terça-feira, 5 de janeiro de 2021

MEDITAÇÕES - O Rei do Fado

 

Antes de começar com o assunto que trago engasgado quero pedir a benevolência dos meus, poucos, leitores por meter foice em seara alheia. Pode ser uma intromissão grave, como o afirmar que a vaidade de ter uma palavra exclusiva do idioma nacional: saudade, é um exagero de patriotismo e desconhecimento de outras línguas, pois que com ela se pretende, e consegue, retratar um sentimento que é universal.


Desde ontem que me sinto desnorteado pelas loas que se estão a dar ao falecido Carlos do Carmo, como ter sido o expoente máximo da interpretação do fado. Tenho 82 anos, dos quais 70 vividos em Portugal, país que me agrada e que justificou o pedir a nacionalidade portuguesa. Por isso posso afirmar que ouvi muitos intérpretes do fado, entre os quais, e sempre identificando este género de canto como de génese popular, até de nível plebeu, tal não impediu a que, progressivamente, fosse “reinventado” para ser aceite como apto a ser cantado e ouvido em locais mais “finos” do que as tascas onde nasceu.


Todavia, a meu entender, o seu a seu dono. Não podemos deixar nas trevas o ALFREDO MARCENEIRO, que sempre se manteve fiel ao ambiente onde nasceu e cresceu. Também recordo o CARLOS RAMOS, com o seu porte mais cosmopolita mas com uma técnica muito própria e adequada ao fado já em evolução. Para meu juízo, ambos mereciam, em paralelo, o terem subido ao pódio de uma competição hoje abastardada na sua evolução ambígua.


Poderia, e devia, referir outros intérpretes masculinos merecedores de ser recordados. Sem esquecer nem tirar méritos às intérpretes femininas que se dedicaram a este género de música, muitas adaptando-se, com êxito, às novas exigências do mundo do espectáculo.



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