Sempre?
É difícil
Admito
que as pessoas, pelo menos aquelas que se auto-avaliam como tais,
desejam se apresentar e manifestar, seja de viva voz ou por escrito,
sempre com total racionalidade, e sendo possível com honestidade. A
experiência obriga a reconhecer que não são poucas as ocasiões em
que, seja pressionados pelas obrigações sociais ou para não
desgostar intrinsecamente aquele/a a quem nos dirigimos, falseamos o
nosso parecer. Depois podemos sentir a consciência pesada; não
estarmos satisfeitos connosco; a opção mais practica é a de
aproveitar o automatismo de nos defender esquecendo os remorsos.
Infelizmente,
o ter atingido uma idade provecta (gosto deste termo. É bom para
aplicar nas palavras cruzadas) oferece-me o lastro de rememorar
acções de que, hoje, me recrimino e, para mais peso na consciência,
reconheço que não se pode voltar atrás no propósito de corrigir.
Dentro deste saco de recordações desagradáveis há pecadilhos,
veniais com diziam na catequese (o dicionário diz que este termo
corresponde a uma falta leve) outros mais graves e no topo da escala
os mortais, sem possível remissão. Cinicamente tento ficar
no nível dos veniais. Mas sem convicção.A catequese pesa.
As
horas sem conseguir ferrar o sono e nas que, quase sempre, faço
inventário dos meus pecados. São fases amargas, e constituem a minha
penitência em vida, pois que, pelo que me atinge, não
necessito de falecer para me encarar com o santo tribunal. Eu mesmo
nestes momentos de fraqueza, sou o meu juiz implacável. Ou
seja, a história da classificação dos pecados ainda me pesa. Mas
não me ameaço com penas pós-morte, dado que não conseguiram que
ficasse até a idade adulta com a crença da ressurreição e das almas penadas. Sou dos
que afirmam, convictamente, que os que tem penas são os índios
americanos, os outros levam um turbante, quando levam. Pontualizando, os índios penados, do continente americano, são
cada vez em menor número; e mesmo entre os que restam a maioria
desistiram de cravar penas na cabeça.
Não
quero terminar sem insistir que, dentro de ser possível, é
conveniênte e favorável para a convivência -mas arriscado- ser
racional e honesto. O risco que se corre é sobejamente conhecido, pois se há coisa perigosa é ser escravo voluntário da
verdade. Em muitas ocasiões é preferível um cauto silêncio e
deixar passar a bola. Até já ouvimos contos didácticos em que se
referem os perigos da verdade. A maior parte das pessoas, bem
educadas e conhecedoras, sabias portanto, utilizam eufemismos menos
crus do que a estrita verdade. Aliás, recordemos que existe a
máxima social que avisa Com a verdade me enganas, afirmação
que implicitamente nos diz que existem verdades que é preferível
negar.
E
agora um apanhado de provérbios sobre o tema:
A
verdade, ainda que amarga, se traga.
A
verdade é amarga, a mentira é doce.
A
verdade é clara e a mentira é sombra.
A
verdade é manca, mas chega sempre a tempo. (será assim?)
A
verdade e o azeite andam sempre ao de cima.
A
verdade não quer enfeites.
A
verdade não sofre dissimulações.
A
verdade não tem pés e anda.
A
verdade tem asas.
Mal
me querem as comadres, porque lhes digo as verdades.
Do
dinheiro e da verdade a metade da metade.
Onde
falecem as verdades, prevalecem os enganos.
As
más suspeitas destroem as verdades.
Não
há pior zombaria do que a verdade.
Pelejam-se
as comadres,descobrem-se as verdades.
Dobrada
é a maldade se feita com cor de verdade.
Ao
médico, ao advogado e ao abade, falar verdade.
Quem
não me crê, verdade não diz.
Vai-te
a língua para a verdade.
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