sexta-feira, 13 de setembro de 2019

MEDITAÇÕES - Vale a pena ir votar ?



Eles” são os culpados. Ou O AUMENTO DA ABSTENÇÃO


Caso se alterasse o esquema de adjudicação dos votos pelos diferentes concorrentes e fosse possível atribuir algum poder de decisão aos abstencionistas -que não é. do todo- deixaria de existir o estigma de considerar estes não-eleitores, por decisão pessoal, como uns descastados, uns não cidadãos, que se arvoaram como tendo direito a ser uns críticos agudos à governação, seja ela qual for, sem que sintam a necessidade, irresistível, de tentar alterar a situação que consideram sem crédito.

O facto de que, progressivamente, o volume de abstenção tem mostrado tendência a aumentar, é pertinente duvidar da má formação política destes membros transviados. Serão todos uns negacionistas, uns adeptos das ditaduras sejam de que sentido forem?

Não me parece que estes cidadãos se coloquem de fora deste esquema democrático por terem sido “catequizados” por uma central derrotista. O problema é sobejamente conhecido. É o descrédito em que se colocaram, por interesses muito terrenos, os partidos que em princípio deviam representar quem não entrou no esquema dos alevins de formação (1) dos partidos já radicados. Os compromissos grupais e pessoais, que posteriormente irão decidir os seus votos e opções caso cheguem a lugares com poder de decidir, raramente são coincidentes com as necessidades da população anónima, expressas nos meios de comunicação social existentes e nas poucas rodas de amigos que ainda persistem. Pois que são consideradas como as celebradas vozes de burro, que se diz não chegam ao céu.

Quando através da comunicação social se dá conhecimento à população de grandes abusos, desfalques, preferências, negociatas escuras, etc., o cidadão anónimo está de prevenção acerca da isenção dos meios de comunicação -admite que todos eles estão na mão de grupos de interesses, que se encarregam de delimitar o campo de notícias a editar- Então, com uma certa dose de inocência pueril, pode-se duvidar de que seja tanto assim; de que exista um nível poderoso de censura interna.

A explicação é simples. Estes grupos de poder, apesar de habitualmente terem conexões entre eles, funcionam, até certo ponto, como matilhas de cães vadios (a possível ofensa não é casual...) As administrações, lá no topo, admitem que um assunto que, em princípio, pode tornar-se perigoso em geral e daí dar azo a salpicar os seus próprios interesses. Ponderará os prós e contras, e até optar por decidir que dar umas “facadas” no colega, sempre escondendo a mão, pode ser benéfico para os seus próprios interesses.

Sendo assim, muitas das denúncias e processos podem ter uma dupla finalidade. Por um lado dar engodo ao povo, sem entregar as boas cartas do jogo. E por outro saber que os meios, subterrâneos, que se forjaram, não permitirão que alguém dos seus -mesmo que inimigo na competição corporativa- seja ajustiçado no Pelourinho.

Podemos afirmar que estes processos, raramente terminam com grandes sentenças e as poucas que se dão não se cumprem. Não passam de teatro. De fogo de vista para entreter o pagode.

E então? Como incitar os indecisos e abstencionistas, que com o seu virar de costas continuam a perpetuar esta nova ditadura “democrática”?

Ah! Se eu soubesse!... Seria equivalente à descoberta, ainda inédita, da pedra filosofal, da transmutação do chumbo em oiro. Mesmo que se desse uma improvável mudança radical na classe política, podemos desconfiar de não demoraria a criar-se uma nova plêiade de vendidos, onde se instalariam muitos dos que podiam ter sido banidos. A não ser que toda aquela malta fosse desterrada para a Antártida.

Do que não podemos duvidar é que, a estrutura existente, está mais podre do que as naus onde o Marquês embarcou os seus amados jesuítas.

(1) Os alevins, ou mais concretamente, os novos elementos que se captam para vir a integrar os blocos, são o que hoje conhecemos como os JJs. Nada de novo sob o céu. Salazar tinha a sua legião e os lusitos, mais a mocidade portuguesa, com camisas verdes. Hitler tinha os jovens lobos, e depois os SS, com camisa de farda militar. Mussolini criou os balilas, mais os camisas castanhas. Franco aproveitou a Falange e ali inscreveu os mais jovens, com as suas camisas azuis. Todos eles com fardas e fanfarras, desfiles com bandeiras e emblemas com pretensões históricas Hoje as tácticas são menos evidentes, mas igualmente eficazes. Já não interessa ter uma multidão de adeptos, mas um bom grupo, enquadrado, de fieis. Fidelidade que se consegue oferecendo lugares nos diferentes sectores da função pública. Incluída a possibilidade de ingressar no parlamento e daí dar mais uns saltos muito rentáveis.

Sem comentários:

Enviar um comentário