terça-feira, 2 de julho de 2019

MEDITAÇÕES - Como sonhamos?



Os sonhos são só fantasia?

Depois de ter uma noite recheada de sonhos, quase todos bizarros, acordei com memória fresca de alguns temas, e senti o impulso, irresistível, de retomar o tema antes que esquecesse, o que a experiência me diz ser inevitável. Se os sonhos não tivessem um período de memória curto, e permanecessem remanescentes como autenticas memórias, a loucura seria inevitável.

Parqué esta minha obsessão com os sonhos? Pois simplesmente devido a que jamais me meti neste tema seriamente. Por uma questão de respeito e prudência. Sempre avaliei este tema como escorregadio, perigoso, a evitar. É uma das facetas da vida que embora me causasse bastante pressão mental, decidi só pesquisar ao de leve. Comprei alguns livros que anunciavam poder deixar tudo absolutamente claro, diáfano. Mas não me convenceram. Ficaram para pasto dos bichinhos prateados ou foram para o caminho que os levou à pasta de papel.

Reflectindo sobre o que ainda estava remanescente na minha mente depois de acordar, e que, como era de esperar, não diferia muito, ou nada, no seu esquema estrutural do que já tinha captado anteriormente, o que mais me espanta é que, normalmente, os sonhos que me ocorrem tem argumentos bastante fundamentados em ocorrências e personagens reais, vividas por mim, ou dos quais tive referências credíveis.

Mas aquilo que me atrai na tentativa de os fixar após acordar, é que a memória se encarrega de os eliminar pouco tempo depois. Muitas vezes tive o propósito de ter um bloco de anotações e uma caneta ou lápis, na mesa de cabeceira e assim poder escrever o que recordava enquanto estava fresco. Não vale a pena, pois o esquema de construção da falsa memória é sempre o mesmo, e esbate-se se o focarmos com uma atenção excessiva.

Ainda que dormido, mas por ser perto do momento em que vou acordar, desconheço com rigor o que a mente me oferece na fase do sono profundo, aquele que os estudiosos situam nas primeiras horas de sono. Mas sim que posso garantir, pelo menos no que passa pela minha máquina de pensar, é que sempre surgem algumas personagens conhecidas, que significaram alguma coisa na minha vida. Assim como, no meio das fantasias com que a mente abrilhanta as suas construções, aparecem locais conhecidos, misturados com outros imaginados ou com referências indirectas.

Entre umas aportações e outras o cérebro constrói, em cada tempo de sono, uma ou várias “obras de teatro”. Que raramente tem ligação entre si. Uma das características dos meus sonhos, e que admito deve ser comum à maioria das pessoas (1) é que mesmo quando a situação que nos descrevemos não coincide com uma realidade vivida, ali encontramos pormenores, frases de diálogo, cenários, que sem dúvida encaixam no argumento geral do sonho, mas que, sem dúvida, reconhecemos como “autentico”.

Posso estar certo ou errado, mas julgo que esta estrutura onírica deve ser equivalente à que um bom escritor/a de ficção, aquele que consegue captar a atenção do leitor, tem seguir para captar a atenção do leitor do início ao fim do seu trabalho. Partir, ou incluir ao longo do seu texto, alguns factos reais e depois, como se faz sonhando, juntar adereços, que podem ser apanhados de outras fontes, mesmo sem o propósito de plagiar, e oferecer ao ledor uma estrutura aceitável, mesmo que não absolutamente credível.

Habitualmente, sendo leitor assíduo de obras de ficção e de história (nas quais o “sério historiador” sempre termina metendo algumas maquinações pessoais) insisto em conceder uma dose de aceitação, por vezes magnânimo. Tem sido raros os livros que abandonei depois de ultrapassar o rubicão. Interessaram no início e depois foram perdendo a embalagem, até acabar oferecendo simplesmente tédio.


(1) e animais! Pois quem tem ou teve cães, por exemplo, verificou não ser anormal ver um cão, profundamente dormido rosnar e se mexer, mesmo que sem acordar, como se estivesse em litígio com outro da sua espécie.

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