sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

MEDITAÇÕES – O desnorte da “classe média”

Nota prévia: O que tenho em mente é a ideia, pessoal, de que existe uma convicção errada, por uma parte das pessoas acomodadas, em se auto-considerar como pertencentes a uma zona social “em expansão”. A estarem situados numa burguesia que, de facto, tem uma base económica muito periclitante.

Recordemos que a nova classe social, independente da nobreza e da Igreja, surgiu na Idade Média quando as cidades -burgos-, foram ganhando importância em consequência do abandono dos campos pela dificuldade em subsistir. Nas cidades foi factível, para algumas actividades especiais, conseguir estabilidade e meios económicos próprios. Aconteceu com alguns artesãos especializados -como ourives- e a médicos, notários, advogados e outras profissões liberais. A eles juntaram-se empresários que careceram de ajudantes especializados ou como mão-de-obra com baixa remuneração. Assim surgiu uma nova classe com poder crescente e sem compromissos sociais: A burguesia.

Regressando à actualidade. Com os efeitos secundários que a pandemia está provocando no tecido social em que vivemos, é muito provável que bastantes famílias, que tinham conseguido habituar-se a ter mais do que uma residência. A gozar férias no estrangeiro várias vezes ao longo do ano civil. A poder usufruir da comodidade, e vaidade, de ter vários carros à sua disposição, além de residir em casas grandes, bem mobiladas e com todo o conforto desejável, súbita e gradualmente se viram privados de algumas benesses.

Apesar do recurso ao tele-trabalho, deve ter sido quase impossível não sentir os efeitos, nomeadamente no seu grupo familiar, do confinamento obrigatório. E pior. O encerramento de empresas pode ter colocado muitos dos membros da sociedade que, paulatinamente, se tinham habituado a “ser gente”, a verem-se num estado de

No século XX -ou seja recentemente pelo calendário evolutivo- a noção de pertencer à burguesia tornou-se a meta para quem, seja como for, tinha conseguido uma agradável estabilidade económica -mesmo que mais aparente do que real- com a qual se podia sentir destacado perante aqueles do grupo de onde tinha saído recentemente.

Esta aparente burguesia sem base económica própria e consistente, será uma das vítimas mais desmoralizadas que pode surgir com esta pandemia. Mas tenhamos fé em que alguns recuperarão, com esforço e novas oportunidades. E novos membros se incorporarão à falsa burguesia.

Sem comentários:

Enviar um comentário