sexta-feira, 5 de julho de 2019

O SEGREDO – dos espertos



O segredo da abelha

Anos atrás. Bastantes. Havia uma campanha publicitária para incentivar o consumo de geleia real, que se afirmava era o alimento que as abelhas rainhas davam às larvas que pretendiam viessem a ser novas rainhas. Para a clientela de humanos crédulos dizia-se que as pessoas poderiam, através da empresa promotora, usufruir das excelentes propriedades regenerativas desta geleia e, daí, habilitar-se a um prodigioso rejuvenescimento. Se assim era ou não, não discuto, pois em casa, que eu saiba, não entramos nessa fantasia, como em muitas outras das que constantemente nos são apresentadas.

Mas não era este o segredo que eu tinha em mente, mas outros que se sugere estarem na mão de personalidades que, por “artes mágicas” por assim dizer, têm a possibilidade de se movimentar na sombra, e até no caso, pouco provável, alguma vez, por descuido ou atrevimento de um cusca, aparecem num ambiente de domínio da população em geral. De facto é bastante reduzida esta parcela da população, dado o desinteresse dominante e até um certo comodismo a fim de não se ralar, uma vez que as ralações dão cabo do fígado. Por isso muito se move no segredo dos bastidores.

Esta meditação surgiu a propósito da anunciada, mas não terminada, denúncia de trapalhice por parte do Comendador Berardo. O próprio, que não é exactamente um neófito nas artes e manhas de conseguir bons negócios. Ele já deu a entende, e creio que devemos estar de acordo com ele, que se pediu um financiamento avultado para comprar acções de um banco, dando como garantia as mesmas acções que se previa ser possível vierem a ter uma desvalorização importante. Como aliás se veio a verificar.

Ele, Comendador, agiu correctamente ao pedir aquele montante emprestado, indicando o fim que lhe daria, e se se aceitaram as suas garantias, ele não era responsável pelos critérios, certos ou errados, que posteriormente se consideraram como inaceitáveis. Depois do leite derramado...

Esta e outras habilidades que se foram cometendo ao longo de anos, sempre causando graves prejuízos às finanças públicas -leia-se que os danos sempre foram cobertos com o sacrifício económico da população calada e sofredora, que nada beneficiou com a manobra- nos induz a considerar que as “boas novas, os êxitos apregoados” não passam de areia atirada aos olhos do povo, tanto o “miúdo” como o que vegeta em escalões que pensa serem merecedores de um grau de prestigio.

O que acontece na nossa sociedade é consequência de não admitir e agir em consonância, que a nossa economia, reflexo da pouca industrialização, do venderem as melhores empresas para aliviar, temporariamente, os deficits públicos, mais o nepotismo que coloca muitos patamares de poder, e responsabilidade, em cabeças sem idoneidade, enquanto se alimentam falsas vaidades e recordações de impérios já desaparecidos, oferece um terreno adubado, óptimo para os negócios pouco claros. Tudo num sábio esquema de ocultação e compadrio que permite gerar fortunas sem trabalhar, e ainda ter acesso a medalhas, comendas e abraços de parabéns.

Triste sina a dos portugueses. Que para mais vergonha, nem sequer podem atirar as responsabilidades a estrangeiros. A malandragem é mesmo nossa, e não como aquela Angola que se cantava ser nossa.

O tema de hoje. Mal explicado propositadamente, recorda-me aquela fraca anedota da mulher que foi queixar-se à esquadra da polícia de que nos apertões do metro lhe roubaram uma avultada quantia, que ela trazia bem resguardada no corpo.
    - Há muitos carteirista nos transportes públicos, minha senhora. E nós todos os dias apanhamos uma meia dúzia ou mais, respondeu o oficial de plantão. E acrescentou: E onde é que a senhora trazia, guardada, esta importância?
    - Nas copas do soutien! Senhor guarda.
    - E a senhora não deu que lhe tocavam nesta zona, tão reservada., do seu corpo?
    - Lá que me amassaram as mamas senti, não nego; mas pensei que não era por mal...!
Ou seja, que nem sempre as trafulhices dos espertos nos passam desapercebidas. O pior é que as pessoas já estão habituadas e sentem que não conduz a nada o tentar travar os abusos, por ser conscientes da impugnável barreira de protecção que foi criada. E, logo abaixo da epiderme, sentem inveja e pena de não poder fazer o mesmo.

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