Os
sonhos são só fantasia?
Depois
de ter uma noite recheada de sonhos, quase todos bizarros, acordei com memória fresca de alguns temas, e senti o impulso, irresistível, de retomar o tema antes que
esquecesse, o que a experiência me diz ser inevitável. Se os
sonhos não tivessem um período de memória curto, e permanecessem
remanescentes como autenticas memórias, a loucura seria inevitável.
Parqué esta minha obsessão com os sonhos? Pois simplesmente devido a que
jamais me meti neste tema seriamente. Por uma questão de respeito e
prudência. Sempre avaliei este tema como escorregadio, perigoso, a
evitar. É uma das facetas da vida que embora me causasse bastante
pressão mental, decidi só pesquisar ao de leve. Comprei alguns
livros que anunciavam poder deixar tudo absolutamente claro, diáfano.
Mas não me convenceram. Ficaram para pasto dos bichinhos prateados
ou foram para o caminho que os levou à pasta de papel.
Reflectindo sobre o que ainda estava remanescente na minha mente depois de
acordar, e que, como era de esperar, não diferia muito, ou nada, no
seu esquema estrutural do que já tinha captado anteriormente, o que
mais me espanta é que, normalmente, os sonhos que me ocorrem tem
argumentos bastante fundamentados em ocorrências e personagens
reais, vividas por mim, ou dos quais tive referências credíveis.
Mas aquilo que me atrai na tentativa de os fixar após acordar, é que a
memória se encarrega de os eliminar pouco tempo depois. Muitas vezes
tive o propósito de ter um bloco de anotações e uma caneta ou
lápis, na mesa de cabeceira e assim poder escrever o que recordava
enquanto estava fresco. Não vale a pena, pois o esquema de
construção da falsa memória é sempre o mesmo, e esbate-se se o
focarmos com uma atenção excessiva.
Ainda
que dormido, mas por ser perto do momento em que vou acordar,
desconheço com rigor o que a mente me oferece na fase do sono
profundo, aquele que os estudiosos situam nas primeiras horas de
sono. Mas sim que posso garantir, pelo menos no que passa pela minha
máquina de pensar, é que sempre surgem algumas personagens
conhecidas, que significaram alguma coisa na minha vida. Assim como,
no meio das fantasias com que a mente abrilhanta as suas construções,
aparecem locais conhecidos, misturados com outros imaginados ou com
referências indirectas.
Entre
umas aportações e outras o cérebro constrói, em cada tempo de
sono, uma ou várias “obras de teatro”. Que raramente tem ligação
entre si. Uma das características dos meus sonhos, e que admito deve
ser comum à maioria das pessoas (1) é que mesmo quando a situação
que nos descrevemos não coincide com uma realidade vivida, ali
encontramos pormenores, frases de diálogo, cenários, que sem dúvida
encaixam no argumento geral do sonho, mas que, sem dúvida,
reconhecemos como “autentico”.
Posso
estar certo ou errado, mas julgo que esta estrutura onírica deve ser
equivalente à que um bom escritor/a de ficção, aquele que consegue
captar a atenção do leitor, tem seguir para captar a atenção do
leitor do início ao fim do seu trabalho. Partir, ou incluir ao longo
do seu texto, alguns factos reais e depois, como se faz sonhando,
juntar adereços, que podem ser apanhados de outras fontes, mesmo sem
o propósito de plagiar, e oferecer ao ledor uma estrutura aceitável,
mesmo que não absolutamente credível.
Habitualmente,
sendo leitor assíduo de obras de ficção e de história (nas
quais o “sério historiador” sempre termina metendo algumas maquinações pessoais) insisto em conceder uma dose de
aceitação, por vezes magnânimo. Tem sido raros os livros que
abandonei depois de ultrapassar o rubicão. Interessaram no início e depois foram perdendo a embalagem, até acabar oferecendo
simplesmente tédio.
(1)
e animais! Pois quem tem ou teve
cães, por exemplo, verificou não ser anormal ver um cão,
profundamente dormido rosnar e se mexer, mesmo que sem acordar,
como se estivesse em litígio com outro da sua espécie.
Sem comentários:
Enviar um comentário