quinta-feira, 24 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Quem sai aos seus ...




Não degenera, ou não regenera, ou não é de Genebra

Além da versão mais tradicional imagino que existem mais algumas variantes que se metem, insidiosamente, aproveitando a terminação em -era. Deixo aqui duas amostras, e fica ao vosso dispor a possibilidade de juntar outras graçolas para esta máxima.

Este cabeçalho veio à baila como reflexo das listagens de pessoas que me propõem “amizade” no facebook. Habitualmente apresentam-se com o aval nominal de alguns conhecidos mútuos. Alguns deles não passam de companheiros esporádicos, com reduzido contacto biunívoco, e em consequência pouco recordados. Habitualmente, e sem o propósito de os desconsiderar, e até com o receio de errar ao não aceitar a proposta, opto por a anular, sem lhes dar uma oportunidade.

A razão deste mau comportamento (meu) está na convicção de que AMIGOS sempre serão efectivamente poucos, se os calibrarmos pela convicção de que existe um sentimento profundo e biunívoco de nos bateremos na defesa e apoio para um amigo e contar com o apoio dele, mesmo contra o vento e a maré. Por exemplo: de dar o nosso sangue se for necessário numa emergência; o dar mesa e cama numa eventual catástrofe.

Quando me encontro perante a decisão de “aceitar uma amizade” sem ter como base um conhecimento mútuo entre o benemérito proponente e eu mesmo, surge, sempre, uma pequena história que um amigo do meu pai me referiu quando me acompanhava no seu (dele, meu progenitor) funeral. Contava-me que, por mais de uma vez, quando dirigiu-se ao Albert Virella I, pedindo autorização para lhe apresentar uma pessoa que tinha vontade de poder dialogar com ele, a resposta, quase habitual, que o A.V. I lhe dava era que ao longo dos anos de vida que arrastou teve a oportunidade de conhecer muitas pessoas e até de fazer-se amigo, com reciprocidade, de bastantes. Mas que sentia-se velho e que já tinha usado toda a sua capacidade de conhecer mais gente. Que desculpasse a sua brusquidão, mas que lhe garantia que não era por desrespeito ou desprezo pela pessoa que desejava apadrinhar; que não se sentia capaz de iniciar novas amizades.

E assim ficava anulada a proposta. De facto não tardou a falecer e a sua capacidade memorística tinha declinado notoriamente.

Eu, mesmo que aceite a dificuldade para que o próprio possa avaliar a própria decrepitude mental, na sua real dimensão, confirmo que também sinto o peso das falhas de memória, das confusões indesejadas. E, confesso, ainda não perdi a noção do que ele, o meu pai, com o propósito de me alertar dizia seriamente: Podemos ter muitos conhecidos, mas amigos, amigos mesmo, estão sempre num núcleo muito reduzido.

E mantendo-me fiel a este ensinamento familiar, cá dentro de mim, sei que poucos, mesmo poucos, foram os que se mostraram amigos. Os dedos das duas mãos excedem o resultado da avaliação!

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