quarta-feira, 2 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES – Investigar



É possível fazer investigação por conta própria? Quem paga?

Quando já ultrapassei todos os limites do possível e dei mais tombos na vida do que o desgraçado que foi atropelado num carrossel de feira, pensei fazer uma prospecção entre os meus colegas de curso. Mas tudo não passou de uma ideia nada brilhante. Não perguntei a ninguém! Pois, como deveria escrever se fosse coerente, tenho a noção de alguns dos meus estimados colegas, conseguiram chegar ao Paraíso dos químicos-engenheiros, que como sabem é o de poder investigar sem se preocupar por aquelas bagatelas de garantir o seu sustento e o da sua família, caso tivessem o desplante de se meter nesta sarilhada do colocar descendência neste mundo.

Para tentar entrar no campo das “descobertas”, magiquei que havia dois caminhos possíveis, de entrada o ter uma ficha de estudos pelo menos razoável. A seguir ser ciente de que o caminho com maior probabilidade de êxito, é o de entrar na tal “função pública”. E o mais indicado era iniciando o percurso no ensino no mesmo centro onde se formou. Obtido este trabalho, inicialmente não excessivamente bem remunerado mas garantido de por vida, terá que conjugar a tarefa de colaborar na ilustração de sucessivas levas de alunos com os trabalhos de laboratório e “investigação”.

A corrida deve arrancar com a tarefa de procurar tudo o que estiver publicado sobre o tema que pensa abordar, sem descurar a tentativa de utilizar os meios de experimentação existentes no mesmo centro onde lecciona. O local é muito favorável para a pesquisa bibliográfica, nomeadamente através dos artigos publicados nas revistas da especialidade. Sempre mais actuais do que os livros. 

Mas sei que houve uma quantidade, não desprezível, de companheiros de ofício que enveredaram pela indústria transformadora nacional. Não digo que com o propósito altruísta de dar o seu melhor para o progresso económico do País mas, mais pragmaticamente, para garantir o seu sustento e também aos custos implícitos ao decidir criar uma família.

É normal que aqueles que se inscreveram na indústria química, fosse qual fosse o nível hierárquico que conseguissem, tinham a noção de que a sua primeira função na empresa que o decidiu contratar, era a de procurar alcançar bons resultados económicos, tanto no produto final como no rendimento dos equipamentos e do pessoal de quem passou a ser responsável.

Mas como a prudência avisa, não se podiam arriscar em excesso, nem lançar foguetes no ar antes de ser oportuno. O julgamento da sua colaboração (remunerada) seria sempre vista sob os resultados do balanço global. Daí que, experimentações atrevidas quando se conta , com o capital alheio, sempre foram perigosas. A indústria, como outros campos, é um terreno escorregadio e os argumentos de um técnico pesam menos do que os números do balanço.

No meu caso pessoal, e já próximo do fim do curso, e sendo consciênte, já então, de que não me podia considerar como tendo sido um aluno destacado, apesar de conseguir uma nota de curso razoável. Tive a veleidade de tentar fazer um pequeno laboratório, pessoal, privado, numa parte do edifício onde morava com os meus pais. Então verifiquei que o sonho de fazer experiências por conta própria (sem ter as costas quentes por rendimentos pessoais tranquilizadores, como tinham alguns dos reputados sábios e inventores) era uma utopia irrealizável. Um reduzido inventário do equipamento e reagentes que considerei necessário para começar “a brincar” deu com a ideia no canto do impossível, não tinha cabimento. Daí que a já anterior noção que esta via profissional só era viável contando com a tesouraria do “papá estado”, ficou definitivamente definida. E a porta de entrada estava, quase sempre, na possibilidade de conseguir entrar como auxiliar nalguma cadeira.



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