O
QUE VEMOS NA EUROPA, E NO CONTINENTE AMERICANO
Temos
que reconhecer que o facto, irreversível, de Portugal estar no
extremo oriental do continente sempre proporcionou uma decalagem
temporal importante em relação às convulsões políticas que se
geraram, especialmente no centro europeu. Mas, à semelhança da
amortiguação dos movimentos oscilatórios, as ondas de choque,
quando nos alcançaram já não carregavam a virulência da sua
génese. Apesar desta constatação hoje temos a obrigação de
valorizar que a globalização não se limita ao
comércio e às sociedades que ficam directamente afectadas.
Tudo é mais rápido do que jamais foi.
Não
pretendo alarmar a tranquilidade de quem tenha a pachorra de me ler,
mas se dermos uma volta pela imprensa internacional, onde os artigos
de opinião e os editoriais nos contam muito mais do que os
noticiários esquemáticos, podemos ficar cientes de que se estão
organizando mudanças sociais e políticas muito importantes, não só
as devidas a efeitos secundários da referida globalização, como
são a precariedade laboral, a estagnação de muitos níveis
salariais, o progressivo desemprego profissional, os receios de
quebras no esquema de reformas e outras regalias, o aumento constante
de impostos, directos e indirectos, mas a verificada deslocação,
repentina e imprevista, do eleitorado no sentido de aderir aos
partidos da direita, em especial da extrema direita, que se
beneficiam do descontentamento existente, e que a sua propagando
magnifica.
O
clima de descontentamento e desorientação das classes que dependem
de salários, sejam do nível baixo ou médio, são um alvo
apetecível, e propício, para a propaganda de grupos
extremistas. Imaginar que entre nós, em Portugal, o facto de termos
um governo que muitos consideram "contra natura", onde se
finge manter uma colaboração de fidelidade quase que canina,
entre partidos teoricamente mais radicais, mas de facto lutando pelos
interesses dos seus sócios e um partido que deixou de ser
socialista e se acomodou, ou melhor, os seus quadros
dirigentes se acomodaram, ás benesses do capitalismo e podem
permitir-se o mesmo estatuto efectivo de impunidade que todos os
políticos, seja no activo -caso de estar na linha visível se possa
considerar que trabalham- gozam (um gozar não só na aceitação de
usufruir mas também, e tristemente, de fazer pouco da população) e
o pântano em que os fazedores de legislação colocaram a Justiça,
não passam desapercebidos da cidadania.
Está
criado um caldo de cultura, um ambiente rarefeito, que mesmo
aceitando a pretensa qualificação de ser um povo tranquilo,
sossegado, pouco disposto a bater-se por problemas comuns, a história
nos mostra que em existindo um interesse, mais ou menos oculto, na
exacerbação da população, não é tão difícil como se pode
pensar, criar um ambiente de mudança gerida por controle remoto.
Inclusive é factível, como se provou noutras sociedades, mais
evoluídas do que a nossa, criar novas formações políticas que,
com orientações quase programáticas, mas sempre mal definidas,
podem conseguir alterar o panorama eleitoral.
Por
hábito, ou por apatia mental, custa.nos acreditar nos financiamentos
ocultos, mas eles existem, e colocam importantes somas de dinheiro
vivo, que permitem organizar, quase de pé para a mão, a propaganda
para incitar o descontentamento. Temos os exemplos concretos de como
os eleitorados americano, brasileiro e mais recentemente da Andaluzia
espanhola, deram um virote nas suas escolhas. De repente nos
deparamos com uma progressão inesperada dos partidos xenófobos,
direitistas, nacionalistas, a um degrau apenas de aderirem às acções
fascistas, que se pensava estarem relevadas para a memória
histórica.
A
cupidez, ambição e o desrespeito pelas suas funções de
condutores e servidores do povo, daqueles que se diz foram eleitos
por nós, estão deixando um caminho aberto, com muitas faixas, para
que os extremistas da direitona se movimentarem quando assim o
entenderem. Os cidadãos não sentem, caso alguma vez o tenham
sentido, respeito nem fé na Assembleia da República. É ali onde
teria que se dar uma forte reviravolta preventiva a muita coisa e que
não se prevê aconteça. E não teria que ser amanha, hoje já era
tarde.
Quanto
antes acordem melhor para todos; eles inclusive. Mas é impossível
pensar nesta prenda de Natal. Antes pelo contrário. Mais parece que
em vez de ocuparem (quando lá estão de facto) um semicírculo estão
num quadrado como em Chaimite, defendendo com unhas e dentes, tal
como gatos assanhados, as suas prebendas. Podem, e podemos todos, ter
uma surpresa. Que gostaria de considerar improvável.
Sem comentários:
Enviar um comentário