quinta-feira, 17 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Antes de provocar, fazer um balanço.


Valentes, Agressivos, Pacifistas, Resignados.

Nem sempre quem provoca age por vontade e iniciativa própria. Pode encontrar-se sem o prever no meio da confusão, por uma daquelas causalidades que se definem pela máxima de Estar no local errado e no momento errado. Num caso assim o mais prudente, e se for factível, é desaparecer pela tangente, abandonar a multidão por uma via lateral, e com passo ligeiro. O evitar a pancada se nos falta a vocação de ser uma vítima colateral é o mais aconselhável. Quase que podemos incluir neste grupo de vítimas aqueles que se auto-qualificam de pacifistas, mas que nem por isso fogem dos acontecimentos, e podem arcar com espírito de sacrifício as punições. Entre os que se encontram no seio do grupo sem grande convicção, alguns podem ter caído por indução de algum companheiro ou amigo mais activista

Os valentes efectivos, caracterizam-se por não necessitarem de ter uma convicção bem definida. Vão ao sarilho pelo simples prazer Sado-masoquista de dar e levar. Em contraponto temos os pseudo-valentões, os que atiram a pedra e escondem a mão ou não param de incitar com gritos de encorajamento, mascarados de “palavras de ordem”. Com a sua participação aquecem, sempre desde a retaguarda, longe da pancadaria, os ânimos dos que estão nas primeiras filas.

Restam os que chamarei de resignados. São os que acompanham os bravos convencidos de que aquela provocação, da que se consideram inocentes, não terá as consequências que já estavam perfeitamente definidas pelos dois bandos em oposição. Participam com o convencimento de que aquilo terminará sem problemas, com paz e glória. Uns anjinhos.

Quem organiza uma marcha de protesto certamente que conta com estes grupos bem definidos, mesmo que no grosso da coluna nos possa parecer que todos estão convencidos de que vão dispostos e convictos para tudo. Os responsáveis pelo bom andamento sabem que, no fundo, o seu papel, sem dúvida fundamental, é equivalente ao dos cães pastores. Tem que tratar de aguentar o ímpeto repressivo e evitar a debandada. 

Mesmo que ao chegar ao confronto, no lado oposto carreguem com violência, indiscriminadamente sobre o grupo que os enfrenta, os seus “olheiros” estão sempre atentos para localizar os organizadores, pois sabem que é através das suas indicações que o grupo avança, recua ou se dissolve.

Lamentavelmente verifica-se que as iniciais palavras de ordem de ser uma manifestação pacífica, sem violência, e até com as mãos nuas bem alçadas como demostração de não agressividade, não se pode aceitar como merecedora de crédito quando insistem em avançar sobre o terreno. Para completar o quadro que justifica a repressão existem os provocadores, próprios ou infiltrados desde o outro bando, que com o seu comportamento incitador à agressividade conseguem que aqueles que são os seus parceiros, os do poder estabelecido, tenham uma justificação, sempre preparada, para bater e prender.

É um jogo de guerra a que os componentes das equipas anti-motins são treinados periodicamente. Nas suas manobras de treino formam dois bandos, bem adestrados, para cumprir de modo credível, tanto quanto possível, os papeis que lhes são atribuídos. Ou seja, os polícias ou guardas, já protegidos e armados, seja com bastões ou armas de intimidação, ou mesmo de fogo real, saem para a arena com todas as vantagens. 

Quem está por trás dos protestos, sabe bem como se vão proceder as sucessivas fases, até chegar à desbandada. Mas estes organizadores tudo cuidarão para não ser caçados. Se os identificarem ficará para os momentos de calma, já com a multidão recolhida nas suas casas, a  ocasião de os prender. Por sua vez, estes cabecilhas, tudo farão para passar desapercebidos, com mudanças de local de reunião e descanso, e até de visual. Para os contrariar neste propósito de disfarce, a autoridade conta com os delatores, mais produtivos do que os investigadores. E, mais recentemente, com as gravações de câmaras ocultas e de drones preparados para o efeito.

Sem comentários:

Enviar um comentário