| ||||
Pois
o filme, que estreava naquela sessão, tem um título bastante longo:
UM BILHETE DE COMBOIO PARA LONGE DAQUI. Só de ida. O filme em questão
tem um conteúdo que, em grandes traços, se acomoda ao recentemente
exibido A VIÚVA , do prémio Nobel de Literatura.
Por
respeito tanto aos autores, como aos artistas, produtores e exibidores, não
vou dar um resumo do argumento. Mas se escrevo é porque nos,o casal, já com mais de 80 Primaveras nas costas, acumulamos muita
experiência de vida, o que nos permite ou incita, a ponderar as
mensagens bem evidentes que o desenrolar da acção, que nem sequer é
excessivamente longa no tempo, nos expõe de forma, em muita cenas,
extremamente agressiva.
Imagino
que as pessoas que mais imediatamente captarão o sentido anímico
que afectava a personagem feminina principal, devem ser as mulheres
casadas por algumas décadas, com filhos, sejam ainda em activo ou viúvas e divorciadas. Os homens, os
espectadores melhor dizendo, se estiverem com os olhos internos tão
abertos como os que lhes mostram o ecrã, podem ficar bastante
tocados, sem sentirem que a sua atitude lhes seja indutora de culpa.
Em verdade aquilo que se aponta está imerso no comportamento
diferenciado dos dois membros de um casal.
Um homem que, pêlo menos
em certas ocasiões, não abdique do seu instinto de predador sexual,
sem que estes desvios conjugais lhe impliquem um pesado sentimento de
culpa. Sem
pretender discriminar as mudanças sociológicas que a
modernidade nos forneceu, é forçoso admitir que, em consequência
da mulher ter sido incluída no mundo laboral, as infidelidades de
esposa devem ter sido mais numerosas do que na época em que as
mulheres, depois de casadas, viviam enclausuradas no lar.
Mas
as situações que mais me impactaram, apesar de as conhecer, foram,
por um lado, o ter que admitir que as esposas nem sempre estão
animicamente afins a partilhar o furor copulativo do marido. No filme
esta situação é insistentemente apresentada, amargamente, possivelmente com a
intenção de educar os maridos. Comentando em casa esta faceta do
argumento imediatamente se chega à consideração de que o homem,
tal como outros mamíferos, carrega no seu seio um bode. E que mesmo
que tendo cometido deslizes no capítulo da fidelidade conjugal,
depressa neutraliza o sentimento de culpa por se apoiar com o
instinto natural. E quem diz tinto pode dizer branco, palhete ou
espumoso, mas jamais água-pé. pois que esta beberagem não é coisa
que se apresente seriamente.
A
outra situação que o argumentista decidiu e que causou alguma
surpresa, mesmo desconforto, é o como decidiu terminar a narrativa. Sem
ceder ao "politicamente correcto". Sensatamente não fecha
a história, e concede à personagem feminina uns graus de liberdade,
de opções, que nos podem deixar desconfortáveis quando nos
levantamos para sair.
Sem comentários:
Enviar um comentário