quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

UMA HISTÓRIA DE AMORES

Ricardo, homem adulto, trabalhador, sério, com bom corpo, desportista sem exageros, casado e sem filhos, chegou à sua casa, após de um exaustivo dia de trabalho, cansado e bastante mal humorado.
Ao entrar no lar a sua amada esposa, que o aguardava pela sua pontualidade habitual, depois de lhe dar um beijo "repenicado" exclamou. 
Mas Ricardo, o que te acontece, há  mais de quinze dias que chegas sempre a  casa com cara de enterro, quando até então tinhas sempre um sorriso amoroso e me abraçavas com amor? É no trabalho que as coisas não te correm bem?
No emprego já sabes, hás dias maus e outros piores. Mas o habito nos orienta para a deixar correr a bola e ir tratando das nossas obrigações com probidade e  interesse profissional. Dito mais claramente, o trabalho não constitui um problema novo, e já passei por épocas piores. Por enquanto o Fonseca não me pressiona muito, e até admito que está satisfeito com a minha colaboração sincera.
Então deve existir outra razão para andares tão desmoralizado.
De facto existe. Não pensava falar neste tema, mas já que o incitas terei que avançar. No dia em que me sentir com forças para tal.
Ricardo, assim ainda fico mais preocupada contigo. Tem que ser hoje, sem falta.
Depois de descansar e distrair um pouco com a TV.
Seja como dizes. Tenho o teu jantar preparado, senta-te, depois de lavar as mãos (que sempre tenho que te recordar)
amos ver se aprecias o petisco que a tua mulher te preparou. Eu vou-me mudar e já volto.

Terminado o jornal da tarde e depois de degustar a sobremesa que estava à sua frente, apareceu a Inês, sorridente e envolta em roupas transparentes, deixando entrever umas peças de roupinhas pretas que o Ricardo lhe oferecera no aniversário do seu casamento, e que muito raramente as voltou a ver.

Como parece ser coisa séria, vou desligar a televisão e estarei pendente do que me queres contar:
Pode ser coisa parva,Mas tenho andado incomodado!
Conta lá, homem, desabafa.
 Pois desde umas duas semanas a esta parte, quando estou a chegar a casa, encontro um fulano,que nunca tinha visto, encostado à parede à porta da tasca, com uma perna direita e a outra dobrada com o pé na parede, mãos nos bolsos e cigarro pendurado da boca, que quando passo por ele, sem abrir a boca, diz entre dentes bocas que, mesmo sem me olhar, sinto que me estão dirigidas,
Mas que bocas são estas, meu querido?
Palavrões de ordinários, desde cabrão, cornudo, manso, cornípeto, corno, chifrudo, cervo,, faz-de-conta, chavelhudo, enganado, galheiro, cornélio, atraiçoado, e mais epítetos que não recordo. Deve ter esgotado quase todos os insultos que se podem destinar a um marido enganado.Qualquer dia vou conseguir uma pistola, um revólver ou fusca para dar uma lição a este fadista de bairro, a se possível com passaporte para o jardim das tabuletas.

Ricardo. Tem juízo. Não caias nas provocações de um ordinário. Não te deixes influenciar. Pela minha parte sabes que nunca te faltaria. Sempre tens sido, desde muito novos, o sol da minha vida. Deixa passar e não lhe ligues.Despreza este ordinário. Podes, pensando que te mancham a honra, provocar a nossa desgraça.
Vem para os meus braços, mesmo aqui na sala,por cima da carpete, como sei que te incita! Anda cá,meu amor!

Amanhã será outro dia e verás que tudo foi um mal entendido.

No fim do dia seguinte:

Então, Ricardo, ainda vens com pior cara!?
Nem podia ser de outra forma.
Mas que aconteceu hoje? O ordinário voltou a insinuar que sou uma mulher adúltera?
Bem. Mais ou menos isso.
Sem alterar a sua postura e sem abrir a boca, ouvi que entre dentes dizia QUEIXINHAS!!!!

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