quinta-feira, 27 de agosto de 2020

MEDITAÇÕES - Côncavo e convexo



Nem todos temos grandes ideias, nem temos quem as financie


O manobrar em simultâneo duas superfícies, uma erguida e outra cavada, que habitualmente encontramos na natureza ou nas construções dos humanos. Passeando pelo areal e nos depararmos com cascas de bivalves, vemos umas de costas para cima e outras mostrando o interior, em geral nacarado. Outra possibilidade nos é oferecida pelas duas metades de um citrino depois de expremido. Deponde de como os colocarmos a visão espacial será oposta.


Devem ser possíveis muitas representações gráficas, sem volume portanto, para vencer este desafio. O mais famoso, e que não estava ao alcance de qualquer um, foi o de Oscar Neimeier quando projectou -com a colaboração de um engenheiro estrutural- os dois enormes pratos que se colocaram sobre a cobertura do Palácio de Congressos em Brasília. Qualquer pessoa com ligação à cultura ocidental conhece esta magna decoração.


Dias atrás desafiei-me, sem motivo que tal justificasse, a representar num plano, e a ser possível de um modo original a disparidade entre o concavo e o convexo. Uma fanfarronice sem nexo. Não encontrei outro caminho, além de poder abandonar o projecto, tão nebuloso, do que contentar-me com uma solução de pouco valor artístico.


Além de procurar tirar proveito da sombras que uma luz rasante nos delata, sobre a volumetria e posição no plano geral de dois acidentes de terreno, sejam naturais ou resultado de um trabalho, no meu caso de insectos. Mas sempre sob o propósito de mostrar os opostos-Numa linguagem coloquial o positivo e o negativo.


Incitado pela vontade de justificar a escolha de formigas, umas das que conhecemos habitualmente, e outras carnívoras no seu estágio larval. Refiro-me à conhecida formiga leão Myrmelleontidae, que escava um cone no chão. Situa-se, escondida, no centro da cavidade, que é uma rtatoeira sem isco. A larva está munida de poderosas maxilas, com as quais mata e come os insectos incautos que escorreguem pelas ladeiras do cone, sem conseguir remontar a sair.


Era pouco para completar a mensagem, dado que as formigas estão no planeta desde muitas eras atrás, mesmo antes dos grandes saurios. E os entomólogos colocam a sociedade dos formigueiros num patamar muito elevado, com organização de castas e tarefas muito especializadas. Com atrevimento, além de colocar formigões soldados, que tratam da disciplina e orientam as obreiras. Estas obreiras, estéreis, tanto trazem partículos do terreno do interior dos formigueiros, como depois partem à procura de alimentos, nomeadamente folhas e sementes.


Se observarem com atenção, caso tenham oportunidae de ver este trabalho, encontrarão quase um painel de banda desenhada. Um atrevimento de que tenho que pedir desculpa.

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