Continuação do texto sobre o Olho de Deus
Afinal
a chave estava muito perto
Quando editei (em 26 de Set.) a primeira parte em que tentava especular, seriamente e sem
propósitos de incomodar a ninguém, sobre a origem da representação
do olho de Deus dentro de um triângulo, que sabemos admite ser o
símbolo de diversas tríades esotéricas, encalhei no porque se
limitou a mostrar um olho (sempre o olho direito) da entidade que, em
princípio o homem mortal não estava autorizado a representar,
embora já se aceitasse como tal o senhor idoso de barbas brancas.
A
negação em não me contentar com um indiferente encolher de ombros,
e reconhecendo que tradições, lendas, mitos, rituais e qualquer
tema de cuja génese ignoramos, não nos deve satisfazer a indefinida
resposta de que aquilo ver desde a névoa dos tempos. Não podemos
negar e até conseguir a origem destes “dogmas”, mas isso não
nos deve impedir de recuar até onde for possível encontrar uma
referencia, mesmo que não escrita, mas credível através de outras
vias de estudo da antiguidade.
Sendo
assim é pertinente admitir que o início e progresso do
conhecimento, e daí da civilização, foi conseguido pela
transmissão oral. Aceite esta premisa quando nos dispormos a
pretender analisar um tema que pareça afectar o quotidiano, é
pertinente recuar até às fontes mais afastadas que nos sejam
acessíveis.
Ao
longo do nosso percurso como membros da humanidade, reconhecemos que,
mesmo sem darmos por isso, nos apoiamos em preconceitos de
interpretação e de comportamento difíceis de justificar de um modo
racional, mas que estão fixamente impressos nos nossos costumes.
Um deles é a ligação, tacitamente aceite, mas de forma
sub-reptícia, e até com uma saudável descrença pessoal, de que o
lado esquerdo é aziago, enquanto que o lado bom da vida é
aquele que nos surge, ou sugere, o lado direito. (1)
Daí
o mal querer que existiu, durante milénios, em relação e que às
pessoas em que o seu hemisfério cerebral que comanda a habilidade
manual, está em oposição ao que é maioritário. Ou seja o oposto
entre destros e canhotos. Situação muito evidente na tarefa de
escrever. Reconhecemos que se nasce com esta distribuição de
capacidades. Que se nasce canhoto. Muito sofreram os canhestros até
época recente!
Reconhece-se,
sem discussão, que desde a tal “noite dos tempos” as teologias,
quando na fase inicial, pretenderam ser aceites pelos cidadãos que
se pretendia cativar, era fundamental oferecer uma série de “deuses
menores”, de segunda e terceira linha, que subsistissem os que até
então eles adoravam ou “obedeciam” após a sabia interpretação
dos sacerdotes habilitados para estas interpretações. Mesmo ao
religiões que mais se apresentam como monoteístas, prepararam o seu
santoral com entes que passaram a ter as mesmas capacidades e
atributos do que os deuses da época paga anterior.
Quando
referia este pictograma do olho “bisbilhoteiro” ou inquisidor
incluído no triângulo, levava o tema para a brincadeira afirmando
que quando Jeová adquiriu este costume de vigiar as suas criaturas,
e por se terem inventado as fechaduras clássicas por onde espreitar,
optaram pelo triângulo. Mas era fatal que chegasse o impulso para
que me decidisse a pesquisar alguma tradição antiga que
justificasse o símbolo do Deus vigilante, só com um olho, e se
observarmos atentamente, caso o pictograma fosse feito com cuidado, o
olho que se encontra dentro do triângulo é sempre o direito.
A
identificação da origem desta representação do olho inquiridor
nem sequer era difícil. Estava latente na memória pessoal, pois
tive a oportunidade de verificar directamente nas colecções de objectos do Antigo Egipto, cuja complexa teocracia serviu de base
para muitas religiões do próximo oriente, entre elas o judaísmo e
posteriormente o cristianismo.
O
OLHO DO DEUS HÓRUS
Os egípcios
não tinham por hábito, nas suas representações
pictóricas, mostrar as pessoas de frente. Habitualmente de perfil.
Só na escultura é que se mostravam as duas faces simultâneamente.
Tanto na representação de deuses -em
geral uma composição mista de humano e animal-
como dos faraós, só vemos um olho no pictograma, assim como nos
baixo relevos.
Já
então existia a imaginada relação entre o lado direito e o bem, a
sorte, a felicidade e o esquerdo com o aziago, o mal, o sinistro (que
é um sinónimo de esquerdo). O Deus Hórus, o grande
chefe da complexa família de deuses, era representado, habitualmente
por um corpo humano e cabeça de ave de rapina, seja falcão,
milhafre ou águia. Tal escolha vinha de que este Hórus era o que
tudo via, como acontecia com os falcões, que voando calmamente
nas alturas eram capazes de ver uma pequena presa no solo (ter
visão de falcão ou de águia).
Todavia
a complexa mitologia egípcia refere que Hórus lutou com outro deus
e, na refrega, lhe vazaram o olho esquerdo (aqui
ficamos a saber que era de facto zarolho)
e no seu lugar lhe colocaram uma prótese de vidro (2) O facto de ter
só um olho útil não lhe diminuía a sua capacidade de observação,
que além disso se considerava benéfica. Pelo contrário, o olho
esquerdo, apesar de cego, já era aceite ser aziago.

REPRESENTAÇÃO DO OLHO DE HÓRUS NUM
PAPIRO EGÍPCIO
(1)
O triângulo
sempre representou uma tríade importante; seja terra.mar e ar; luz,
trevas e fogo; ou três deidades específicas. A simbologia da maçonaria não dispensa deste símbolo. Que encontra-se, sempre, nas
notas de banco dos EUA. E em muitos mais lugares.
(2)
É aquele amuleto de vidro azul, com uma pupila e centro preto de
visão, que se vende em qualquer lado, nos bazares tanto no Egipto
como em todo o próximo oriente.
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