Cada
dia vemos mais sintomas de que as pessoas não lêem.
As
editoras continuam a entregar livros para as livrarias, algumas desta
edições podem ser “de autor”, ou dito de outra forma, com os
custos a cargo do autor ou de alguma entidade que o patrocine. Por
outro lado suspeitamos que as tiragens indicadas nas contracapas
podem estar inflacionadas, uma vez que a permanência dos títulos
nas exposições é, em geral, muito breve, sem que os índices de
venda o justifiquem. Mesmo assim nota-se algumas tentativas para
promoção da leitura, nomeadamente pelas referências de alguns
títulos em jornais e revistas.
Apesar
disso as editoras aceitam que os hipermercados utilizem os livros
como chamariz promocional, sempre com a concessão de descontos sobre
o preço de capa. Se a este valor em caixa lhe subtrairmos o preço
especial que a loja exige para apresentar aquelas obras, nem é
necessário fazer contas para concluir que o mercado da edição
livre não está numa fase florescente.
No
mercado do livro usado, apresentado em bancas de expositores
independentes, ao dar um passeio visual, ou mesmo com a
pré-disposição de adquirir alguns exemplares, notamos que, nos
meses mais recentes, digamos até em dois anos, os valores pedidos,
já não são por obra concreta, mas em global. Tem ido baixando de
forma notável.
A
estes sintomas juntam-se a outros, mais individualizados mas em simultaneidade, o que lhes confere um valor de âmbito geral. Os
veteranos, aqueles que nos habituamos a ler livros, uns de conteúdo
mais denso e outros mais leves, suspeitamos que as novas gerações
estão condicionadas, sem darem conta disso, pela linguagem reduzida
que usam, e abusam, nos meios de comunicação electrónica. As
abreviaturas usadas constituem um código novo, com o propósito de
eliminar caracteres. Pior do que no “antigo” telégrafo.
Sei,
por experiência directa, que decidir entrar no âmago, e ir até o
fim, de um artigo escrito com mais de 300 caracteres implica uma
vocação, quase que de eremita, pois que tal implica o isolar-se do
meio que nos rodeia.
Tenho
uma experiência pessoal, directa mesmo, que me elucida sobre a
dimensão de um texto que pode ser aceite como de interesse ou de ser
rejeitado. Desde alguns anos atrás mantive (com
alguns intervalos devidos ao desânimo)
um espaço
-blogue-
que intitulei de Vivências
de Virella.
Ali editava capítulos de um pretenso romance. Textos sempre
propositadamente curtos e com poucos parágrafos de divagação, ao
contrário do que se entrega às tipografias para “encher
chouriços”. Inicialmente tive alguns comentários (quase
sempre após um incitamento pessoal, o que os invalida de
imediato...)
e também a contagem automática de visitas deu valores
interessantes. Para tentar manter algum seguidor intercalei a ficção
com uma nova rubrica:
Meditações, nas
que comentei, à minha maneira, situações do quotidiano. De pouco
serviu. O interesse inicial, já de por si fraco, foi perdendo vapor
até se sumir no nada. Caiu num dos muitos buracos negros
“astrofagos” (desculpem
este neologismo de produção caseira..)que enxame-iam as galáxias
E
aqui surge uma curiosidade. Levado, por arrastamento, a visitar o
espaço da quadrilhice e das tontices, além de possibilitar o serem
conhecidos por desconhecidos, fui viajando pelo facebook.
Aqui encontrei, cada vez com maior número, anedotas de texto, e
alguma gráficas. Muitas escritas em português anormal. Muitas já
muito batidas, velhinhas mesmo. Senti um impulso irresistível de
fazer algum comentário e até de os qualificar com uma nota de
exame. AH! SURPRESA
MAIÚSCULA. Não há dia em que não me respondam e até me ofereçam
“amizade”.
Se
calhar devia estar satisfeito, deduzir que encontrei o meu
nicho de mercado.
Mas não, pelo contrário. Só serviu para certificar que as gentes,
mesmo aqueles que ainda conseguem ler, não se interessam por temas
sérios ou de ficção com mensagem sub-liminar.
E
mais. Atrevo-me a conectar estes factos, de índole pessoal, com o
inconcebível desinteresse que os cidadãos eleitores encaram as
eleições que, em princípio, deveriam orientar o futuro de País e,
por tabela, o da vida de todos nós.
E
SE SURGISSE UM CAMPANHA PARA TENTAR INCENTIVAR A LEITURA ? Desconfio
que não teria efeitos positivos!
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