PORQUE
ESTE NÍVEL DE ABSTENÇÃO ?
Se
(aqueles cuja idade lho
permitir), recuarmos à época “áurea” do regime do
ESTADO NOVO, que tantas saudades deixou no espírito de muito boa
gente, e
até pelo que verifiquei também com pessoas descendentes destes
saudosos, é possível que nos interroguemos acerca de quais as
razões, ou motivos, certos ou simplesmente imaginários, que tem
conduzido a um crescendo índice de abstenção
nas votações legislativas,
e se somarmos os votos em branco e os propositadamente nulos,
certamente que nos deixará descrentes sobre a capacidade de raciocínio de muitos cidadãos deste jardim. Dito de outra forma: da carência de memória
histórica.
Já não vou sugerir que recordem,
mesmo só os mais velhos, de quantos cidadãos tinham o seu nome
ausente das listas que davam direito a voto na mesa onde deveriam
estar recenseados, nas raras ocasiões em que se pedia a opinião à
população. E também recordar, com tristeza, de aqueles que ficaram
banidos deste direito por simples delito de opinião, mesmo quando
não confirmada com um simil de legalidade mas decidida por uma
simples denúncia “bem intencionada”. E, mesmo assim, sabendo que
as contagens de votos não tinham a mínima credibilidade.
Possivelmente tampouco recordam
como estavam politicamente discriminadas as mulheres, cujo accesso
ao voto foi sempre negado enquanto assim entenderam as autoridades
“legais”. De como a uma esposa lhe era difícil aceder a um
passaporte e ainda mais sair das fronteiras lusas sem a autorização
expressa do marido.
A
sequência de pensamento nos devia pressionar no sentido de recordar,
e PONDERAR, a importância social e cívica dos que foram
aprisionados, muitas vezes moídos à pancada, ou mesmo mortos, sem
julgamento, ou com julgamentos onde o estado de direito estava
simplesmente ausente.
O
direito de voto em
eleições livres era,
juntamente ao direito de opinião e reunião, a bandeira pela qual
muitos se sacrificaram. Este pequeno
pormenor, era
a base fundamental para usufruir um estado
de direito democrático. E
por esta e outras razões devíamos recordar aqueles que lutaram e
sofreram para que
todos tivéssemos este direito. O
facto de que, como é natural que nos aconteça, desconhecermos os
nomes da maioria destes sacrificados cidadãos. Mas tal constatação
não justifica para agir com desprezo pelos sofrimentos a que foram
submetidos.
E é, de facto, um desprezo inaceitável o que se faz ao não
participar, conscientemente,nos comícios eleitorais.
Quando,
para nos auto-justificar, tentamos neutralizar o desrespeito cívico
que se comete no caso de não votar, votar em branco e anulando,
propositadamente, o boletim, alegamos que estamos receosos ou pelo
menos convictos de que os que saírem eleitos não se comportarão
seguindo as regras de honestidade e isenção que, por direito,
queremos ser merecedores.
Se
de um modo geral admito que os exemplos que se verificaram com os
governantes que, com diferentes bandeiras, se encarregaram de gerir o
destino do País e dos portugueses, e, mais simples a forma como distribuíram a pouca riqueza que conseguimos criar, mais os fundos de
ajuda que nos entregam (a
troco de sermos bem comportadinhos, segundo os seus interesses)
tornou evidente que honestidade e boas decisões não tem sido o mais
usual. Mas... o facto de reconhecer tudo isto não obsta o ser
incontestável que temos que nos culpabilizar directamente,
pois a sabedoria popular diz que quem
cala, consente.
Cada
um de nós, por consentimento ou apatia, tem a sua quota parte de
culpa neste “fartai vilanagem”.
Admitamos
que somos muitos os potenciais eleitores que sofrem dum descrédito
acentuado em relação aos elementos humanos que se foram enquistando
nos partidos políticos, já “clássicos”. Não nos merecem um
crédito mínimo para votar neles. O aumento crescente da abstenção
trouxe uma novidade: surgiu uma nova leva de grupos
partidários dispostos a revirar este estado de podridão (e
lamento ter usado este termo)
Aceitando
a dificuldade em alterar o conceito que o nosso cidadão tem como
irrecuperável dos elementos da chamada “classe política”, e
recordando a sentença popular de que o
gato escaldado da água fria foge, permito-me
duvidar se será através de novos políticos que nos representem
que, finalmente, o país venha a ser bem servido. O que temo é que
se cumpra outro aforismo: Mudam
as moscas, mas a merda é a mesma.
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