É
possível fazer investigação por conta própria? Quem paga?
Quando
já ultrapassei todos os limites do possível e dei mais tombos na
vida do que o desgraçado que foi atropelado num carrossel de feira, pensei fazer uma
prospecção entre os meus colegas de curso. Mas tudo não passou de uma ideia nada brilhante. Não perguntei a ninguém! Pois, como deveria escrever se fosse
coerente, tenho a noção de alguns dos meus estimados colegas,
conseguiram chegar ao Paraíso dos químicos-engenheiros, que como
sabem é o de poder investigar sem se preocupar por aquelas bagatelas
de garantir o seu sustento e o da sua família, caso tivessem o
desplante de se meter nesta sarilhada do colocar descendência neste
mundo.
Para
tentar entrar no campo das “descobertas”, magiquei que havia dois
caminhos possíveis, de entrada o ter uma ficha de estudos pelo menos
razoável. A seguir ser ciente de que o caminho com maior
probabilidade de êxito, é o de entrar na tal “função pública”. E o mais indicado era iniciando o percurso no ensino no mesmo centro onde se
formou. Obtido este trabalho, inicialmente não excessivamente bem remunerado mas garantido de por vida, terá que conjugar a tarefa de
colaborar na ilustração de sucessivas levas de alunos com os
trabalhos de laboratório e “investigação”.
A
corrida deve arrancar com a tarefa de procurar tudo o que estiver publicado
sobre o tema que pensa abordar, sem descurar a tentativa de
utilizar os meios de experimentação existentes no mesmo centro onde
lecciona. O local é muito favorável para a pesquisa bibliográfica,
nomeadamente através dos artigos publicados nas revistas da
especialidade. Sempre mais actuais do que os livros.
Mas sei que houve uma quantidade, não desprezível, de companheiros de ofício
que enveredaram pela indústria transformadora nacional. Não digo
que com o propósito altruísta de dar o seu melhor para o progresso
económico do País mas, mais pragmaticamente, para garantir o seu
sustento e também aos custos implícitos ao decidir criar uma
família.
É
normal que aqueles que se inscreveram na indústria química, fosse
qual fosse o nível hierárquico que conseguissem, tinham a noção
de que a sua primeira função na empresa que o decidiu contratar,
era a de procurar alcançar bons resultados económicos, tanto no
produto final como no rendimento dos equipamentos e do pessoal de
quem passou a ser responsável.
Mas como a prudência avisa, não se podiam arriscar em excesso, nem lançar foguetes no ar antes de ser oportuno. O julgamento da sua colaboração (remunerada) seria sempre vista sob os resultados do balanço global. Daí que, experimentações atrevidas quando se conta , com o capital alheio, sempre foram perigosas. A indústria, como outros campos, é um terreno escorregadio e os argumentos de um técnico pesam menos do que os números do balanço.
No
meu caso pessoal, e já próximo do fim do curso, e sendo consciênte, já
então, de que não me podia considerar como tendo sido um aluno destacado,
apesar de conseguir uma nota de curso razoável. Tive a veleidade de
tentar fazer um pequeno laboratório, pessoal, privado, numa parte do
edifício onde morava com os meus pais. Então verifiquei que o
sonho de fazer experiências por conta própria (sem
ter as costas quentes por rendimentos pessoais tranquilizadores, como
tinham alguns dos reputados sábios e inventores) era uma utopia irrealizável. Um
reduzido inventário do equipamento e reagentes que considerei
necessário para começar “a brincar” deu com a ideia no canto do impossível, não tinha cabimento. Daí que a já anterior noção que
esta via profissional só era viável contando com a tesouraria do
“papá estado”, ficou definitivamente definida. E a porta de
entrada estava, quase sempre, na possibilidade de conseguir entrar
como auxiliar nalguma cadeira.
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