quinta-feira, 3 de setembro de 2020

MEDITAÇÕES - Ver em perspectiva. ESCHER

MEDITAÇÕES – Ver em perspectiva


A dificuldade só se vence com o treino. ESCHER

Todos os que temos a felicidade de ser visuais, convivemos com a noção de profundidade, de aproximação e de afastamento. E um facto tão banal que, por isso mesmo, sempre foi difícil transferir para uma representação plana aquilo que os nosso cérebro, através dos dois olhos, se encarrega de elaborar. A saturação torna difícil separar os componentes.

Parece simples, imediato, mas a realidade nos mostra que nos primeiros anos de vida, apesar de conviver com a estereoscopia, não a entendemos. A prova nos é dada por nós mesmos, quando, nos primeiros ensaios de desenhar, não sentimos, intuitivamente, como se pode transferir a progressão das distâncias entre o observador -neste caso quem desenha, mesmo que imaginando pelo que já traz na sua memória- e o que desejamos, ou conseguimos, fixar no papel.

Um exercício que, mesmo em adultos, podemos fazer é o de nos situar numa extremidade de um corredor, onde a sua largura, além de ser constante, como sabemos e aceitamos, tem em repouso algumas peças de mobiliário nossas conhecidas, cujas dimensões as temos como imutáveis. Invariavelmente se estivermos no eixo deste corredor ou sala, cuja forma não nos apresenta uma variabilidade expontânea, e interpretamos o que se modela na nossa cabeça, então verificamos que com a distância as paredes laterais se proximam entre si, longe do que seria de esperar. E não só isso. Os tampos dos móveis, sejam cómodas, mesas ou sofás, também “mudam” de tamanho com a distância, embora o observador, nós, se mantenha quieto, estático. Aceitamos, instintivamente, esta aparente variabilidade como coisa normal, sem aprofunda nas razoes desta ilusão.

As mudanças de percepção não terminam aqui. Se nos encostamos, alternadamente, à parede esquerda ou a da direita, tudo muda! E se subirmos acima de um banco ou de uma pequena escada, aproximando-nos do tecto, então a mudança é “pasmosa”.

Os pintores e gravadores da renascença, e mais os do modernismo, muito tiveram que estudar sobre pontos de fuga, horizontes (falsos e reais), transferêcias de um primeiro plano para outro mais secundário, e vice-versa, conseguir dar a ilusão de movimento ou de profundidade, colocar em tamanho reduzido sejam montes, árvores ou castelos, para facilitar a sensação de distância.

Uma revisão dos desenhos feitos pelos nossos descendentes, nos seus primeiros passos na figuração, nos elucida sobre a dificuldade inata de conseguir transferir, de um modo perceptível e aceite pelos observadores descomprometidos, a colocação de pessoas, animais, árvores ou construções, em planos diferentes. E, no entanto, muito cedo, certamente que desde antes de aprender a falar, já vemos em estereoscopia, como o comprova que, muito pequenos, saibamos que um objecto que nos atrai está, ou não, ao alcance das nossa pequenas e inexpertas mãos.

Um dos mestres modernos, de manipular de forma atrevida e divertida, as perpectivas, forçando a incredibilidade que em muitas das suas obras se observa de imediato, é o reconhecido M-C.Escher. Em 1946 publicou uma compilação de gravuras insólitas com o título Espelho Mágico. Muitas reedições e colectâneas se seguiram, e foram vários os seguidores, embora poucos conseguiram atingir o nível deste exímio e estudioso desenhador. RECOMENDAMOS que procurem conseguir livros, sejam monográficos (de preferência) ou de uma escola seguidista. É UM PRAZER VER E REVER, MUITAS VEZES, OS TRABALHOS DE ESCHER.


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