar de que seja
tanto assim; de que exista um nível poderoso de censura
interna.
A
explicação é simples. Estes grupos de poder, apesar de
habitualmente terem conexões entre eles, funcionam, até certo
ponto, como matilhas de cães vadios (a
possível ofensa não é casual...)
As administrações, lá no topo, admitem que um assunto que, em
princípio, pode tornar-se perigoso em geral e daí dar azo a
salpicar os seus próprios interesses. Ponderará os prós e contras,
e até optar por decidir que dar umas “facadas” no colega, sempre
escondendo a mão, pode ser benéfico para os seus próprios
interesses.
Sendo
assim, muitas das denúncias e processos podem ter uma dupla
finalidade. Por um lado dar
engodo ao povo,
sem entregar as boas cartas do jogo. E por outro saber que os meios,
subterrâneos, que se forjaram, não permitirão que alguém dos seus
-mesmo que inimigo
na competição corporativa-
seja ajustiçado no Pelourinho.
Podemos
afirmar que estes processos, raramente terminam com grandes
sentenças e as poucas que se dão não se cumprem. Não passam de
teatro. De fogo de vista para entreter
o pagode.
E
então? Como incitar os indecisos e abstencionistas, que com o seu
virar de costas continuam a perpetuar esta nova ditadura
“democrática”?
Ah!
Se eu soubesse!... Seria equivalente à descoberta, ainda inédita,
da pedra filosofal,
da
transmutação do chumbo em oiro. Mesmo que se desse uma improvável
mudança radical na classe política, podemos desconfiar de não
demoraria a criar-se uma nova plêiade de vendidos, onde se
instalariam muitos dos que podiam ter sido banidos. A não ser que
toda aquela malta fosse desterrada para a Antártida.
Do
que não podemos duvidar é que, a estrutura existente, está mais
podre do que as naus onde o Marquês embarcou os seus amados
jesuítas.
(1)
Os
alevins, ou mais concretamente, os novos elementos que se captam para
vir a integrar os blocos, são o que hoje conhecemos como os JJs.
Nada de novo sob o céu. Salazar tinha a sua legião e os lusitos,
mais a mocidade portuguesa, com camisas verdes. Hitler tinha os jovens lobos, e depois os SS, com camisa de farda militar.
Mussolini criou os balilas, mais os camisas castanhas. Franco
aproveitou a Falange e ali inscreveu os mais jovens, com as suas
camisas azuis. Todos eles com fardas e fanfarras, desfiles com
bandeiras e emblemas com pretensões históricas Hoje as tácticas
são menos evidentes, mas igualmente eficazes. Já não interessa ter
uma multidão de adeptos, mas um bom grupo, enquadrado, de fieis.
Fidelidade que se consegue oferecendo lugares nos diferentes sectores
da função pública. Incluída a possibilidade de ingressar no
parlamento e daí dar mais uns saltos muito rentáveis.
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