A
Brigada Victor Jara (1)
Estive
umas horas dedicado à jardinagem, sachando os canteiros, tirando as
ervas não desejadas e, em consequência, o meu B.I., agora Cartão
de Cidadão, fez-me ver que estava abusando das poucas forças que os
'81 proporcionam. Suei como se tivesse frequentado um ginásio! Já
sobre ginástica uma vivência pessoal, curta e engraçada.
Já estava eu nos quarenta e tal anos quando o grupo familiar directo fez-me ver que estava descuidando a atenção pelo meu corpo. Que faltava intervenção! como na polícia de choque. Mais concretamente, que
devia inscrever-me num ginásio e melhorar a resistência física.
Tive que seguir as suas recomendações, melhor dizendo exigências.
Inscrevi-me num ginásio, no grupo dos enferrujados. Após duas
sessões, o instrutor, que também, o era na Escola do Exército,
vendo a minha fraca capacidade para seguir os exercícios,
perguntou-me acerca de quanto tempo fazia que tinha deixado de fazer
exercícios de ginástica. A resposta, pronta e verídica, foi: TODO O
TEMPO, jamais fiz ginástica! O homem não cai redondo porque já
devia esperar uma resposta equivalente, embora não tão drástica.
Só me recomendou que continuasse, pois via que me esforçava. Mas
com cuidado!
Ainda
bem que me alertou, pois na segunda sessão depois deste aviso. ZÁS,
uma hérnia inguinal! Que tratei que fosse operada o antes possível,
sem esperar por hospital do estado, fosse civil ou militar. Estas
coisas tem que se atacar logo, de caras, com coragem e bolsa
preparada. Nem seria necessário referir que não voltei ao ginásio,
ou melhor, que fui até lá só para me despedir. Practicamente aquele TODO O TEMPO, continuou
vigente até hoje, mesmo com a jardinagem.
Inclusive
a situação é mais parva, ou caricata, porque temos uma espécie de
contrato com uma das muitas “empresas” de jardinagem e manutenção de jardins, que nos são oferecidas com cartões na caixa de correio. Escolhemos a que nos recomendou um vizinho. Nos visitam duas vezes por mês. Mas
o tempo que nos dedicam para pouco mais chega do que cortar a relva,
podar alguns excessos de crescimento na vedação e, quando é a
época indicada, podar as árvores de fruta. Fica muito por fazer. Eu
chamo a este grupo, de 2 a 4 elementos, como sendo a “brigada
Victor Jara”, daí o cabeçalho, justificado por mais um pormenor,
que explicarei.
Quando
chegam, seja numa carrinha fechada, bastante grande, ou com uma
camioneta de caixa aberta, descarregam muito equipamento “bélico”.
Estão sumamente mecanizados. Tudo motorizado! Para poder despachar
as tarefas em pouco tempo. É a fruta da época. No princípio de
estar nesta casa, com jardim e relva, tivemos um jardineiro, já
reformado e hoje falecido, que apesar de ter uma máquina de corte eléctrica
disponível, por vezes trazia uma gadanha, como a Morte, e assim eu tive oportunidade de assistir a um espectáculo histórico.
Estes de agora, os da brigada,
nem varrer querem fazer. Trazem uns sopradores que levantam tanta poeirada que a dona da casa os interditou porque fica no ar tanta
pó que mesmo com as janelas fechadas, quando depois de partirem
as abrem, tudo fica com uma linda camada, onde se podem
escrever quadras para-pulares.
Esta
modernidade toda, que nos invade duas vezes por mês, ganhou a
alcunha, por similitude, de “brigada Victor Jara”. Mais adiante,
porém, passou, para mim, a ser uma espécie de filial de uma empresa
de transporte de passageiros desta zona, com o nome de VIMECA. Por
extenso é Viação Mecânica de Carnaxide. A empresa de jardinagem
em causa, nitidamente mecânica, tem oficialmente outro nome, mas eu rebaptizei para JARMECO, obviamente evidente dado que a sua área de
combate esta no Norte e na zona OESTE da Capital do Reino.
- Quem por ser novo, ou desinteressado pela política -o que é um erro total, por abandono do campo ao adversário- e por isso desconhecer quem era esta personagem do Séc. XX, poderá ilustrar-se sem dificuldade consultando um dos muitos apartados existentes no Google, seja na Wikeleaks ou noutra entrada qualquer. O acréscimo da “brigada” deve-se a um grupo de “músicos de intervenção”, como gostavam de ser conhecidos, e que adoptaram precisamente este nome “de guerra”, pelo propósito, desnatado, de se comparar com a acção revolucionária do mártir chileno.Victor Jara, homem do povo rural, foi professor, músico, compositor, e organizador de concertos para esclarecer o seu povo chileno. Também foi encenador de teatro e incomodou os direitistas do Chile. Com o golpe militar contra Salvador Allende, não tardaram horas em prender Victor Jara, torturar e fuzilar.Os nossos “revolucionários de salão” jamais foram sérios activistas. No máximo perigo foram corridos, presos por horas ou dias, levaram umas chapadas, mas o seu sangue não chegou à sarjeta.
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