domingo, 17 de fevereiro de 2019

A FAVORITA


Quem me segue,pouco ou muito ( muito?, impossível) sabe que formo parte de um casal de adictos ao cinema, embora limitemos as nossas entradas nas salas de projecção a uma vez por semana, raramente dobramos. 

Desisti da ideia inicial de colocar uma breve sinopse do argumento, comentar o trabalho do director e das actrizes, mas desisti a tempo por admitir que outros mais capacitados já cumpriram este propósito, além de que as minhas opiniões não interessam a ninguém, situação que entre nós se descreve como "não interessa nem ao menino Jesus, (que por sinal se chamava de Emanuel) Chegando a este ponto não resisto a dar fé da minha estranheza acerca de saber até donde chega o limite de interesse do filho de Deus, pois até recordo que esta entidade deve ser considerada como defensor das causas perdidas. Enigmas da linguagem.

E já que entrei no domínio das interpretações idiomáticas, recordo que ao longo da visualização deste filme, além de dar alguma atenção às situações de intrigas e lutas entre membros da corte, apreciei o facto de que se deu porta aberta à produção a fim de poder utilizar, e daí mostrar, os interiores das mansões onde se fazia decorrer a intriga. Não é a primeira ocasião em que o atrevimento do director nos oferece umas olhadelas a salas, salinhas e salões ainda hoje existentes, e que se admite mantêm um recheio e decoração que deve corresponder à época em que decorre a história. Ou seja, nos inícios do século XVIII.

Uma das características mostradas, e para a qual já estamos habituados, é que aquelas casas com amplos espaços, tectos altos e paredes de alvenaria de pedra eram muito frias  Sendo sintéticos: aquilo era muito desconfortável nos longos meses de baixa incidência solar naquele paralelo. Por isso entende-se que usassem pesadas tapeçarias de lã assim como reposteiros e biombos guarnecidos, para isolar minimamente aqueles espaços, pois que as muitas lareiras, por mais lenha,turfa ou carvão, que queimassem,não conseguiam tornar a temperatura ambiente agradável.

De imediato lembrei que, no Portugal de oitocentos estava em auge a decoração parietal com amplos painéis de azulejos, muitos com motivos de repetição, normalmente florais, e os mais ricos reproduzindo estampas galantes, religiosas, bélicas ou paisagistas. Em muitas ocasiões os desenhos foram adquiridos a marchantes do centro da Europa que, deslocando-se pelas zonas onde sabiam existir mercado para decoração parietal. vendiam cópias ou versões dos mesmos temas Não é raro encontrar os mesmos desenhos em tapeçarias colocadas na França, Inglaterra ou Países Baixos, e em paredes revestidas de azulejos em igrejas, conventos  Paços e residências de abastados senhores em Portugal..

Como é fácil de entender, o metro quadrado de azulejo decorado era bastante mais barato do que uma tapeçaria fabricada numa oficina reputada, isso não coloca o azulejo num patamar necessariamente inferior, até porque aqui se criaram trabalhos notáveis, que são orgulho dos cidadãos actuais. Posto isso mesmo que aceitemos o paralelo e as suas razões, pode vir à nossa memória um anexim famoso que refere: Quem não tem cão caça com gato. Que apesar de ter um ar de paródia nos alerta para tirar partido das nossas capacidades.  

 O facto de existirem coincidências evidentes, pontos comuns entre as duas artes decorativas tem que se olhar como serem duas soluções utilizando meios parcialmente semelhantes ou iguais. E é indiscutível que, em Portugal, a decoração parietal com recurso ao azulejo nos deixou trabalhos notáveis, Tanto em Igrejas, conventos, palácios, residencias de abastados ou até de lugares públicos.

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