segunda-feira, 24 de agosto de 2020

MEDITAÇÕES – Narcisismo

 

MEDITAÇÕES – Narcisismo


Exibiciionismo e narcisismo

Duas características pessoais que quase sempre estão associadas. O narcisismo, que é uma situação de amor doentio pela sua pessoa, herdou este nome de uma personagem mitológica dos gregos.

Na habitual descrição dos mitos do médio oriente, onde se abasteceram gregos e romanos, o Narciso era um jóvem, filho do Deus Céfiso e de uma ninfa Liríope. Este descendente saiu tão perfeito, tão belo, que era admirado por todas as damas do  conjunto das divindades. O mancebo depois de se ver num reflexo ficou perdidamente enamoradio de si próprio. Estava enfeitiçado pela sua beleza. 

Passava os dias olhando o seu reflexo nas águas dos lagos, sem que daí resultasse nada de positivo para os humanos ou pelos seus parceiros no escol de deuses e similares. Tanto olhou para a sua imagem nas tranquilas águas que terminou caíndo no lago e, por não saber nadar, afogou-se, sem deixar descendência. Daí a mensagem de que a auto-paixão é estéril, improdutiva, merecedora de ser rejeitada.

Mas a paixão pela sua própria beleza, ou de se considerar o supra-sumo da perfeição, merecedora de ser admirada/o e invejado/a ou daí desejado/a sexualmente é só o salto de uma cobra. A publicidade se agarra a esta faceta para promover “produtos de beleza”, vestimentas atraentes e toda uma parafernalia de objectos, certames, revistas, operações plásticas, curas miraculosas de rejuvenescimento, etc. Uma promoção do fascinante com alvos gerais, quase que sem exclusões. Tanto se promocionam crianças, jóvens como adultos. E até se invade a serenidade dos mais velhos. Constantemente se faz a apologia da beleza, a qualquer preço

Como outras tantas características egocéntricas o narcisista real, o humano, raramente se satisfaz com a sua auto-paixão, que ultrapassa o que admitimos de amor próprio Anseia por estar no patamar da obsessão. Faz tudo o que lhe seja factível para promover a sua excelsa imagem. Sem se percatar que tanta exibição se torna fastidioso para quem, sem o pretender, se encontra continuadamente com a promoção que o próprio faz, obcecado como está na sua auto-admiração.

No campo da dita ”socialité” e da política partidária, esta permenente pressão promocional da imagem é já uma coisa tão batida que parece não dar os frutos pretendidos, pelo menos na captação de novos admiradores-apoiantes. As pessoas “normais”, -que não sei se são muitas ou poucas- penso que passam por esta catequização sem engolir o isco. 

Só aderem os que cínicamente vislumbram aí existir uma uma oportunidade de se beneficiar sem grande esforço. Essa é uma possível decisão tomada após ver que com o seu esforço e capacidade não lhes era fácil remontar as águas estagnadas, ou revoltas nas que não consegue navegar e chegar a um bom porto.

Obviamente sempre existem alguns incautos, ainda não escaldados, que se deixam fascinar pelos cantos das sereias.


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