domingo, 13 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - DEUS ERA ZAROLHO ? - segunda parte



Continuação do texto sobre o Olho de Deus


Afinal a chave estava muito perto

Quando editei (em 26 de Set.) a primeira parte em que tentava especular, seriamente e sem propósitos de incomodar a ninguém, sobre a origem da representação do olho de Deus dentro de um triângulo, que sabemos admite ser o símbolo de diversas tríades esotéricas, encalhei no porque se limitou a mostrar um olho (sempre o olho direito) da entidade que, em princípio o homem mortal não estava autorizado a representar, embora já se aceitasse como tal o senhor idoso de barbas brancas.

A negação em não me contentar com um indiferente encolher de ombros, e reconhecendo que tradições, lendas, mitos, rituais e qualquer tema de cuja génese ignoramos, não nos deve satisfazer a indefinida resposta de que aquilo ver desde a névoa dos tempos. Não podemos negar e até conseguir a origem destes “dogmas”, mas isso não nos deve impedir de recuar até onde for possível encontrar uma referencia, mesmo que não escrita, mas credível através de outras vias de estudo da antiguidade.

Sendo assim é pertinente admitir que o início e progresso do conhecimento, e daí da civilização, foi conseguido pela transmissão oral. Aceite esta premisa quando nos dispormos a pretender analisar um tema que pareça afectar o quotidiano, é pertinente recuar até às fontes mais afastadas que nos sejam acessíveis.

Ao longo do nosso percurso como membros da humanidade, reconhecemos que, mesmo sem darmos por isso, nos apoiamos em preconceitos de interpretação e de comportamento difíceis de justificar de um modo racional, mas que estão fixamente impressos nos nossos costumes. Um deles é a ligação, tacitamente aceite, mas de forma sub-reptícia, e até com uma saudável descrença pessoal, de que o lado esquerdo é aziago, enquanto que o lado bom da vida é aquele que nos surge, ou sugere, o lado direito. (1)

Daí o mal querer que existiu, durante milénios, em relação e que às pessoas em que o seu hemisfério cerebral que comanda a habilidade manual, está em oposição ao que é maioritário. Ou seja o oposto entre destros e canhotos. Situação muito evidente na tarefa de escrever. Reconhecemos que se nasce com esta distribuição de capacidades. Que se nasce canhoto. Muito sofreram os canhestros até época recente!

Reconhece-se, sem discussão, que desde a tal “noite dos tempos” as teologias, quando na fase inicial, pretenderam ser aceites pelos cidadãos que se pretendia cativar, era fundamental oferecer uma série de “deuses menores”, de segunda e terceira linha, que subsistissem os que até então eles adoravam ou “obedeciam” após a sabia interpretação dos sacerdotes habilitados para estas interpretações. Mesmo ao religiões que mais se apresentam como monoteístas, prepararam o seu santoral com entes que passaram a ter as mesmas capacidades e atributos do que os deuses da época paga anterior.

Quando referia este pictograma do olho “bisbilhoteiro” ou inquisidor incluído no triângulo, levava o tema para a brincadeira afirmando que quando Jeová adquiriu este costume de vigiar as suas criaturas, e por se terem inventado as fechaduras clássicas por onde espreitar, optaram pelo triângulo. Mas era fatal que chegasse o impulso para que me decidisse a pesquisar alguma tradição antiga que justificasse o símbolo do Deus vigilante, só com um olho, e se observarmos atentamente, caso o pictograma fosse feito com cuidado, o olho que se encontra dentro do triângulo é sempre o direito.

A identificação da origem desta representação do olho inquiridor nem sequer era difícil. Estava latente na memória pessoal, pois tive a oportunidade de verificar directamente nas colecções de objectos do Antigo Egipto, cuja complexa teocracia serviu de base para muitas religiões do próximo oriente, entre elas o judaísmo e posteriormente o cristianismo.

O OLHO DO DEUS HÓRUS

Os egípcios
 não tinham por hábito, nas suas representações pictóricas, mostrar as pessoas de frente. Habitualmente de perfil. Só na escultura é que se mostravam as duas faces simultâneamente. Tanto na representação de deuses -em geral uma composição mista de humano e animal- como dos faraós, só vemos um olho no pictograma, assim como nos baixo relevos.

Já então existia a imaginada relação entre o lado direito e o bem, a sorte, a felicidade e o esquerdo com o aziago, o mal, o sinistro (que é um sinónimo de esquerdo). O Deus Hórus, o grande chefe da complexa família de deuses, era representado, habitualmente por um corpo humano e cabeça de ave de rapina, seja falcão, milhafre ou águia. Tal escolha vinha de que este Hórus era o que tudo via, como acontecia com os falcões, que voando calmamente nas alturas eram capazes de ver uma pequena presa no solo (ter visão de falcão ou de águia).
Todavia a complexa mitologia egípcia refere que Hórus lutou com outro deus e, na refrega, lhe vazaram o olho esquerdo (aqui ficamos a saber que era de facto zarolho) e no seu lugar lhe colocaram uma prótese de vidro (2) O facto de ter só um olho útil não lhe diminuía a sua capacidade de observação, que além disso se considerava benéfica. Pelo contrário, o olho esquerdo, apesar de cego, já era aceite ser aziago.


REPRESENTAÇÃO DO OLHO DE HÓRUS NUM PAPIRO EGÍPCIO

(1) O triângulo sempre representou uma tríade importante; seja terra.mar e ar; luz, trevas e fogo; ou três deidades específicas. A simbologia da maçonaria não dispensa deste símbolo. Que encontra-se, sempre, nas notas de banco dos EUA. E em muitos mais lugares.

(2) É aquele amuleto de vidro azul, com uma pupila e centro preto de visão, que se vende em qualquer lado, nos bazares tanto no Egipto como em todo o próximo oriente.

Sem comentários:

Enviar um comentário