terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

MEDITAÇÕES – Sobre a liberdade de escolha

 Uma das “verdades” que nos foram inculcadas é a de que o homem (noção que inclui as mulheres e variantes) tinha a inegável capacidade de orientar a sua vida, o seu destino, as suas voltas e reviravoltas, ou seja, que podia conduzir o seu futuro com absoluta liberdade de opção. Será mesmo assim?

Avaliando pelo meu percurso pessoal e até baseando no que conheço (admito, sem hesitar, que nem de mim mesmo sei todos os vectores que me empurraram a decidir. Quanto mais das outras pessoas...) as decisões que orientaram o percurso de vida raramente foram tomadas sem ponderar uma série, mais ou menos longa, de pressões em sentidos diversos ou mesmo opostos. E que posteriormente vimos que o que foi decidido, como se fosse de livre vontade, ou mesmo indubitavelmente pela própria cabeça, foi um erro, que conduziu, sem uma forte capacidade de emenda. Quando a decisão foi tomada por ser a única possível, e por vezes até por pressão exterior, a conversa é outra.

As reacções que o indivíduo pode sentir quanto está ciente de ter errado no caminho resumem-se em três (cuja escolha apresenta, novamente, a incerteza) A saber: continuar e esperar que a situação melhore de por si; virar para para um novo rumo ou tentar recuar à posição inicial. Os jogos de tabuleiro -salvo aqueles em cujas regras existe a possibilidade de avançar como prémio ou retroceder como castigo- nos dizem que uma vez feita a jogada é irreversível. Todavia na vida nem sempre esta penalidade é irrevogável.

Na fase da nossa vida colectiva, anormal, em que sabemos estar cativa a sociedade mundial, as possibilidades de tomar decisões pessoais, que contrariem aquilo que as normas e regras em vigor nos obriguem, são cada vez menores. Pior! Muitas pessoas passaram de estar num patamar aceitável, mesmo que não exactamente o desejável, para ser empurrados para situações que julgavam estar já fora do seu horizonte “normal”.

Para um colectivo, não quantificado pelos responsáveis da governação,mas que sem dúvida alguma engrossa as suas fileiras diariamente, as possibilidades de retomar a vida anterior estão muito difusas ou mesmo distantes, ou até vistas como irremediavelmente perdidas.

Dizia-se que a esperança era a última coisa a perder. E, por tabela nos diz que a (em melhores tempos. Mas não na fé cega da religião, que consola o desgraçado (?)) e a carência de meios próprios induz a que se sinta difícil exercer a caridade social, já que todos sabemos que o País, na sua totalidade, há muito tempo que vive de fiado, “confiando” em que perdoem as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.

Mas será que nos devem alguma coisa? Ou, dito de outra forma. Será que aquela grandeza histórica que tanto se tem badalado ao longo de décadas, ou séculos, já não é valorizada como um capital pelos restantes povoadores da Terra? Ou, se calhar nunca o foi

Cinicamente recordamos que, na maior parte das ocasiões, o que uma mão de fora nos oferece implica a que, com a outra mão, nos tira valores superiores e dificilmente recuperáveis. E não só isso. Por muito que tente passar desapercebido, um ricalhaço que perdeu quase tudo e vai ao penhorista, ou mais fino, ao Montepio Geral, sabe que aquilo deixado como penhor dificilmente voltará ás suas mãos, ou mesmo jamais em tempo algum, como se diz popularmente. Excepto se o “artista” pertencer à classe dos políticos e dos banqueiros, seus fieis aliados. Estes conseguem ficar mais endinheirados do que antes de entrar naquelas instituições.

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