quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

MEDITAÇÕES 59 - Ser racional e honesto



Sempre? É difícil

Admito que as pessoas, pelo menos aquelas que se auto-avaliam como tais, desejam se apresentar e manifestar, seja de viva voz ou por escrito, sempre com total racionalidade, e sendo possível com honestidade. A experiência obriga a reconhecer que não são poucas as ocasiões em que, seja pressionados pelas obrigações sociais ou para não desgostar intrinsecamente aquele/a a quem nos dirigimos, falseamos o nosso parecer. Depois podemos sentir a consciência pesada; não estarmos satisfeitos connosco; a opção mais practica é a de aproveitar o automatismo de nos defender esquecendo os remorsos.

Infelizmente, o ter atingido uma idade provecta (gosto deste termo. É bom para aplicar nas palavras cruzadas) oferece-me o lastro de rememorar acções de que, hoje, me recrimino e, para mais peso na consciência, reconheço que não se pode voltar atrás no propósito de corrigir. Dentro deste saco de recordações desagradáveis há pecadilhos, veniais com diziam na catequese (o dicionário diz que este termo corresponde a uma falta leve) outros mais graves e no topo da escala os mortais, sem possível remissão. Cinicamente tento ficar no nível dos veniais. Mas sem convicção.A catequese pesa.

As horas sem conseguir ferrar o sono e nas que, quase sempre, faço inventário dos meus pecados. São fases amargas, e constituem a minha penitência em vida, pois que, pelo que me atinge, não necessito de falecer para me encarar com o santo tribunal. Eu mesmo nestes momentos de fraqueza, sou o meu juiz implacável. Ou seja, a história da classificação dos pecados ainda me pesa. Mas não me ameaço com penas pós-morte, dado que não conseguiram que ficasse até a idade adulta com a crença da ressurreição e das almas penadas. Sou dos que afirmam, convictamente, que os que tem penas são os índios americanos, os outros levam um turbante, quando levam. Pontualizando, os índios penados, do continente americano, são cada vez em menor número; e mesmo entre os que restam a maioria desistiram de cravar penas na cabeça.

Não quero terminar sem insistir que, dentro de ser possível, é conveniênte e favorável para a convivência -mas arriscado- ser racional e honesto. O risco que se corre é sobejamente conhecido, pois se há coisa perigosa é ser escravo voluntário da verdade. Em muitas ocasiões é preferível um cauto silêncio e deixar passar a bola. Até já ouvimos contos didácticos em que se referem os perigos da verdade. A maior parte das pessoas, bem educadas e conhecedoras, sabias portanto, utilizam eufemismos menos crus do que a estrita verdade. Aliás, recordemos que existe a máxima social que avisa Com a verdade me enganas, afirmação que implicitamente nos diz que existem verdades que é preferível negar.

E agora um apanhado de provérbios sobre o tema:

A verdade, ainda que amarga, se traga.
A verdade é amarga, a mentira é doce.
A verdade é clara e a mentira é sombra.
A verdade é manca, mas chega sempre a tempo. (será assim?)
A verdade e o azeite andam sempre ao de cima.
A verdade não quer enfeites.
A verdade não sofre dissimulações.
A verdade não tem pés e anda.
A verdade tem asas.
Mal me querem as comadres, porque lhes digo as verdades.
Do dinheiro e da verdade a metade da metade.
Onde falecem as verdades, prevalecem os enganos.
As más suspeitas destroem as verdades.
Não há pior zombaria do que a verdade.
Pelejam-se as comadres,descobrem-se as verdades.
Dobrada é a maldade se feita com cor de verdade.
Ao médico, ao advogado e ao abade, falar verdade.
Quem não me crê, verdade não diz.
Vai-te a língua para a verdade.

Sem comentários:

Enviar um comentário