segunda-feira, 2 de setembro de 2019

MEDITAÇÕES – Justifica-se o medo?



Porque o PS quer afastar o BE e até prefere o PCP?

Não é uma pergunta difícil de responder. O actual líder do PS é astuto e manhoso. Soube preparar os partidos mais virados para a sua posição teórica (a esquerda para o PS actual é mais pragmática com a realidade e daí menos exigente na aplicação de um programa antigo) Mas, obviamente, não o pode manifestar claramente à cidadania que, tradicionalmente, ainda se mantêm fiel ao que as siglas históricas lhe dizem.

Costa mostrou ser ambicioso e não se deixar travar por amizades anteriores nem por sentimentalismos. Foi ministro com Sócrates mas quando este seu camarada, e chefe, caiu num processo por avidez e auto-confiança excessiva (a auto-confiança tem sempre um risco elevado), independentemente de ser culpado ou semi-inocente, ele, o seu ex-ministro entendeu que lhe era favorável ficar o mais afastado quanto possível deste processo. É possível que, como pertencentes à classe dos políticos, admitisse fazer algumas manobras de bastidores; mas e conseguindo ficar exposto.

A montagem de apoios que imaginou, sempre na mira de ele conseguir ser Chefe do Governo, como conseguiu dado que os parceiros se sujeitarem a ter voz no parlamento, e nas ruas, mas não terem poder efectivo em nenhum ministério, funcionou com bastante sucesso para o compositor.

Todos vimos (os que se dedicaram a pensar uns minutos) que o excelentes(?) resultados económicos sempre estavam apoiados em barro mole. Mas a habilidade em manobrar os noticiários, tanto na imprensa em papel como nas televisões, manteve o cenário dentro das linhas de contenção. Os números que se tornaram públicos, que nunca chegaram a ter uma contestação pública importante, lhe deram a noção, possivelmente errada, de que já merecia o apoio geral da cidadania e que, tinha chegado o momento de se ver livre das cangas que lhe carregavam os seus parceiros na tal geringonça. E daí que, no próximo futuro, já devia voar por conta própria.

E aqui encontramos o seu ponto fraco mais evidente. Costa desprezou a força do PCP, verdes e mais algum corpúsculo social sem grande peso, e centrou o BE como alvo a abater.

Não vou terçar armas a favor do BE, mas reconheço que é como um enxame de mosquitos, incómodo e insistente. Se os seus argumentos e pressões são pertinentes, nesta situação de debilidade económica (quase que histórica e permanente) de Portugal, é factual que as concessões que conseguiram os grupos comandados pelo BE conduziam a uma discriminação perante outros igualmente merecedores de compensação. Umas cedências que em pouco, ou nada, ajudam para melhorar a situação geral da economia nacional, é algo não só de nível discutível mas evidente.Continua a não ser por este caminho que Portugal avança.

O PS actual, que insisto em admitir estar numa linha de pragmatismo, sempre supeditada a ter que beneficiar os seus apoiantes directos quando tem o poder em exclusividade. Sabem que a sociedade civil portuguesa, apesar das diferenças que continuam a ser patentes com os restantes países nossos parceiros, foi mudando. Muitas pessoas deixaram de se sentir na extrema esquerda. Tornaram-se pequenos burgueses, mesmo muito mais pequenos do que eles sonham ser, e aquela anedota de “nas minhas galinhas ninguém toca!” tornou-se extensiva à compra (hipotecada) da residência, de uma viatura e de consumir em excesso, sem capacidade final de amealhar, para poder atender a imprevistos, coisa que era o habitual entre as classes mais desfavorecidas nas gerações anteriores.

Daí que o PCP não é considerado perigoso. Está velho e quase a estado caquéctico. O BE, pelo contrário, tem à frente gente jovem, com melhor formação intelectual; mais ambiciosos e conhecedores dos pontos débeis da governação. Digamos que fingem não saber das repercussões que os seus logros sempre causam no equilíbrio económico do País. Antes são seguidores da receita: Os fins é que justificam os meios.

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