sexta-feira, 28 de agosto de 2020

MEDITAÇÕES – Preferimos ignorar

O betão armado é eterno?

Qualquer pessoa que mantenha o espírito crítico activo e o acompanhar de uma observação criteriosa do que nos rodeia, já chegou à conclusão de que muitas das obras modernas, actuais, não continuarão em pé por séculos e séculos.

Quando vemos, pessoalmente ou através de documentos gráficos ou de imagem, o estado de construções de humanos com milhares de anos, e constatamos que raramente se encontram, actualmente, num estado que se possa considerar igual ao que tinham quando foram erguidas, nos esquecemos, involuntáriamente, que muitas destas destruições foram cometidas, propositadamente, por posteriores habitantes destes mesmos lugares, e até que muitas pedras trabalhadas, sejam cantarias ou peças que em conjunto definiam colunatas, portais, vãos de janelas, etc., foram reaproveitadas sem atender, devidamente, ao seu designio inicial.

Outros destroços tiveram causas geológicas ou climatéricas, que conduziram ao desmoronamento total ou parcial de monumentos e até de cidades inteiras. Não podemos esquecer que os medos actuais sobre as mudanças climáticas de cuja génese nos culpabilizamos, aconteceram com certa frequência já em tempos em que a humanidade já existia, e até se dedicava a erguer cidades e monumentos que hoje se encontram sob a superfície dos mares actuais.

Um dos exemplos mais citados e conhecidos é o do templo romano, ou grego, do qual existem vestígios evidentes na localidade de Puzzuoli, muito perto de Nápoles. As colunas que ainda restam em pé mostram como, em diferentes épocas, mas históricas pelos nossos critérios de temporalidade, passaram temporadas submersas e outras expostas ao sol e chuva. Estas colunas são um testemunho indiscutível de como a crosta terrestre pode subir e descer, além de que o nível das águas também mudou notávelmente. Como nos é evidenciado por numerosos documentários feitos por merguladores, autònomos ou robotizados.

E. nas referências que, implícitamente deixei, as construções históricas, mais ou menos monumentais, das quais restaram vestígios identificáveis sempre são aquelas que foram erguidas com cantaria e, excepcionalmente, com tijolos cerâmicos cozidos.Além de casos excepcionais, de adobes crús e taipas, em locais onde que o clima, pela pouca pluviosidade, ajudou na preservação.

O que me levou a dissertar hoje é a dúvida que me domina sobre se a população em geral está ciente de que as vistosas e aplaudidas obras de engenharia erguidas com recurso ao betão armado ou a estruturas metálicas, terão uma duração quase eterna. Pelo menos para muitas gerações de humanos em sequência normal, ou serão perecíveis devido a uma degradação mais rápida do que a que, tranquilamente, desconhecemos ou toleramos.

A maior parte dos materiais de construção elaborados fabrilmente e aos que se lhes atribuem durabilidades exageradas, são instáveis por natureza, pois que, inclusive os metais e suas ligas são passíveis de corrosões e alterações. Só as pepitas de alguns elementos, como o oiro, níquel e poucos mais, conseguem resistir sem se alterar aos ataques dos gases da atmosfera -em especial o oxigênio- e às águas, tanto puras como as que tem gases ou sais corrossivos dissolvidos.

Os materiais que mais se utilizam para erguer estruturas são o betão armado e os perfís de aço-carbono. Ambos carecem de cuidados muito especiais -que muitas vezes são negligenciados- para evitar que tanto a água como os gases possam introduzir-se na massa “compacta”. Não pretendo discriminar a forma como estes materias, quase nobres sem o serem de facto, são degradados com uma rapidez que não esperavamos.

Perto de Lisboa temos um exemplo, muito conhecido pelos especialistas, de como o betão armado se degrada, tanto na sua mistura de ligantes e britas, como pelo aço das armaduras. E sempre pelo dueto oxigênio+água. Quem percorrer, a pé, as estruturas de suporte do tabuleiro de circulação, do viaducto Duarte Pacheco, pode levar um susto quando verificar como se desconcha o betão e se observa, a olho nu, que a oxidação das armaduras, com a consequênte expansão do óxido de ferro resultante, tem um poder destrutivo não negligenciável.

Por seu lado as grandes estruturas de aço-carbono, como são as pontes suspensas e a Torre Eifel de Paris, entre muitas outras obras ”de arte” -como as qualificam os peritos- carecem de uma atenção permanente, com limpeza e remoção de escaras e nova pintura protectora.

Termino com a noção de que hoje vivemos com hábitos, muito enraizados, de que tudo deve ser considerado como objectos de usar e deitar fora, e que não nos espanta o saber que, por exemplo, um navio em construção, antes de estar pronto a navegar, se decida que o melhor é o desmantelar, e começar outro...

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