O
segredo da abelha
Anos atrás. Bastantes. Havia uma
campanha publicitária para incentivar o consumo de geleia real,
que se afirmava era o alimento que as abelhas rainhas davam às larvas
que pretendiam viessem a ser novas rainhas. Para a clientela de
humanos crédulos dizia-se que as pessoas poderiam, através da
empresa promotora, usufruir das excelentes propriedades regenerativas
desta geleia e, daí, habilitar-se a um prodigioso rejuvenescimento.
Se assim era ou não, não discuto, pois em casa, que eu saiba, não
entramos nessa fantasia, como em muitas outras das que constantemente
nos são apresentadas.
Mas não era este o segredo que eu
tinha em mente, mas outros que se sugere estarem na mão de
personalidades que, por “artes mágicas” por assim dizer, têm a
possibilidade de se movimentar na sombra, e até no caso, pouco
provável, alguma vez, por descuido ou atrevimento de um cusca,
aparecem num ambiente de domínio da população em geral. De facto é
bastante reduzida esta parcela da população, dado o desinteresse
dominante e até um certo comodismo a fim de não se ralar, uma vez
que as ralações dão cabo do fígado. Por isso muito se move no
segredo dos bastidores.
Esta meditação surgiu a propósito
da anunciada, mas não terminada, denúncia de trapalhice por parte
do Comendador Berardo. O próprio, que não é exactamente um neófito
nas artes e manhas de conseguir bons negócios. Ele já deu a
entende, e creio que devemos estar de acordo com ele, que se pediu um
financiamento avultado para comprar acções de um banco, dando como
garantia as mesmas acções que se previa ser possível vierem a ter
uma desvalorização importante. Como aliás se veio a verificar.
Ele, Comendador, agiu correctamente
ao pedir aquele montante emprestado, indicando o fim que lhe daria, e
se se aceitaram as suas garantias, ele não era responsável pelos
critérios, certos ou errados, que posteriormente se consideraram
como inaceitáveis. Depois do leite derramado...
Esta e outras habilidades que se
foram cometendo ao longo de anos, sempre causando graves prejuízos
às finanças públicas -leia-se
que os danos sempre foram cobertos com o sacrifício económico da
população calada e sofredora, que nada beneficiou com a manobra-
nos induz a considerar que as “boas novas, os êxitos apregoados”
não passam de areia atirada aos olhos do povo, tanto o “miúdo”
como o que vegeta em escalões que pensa serem merecedores de um grau
de prestigio.
O que acontece na nossa sociedade é
consequência de não admitir e agir em consonância, que a nossa
economia, reflexo da pouca industrialização, do venderem as
melhores empresas para aliviar, temporariamente, os deficits públicos, mais o nepotismo que coloca muitos patamares de poder, e
responsabilidade, em cabeças sem idoneidade, enquanto se alimentam
falsas vaidades e recordações de impérios já desaparecidos,
oferece um terreno adubado, óptimo para os negócios pouco claros.
Tudo num sábio esquema de ocultação e compadrio que permite gerar
fortunas sem trabalhar, e ainda ter acesso a medalhas, comendas e
abraços de parabéns.
Triste sina a dos portugueses. Que
para mais vergonha, nem sequer podem atirar as responsabilidades a
estrangeiros. A malandragem é mesmo nossa, e não como aquela Angola
que se cantava ser nossa.
O tema de hoje. Mal explicado
propositadamente, recorda-me aquela fraca anedota da mulher que foi
queixar-se à esquadra da polícia de que nos apertões do metro lhe
roubaram uma avultada quantia, que ela trazia bem resguardada no
corpo.
- Há muitos carteirista nos
transportes públicos, minha senhora. E nós todos os dias apanhamos
uma meia dúzia ou mais, respondeu o oficial de plantão. E
acrescentou: E onde é que a senhora trazia, guardada, esta
importância?
- Nas copas do soutien! Senhor
guarda.
- E a senhora não deu que lhe
tocavam nesta zona, tão reservada., do seu corpo?
- Lá que me amassaram as mamas
senti, não nego; mas pensei que não era por mal...!
Ou seja, que nem sempre as
trafulhices dos espertos nos passam desapercebidas. O pior é que as
pessoas já estão habituadas e sentem que não conduz a nada o tentar
travar os abusos, por ser conscientes da impugnável barreira de
protecção que foi criada. E, logo abaixo da epiderme, sentem inveja e pena de não poder fazer o mesmo.
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