terça-feira, 12 de janeiro de 2021

MEDITAÇÕES - Engolir com cuidado

 

VIVÊNCIAS DE VIRELLA


Cuidado com a religião. Recomenda-se lidar com mini-doses

Muitos de nós temos a noção de que alguns elementos químicos ou ou compostos onde estivessem incorporados foram usados, e alguns ainda se usem como medicação entrem na sua composição, ou foram posteriormente banidos. Mas desde cedo se verificou que em muitos casos concretos só era pertinente utilizar em doses mínimas, sob pena de o remédio se converter em veneno.

No repositório da sabedoria popular conhecemos, todos, o aviso de que tudo o que é demais é moléstia. Razoado que tanto se pode e deve aplicar no tema dos produtos que se ingerem, incluindo os alimentos, como ao excessivo trabalho, a exposição ao sol em solários ou praia, e a outras actividades, inclusive desportivas, que, sem os cuidados pertinentes, passam de ser benéficas a serem perniciosas.

Esta introdução surgiu-me ao meditar sobre os benefícios e malefícios que podem resultar de uma catequização intensiva e aceite pela pessoa crente. Em princípio, sem entrar em pormenores, pode-se admitir que todas as religiões contêm preceitos e normas formativas , inicialmente positivas sob o ponto de vista sociológico. Pessoalmente recomendo que limitemos a nossa adesão aos princípios mais elementares.

Onde as doutrinas descarrilam é quando fomentam o entrar em conflito com aqueles que não pertencem ao seu grupo.

Sem ter estudado a religião onde me catequizaram (sem grande sucesso) e cingindo-me aos dez mandamentos que se diz o Deus dos hebreus entregou a Moisés, se retirar os dois primeiros -que são exclusivos- o resto constituem um repositório de preceitos de comportamento com indiscutível valor e pertinência. Assim fossem aplicados ciosamente pelos membros dos diferentes ramos do cristianismo.

Nos tempos que correm ficamos indignados, perturbados quando nos referem ataques terroristas que os responsáveis, os autores imediatos, pretendem justificar alegando que são castigos a infiéis (do seu credo) que, directa ou indirectamente ofenderam a sua doutrina. Na maior parte das vezes são aliciados para cometer tais actos por indivíduos que se assumem como enviados ou escolhidos pelo seu profeta.

Em chegando a este ponto, e sem aprovar os actos cometidos por fanáticos, sejam religiosos ou políticos, surge a lembrança do quão curta e selectiva é a memória da maioria das pessoas. Esquecem, ou ignoram, as atrocidades, as chacinas, que os cristãos, e entre eles não só os católicos, cometeram contra civis indefesos. O massacre dos cátaros, as perseguições a judeus, aos indígenas de territórios conquistados -com a argumentação de que eram idolatras- e, entre nós, mais recentemente, no séc XVIII, quando reinava D. José e o Marquês de Pombal ainda era Primeiro Ministro a “Santa” Inquisição fez um multitudinário auto de fé, com mortes pelo fogo, ou em efígie, sob diversas argumentações, hoje inaceitáveis.

Tudo no Terreiro do Paço para gáudio e aviso para a população, sempre sedenta de sangue. Devemos valorizar que isto aconteceu anteontem!

Sem pretender uma exculpação dos terroristas islâmicos, ou de outra facção belicosa, creio que é pertinente considerar que nós, os cristãos, e principalmente os católicos de cuja doutrina somos participes activos ou dormentes, não temos as mãos sem mácula. Antes estão bastante sujas de sangue seco.

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