terça-feira, 15 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Ninguém aceita ter a culpa




PORQUE ESTE NÍVEL DE ABSTENÇÃO ?

Se (aqueles cuja idade lho permitir), recuarmos à época “áurea” do regime do ESTADO NOVO, que tantas saudades deixou no espírito de muito boa gente, e até pelo que verifiquei também com pessoas descendentes destes saudosos, é possível que nos interroguemos acerca de quais as razões, ou motivos, certos ou simplesmente imaginários, que tem conduzido a um crescendo índice de abstenção nas votações legislativas, e se somarmos os votos em branco e os propositadamente nulos, certamente que nos deixará descrentes sobre a capacidade de raciocínio de muitos cidadãos deste jardim. Dito de outra forma: da carência de memória histórica.

Já não vou sugerir que recordem, mesmo só os mais velhos, de quantos cidadãos tinham o seu nome ausente das listas que davam direito a voto na mesa onde deveriam estar recenseados, nas raras ocasiões em que se pedia a opinião à população. E também recordar, com tristeza, de aqueles que ficaram banidos deste direito por simples delito de opinião, mesmo quando não confirmada com um simil de legalidade mas decidida por uma simples denúncia “bem intencionada”. E, mesmo assim, sabendo que as contagens de votos não tinham a mínima credibilidade.

Possivelmente tampouco recordam como estavam politicamente discriminadas as mulheres, cujo accesso ao voto foi sempre negado enquanto assim entenderam as autoridades “legais”. De como a uma esposa lhe era difícil aceder a um passaporte e ainda mais sair das fronteiras lusas sem a autorização expressa do marido.

A sequência de pensamento nos devia pressionar no sentido de recordar, e PONDERAR, a importância social e cívica dos que foram aprisionados, muitas vezes moídos à pancada, ou mesmo mortos, sem julgamento, ou com julgamentos onde o estado de direito estava simplesmente ausente.

O direito de voto em eleições livres era, juntamente ao direito de opinião e reunião, a bandeira pela qual muitos se sacrificaram. Este pequeno pormenor, era a base fundamental para usufruir um estado de direito democrático. E por esta e outras razões devíamos recordar aqueles que lutaram e sofreram para que todos tivéssemos este direito. O facto de que, como é natural que nos aconteça, desconhecermos os nomes da maioria destes sacrificados cidadãos. Mas tal constatação não justifica para agir com desprezo pelos sofrimentos a que foram submetidos. E é, de facto, um desprezo inaceitável o que se faz ao não participar, conscientemente,nos comícios eleitorais.

Quando, para nos auto-justificar, tentamos neutralizar o desrespeito cívico que se comete no caso de não votar, votar em branco e anulando, propositadamente, o boletim, alegamos que estamos receosos ou pelo menos convictos de que os que saírem eleitos não se comportarão seguindo as regras de honestidade e isenção que, por direito, queremos ser merecedores.

Se de um modo geral admito que os exemplos que se verificaram com os governantes que, com diferentes bandeiras, se encarregaram de gerir o destino do País e dos portugueses, e, mais simples a forma como distribuíram a pouca riqueza que conseguimos criar, mais os fundos de ajuda que nos entregam (a troco de sermos bem comportadinhos, segundo os seus interesses) tornou evidente que honestidade e boas decisões não tem sido o mais usual. Mas... o facto de reconhecer tudo isto não obsta o ser incontestável que temos que nos culpabilizar directamente, pois a sabedoria popular diz que quem cala, consente.

Cada um de nós, por consentimento ou apatia, tem a sua quota parte de culpa neste “fartai vilanagem”.

Admitamos que somos muitos os potenciais eleitores que sofrem dum descrédito acentuado em relação aos elementos humanos que se foram enquistando nos partidos políticos, já “clássicos”. Não nos merecem um crédito mínimo para votar neles. O aumento crescente da abstenção trouxe uma novidade: surgiu uma nova leva de grupos partidários dispostos a revirar este estado de podridão (e lamento ter usado este termo)

Aceitando a dificuldade em alterar o conceito que o nosso cidadão tem como irrecuperável dos elementos da chamada “classe política”, e recordando a sentença popular de que o gato escaldado da água fria foge, permito-me duvidar se será através de novos políticos que nos representem que, finalmente, o país venha a ser bem servido. O que temo é que se cumpra outro aforismo: Mudam as moscas, mas a merda é a mesma.


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