segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

MEDITAÇÕES 57 - HAVERÁ TEMPORAL ?


O QUE VEMOS NA EUROPA, E NO CONTINENTE AMERICANO

Temos que reconhecer que o facto, irreversível, de Portugal estar no extremo oriental do continente sempre proporcionou uma decalagem temporal importante em relação às convulsões políticas que se geraram, especialmente no centro europeu. Mas, à semelhança da amortiguação dos movimentos oscilatórios, as ondas de choque, quando nos alcançaram já não carregavam a virulência da sua génese. Apesar desta constatação hoje temos a obrigação de valorizar que a globalização não se limita ao comércio e às sociedades que  ficam directamente afectadas. Tudo é mais rápido do que jamais foi.

Não pretendo alarmar a tranquilidade de quem tenha a pachorra de me ler, mas se dermos uma volta pela imprensa internacional, onde os artigos de opinião e os editoriais nos contam muito mais do que os noticiários esquemáticos, podemos ficar cientes de que se estão organizando mudanças sociais e políticas muito importantes, não só as devidas a efeitos secundários da referida globalização, como são a precariedade laboral, a estagnação de muitos níveis salariais, o progressivo desemprego profissional, os receios de quebras no esquema de reformas e outras regalias, o aumento constante de impostos, directos e indirectos, mas a verificada deslocação, repentina e imprevista, do eleitorado no sentido de aderir aos partidos da direita, em especial da extrema direita, que se beneficiam do descontentamento existente, e que a sua propagando magnifica.

O clima de descontentamento e desorientação das classes que dependem de salários, sejam do nível baixo ou médio, são um alvo apetecível, e  propício, para a propaganda de grupos extremistas. Imaginar que entre nós, em Portugal, o facto de termos um governo que muitos consideram "contra natura", onde se finge manter uma  colaboração de fidelidade quase que canina, entre partidos teoricamente mais radicais, mas de facto lutando pelos interesses dos seus sócios e um partido que deixou de ser socialista e se acomodou, ou melhor, os seus quadros dirigentes se acomodaram, ás benesses do capitalismo e podem permitir-se o mesmo estatuto efectivo de impunidade que todos os políticos, seja no activo -caso de estar na linha visível se possa considerar que trabalham- gozam (um gozar não só na aceitação de usufruir mas também, e tristemente, de fazer pouco da população) e o pântano em que os fazedores de legislação colocaram a Justiça, não passam desapercebidos da cidadania.

Está criado um caldo de cultura, um ambiente rarefeito, que mesmo aceitando a pretensa qualificação de ser um povo tranquilo, sossegado, pouco disposto a bater-se por problemas comuns, a história nos mostra que em existindo um interesse, mais ou menos oculto, na exacerbação da população, não é tão difícil como se pode pensar, criar um ambiente de mudança gerida por controle remoto. Inclusive é factível, como se provou noutras sociedades, mais evoluídas do que a nossa, criar novas formações políticas que, com orientações quase programáticas, mas sempre mal definidas, podem conseguir alterar o panorama eleitoral.

Por hábito, ou por apatia mental, custa.nos acreditar nos financiamentos ocultos, mas eles existem, e colocam importantes somas de dinheiro vivo, que permitem organizar, quase de pé para a mão, a propaganda para incitar o descontentamento. Temos os exemplos concretos de como os eleitorados americano, brasileiro e mais recentemente da Andaluzia espanhola, deram um virote nas suas escolhas. De repente  nos deparamos com uma progressão inesperada dos partidos xenófobos, direitistas, nacionalistas, a um degrau apenas de aderirem às acções fascistas, que se pensava estarem relevadas para a memória histórica.

A cupidez,  ambição e o desrespeito pelas suas funções de condutores e servidores do povo, daqueles que se diz foram eleitos por nós, estão deixando um caminho aberto, com muitas faixas, para que os extremistas da direitona se movimentarem quando assim o entenderem. Os cidadãos não sentem, caso alguma vez o tenham sentido, respeito nem fé na Assembleia da República. É ali onde teria que se dar uma forte reviravolta preventiva a muita coisa e que não se prevê aconteça. E não teria que ser amanha, hoje já era tarde. 

Quanto antes acordem melhor para todos; eles inclusive. Mas é impossível pensar nesta prenda de Natal. Antes pelo contrário. Mais parece que em vez de ocuparem (quando lá estão de facto) um semicírculo estão num quadrado como em Chaimite, defendendo com unhas e dentes, tal como gatos assanhados, as suas prebendas. Podem, e podemos todos, ter uma surpresa. Que gostaria de considerar improvável.


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