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Nem sempre as coisas funcionam mal no “pequenino” Portugal, para
não dizer portugalito porque é um termo mais depreciativo do que
jocoso. O comboio pode-se dizer que está cumprindo o horário e
dentro de momentos terei os filhos ao lado. Já tinha saudades deles,
e tu vais ser apresentada formalmente, mesmo que eles já saibam da
tua existência. Cá estão eles, ambos sorridentes.
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Deixem que vos abrace. Primeiro a Luísa,apesar de ser a mais nova,
mas o seu sexo lhe aufere prioridades indiscutíveis. Como está,
minha filhota?
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Como podem ver estou em forma. Ando quando não estou apertada de
tempo e sempre consigo encontrar uma pausa para ir ao ginásio, onde
não quis ter dia nem hora certa. E tu, paizinho, como sempre te
nomeei quando criança, tampouco te vejo mal, e menos se atender à
idade. Esta senhora que te acompanha deve ser a Isabel, minha
madrasta, que por sinal não mete medo.
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Venha um abraço e uns beijos, “mamá” Isabel. O José Maragato é
muito mau de aturar? Imagino que dirá que nem por isso. Que outra
coisa seria possível que dissesse numa altura como esta? Lá chegará
a altura em que existirá mais confiança. A minha mãe, que eu
recorde, só se queixava das ausências do marido, que ele tentava
justificar como sendo devidas a negócios sigilosos. Certamente que
um eufemismo para não os chamar de escuros, se bem que quando fui
crescendo e apanhando uma palavra aqui e outra acolá fiquei com a
convicção de que ali aconteciam coisas um pouco fora das linhas.
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Luisinha! E se parasses de falar? Sempre foste uma gralha sem travão
na língua. Apanhaste a Isabel em exclusiva e nos deixaste, a mim e
ao Bruno, pendurados, como se fossemos moços de fretes, que por
sinal parece que deixaram de existir.
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Como podem verificar o vosso pai é especialista em fazer calar,
menos aos mortos. Dito isto vejo que este homem, feito e direito, é
o meu recente enteado Bruno. Alto! Não me estendas a mão, que não
mordo nem ofereço maças envenenadas! Quero um chi-coração de
menino, mesmo que estejam longe os tempos de meninice, e uns
beijinhos faciais para dar uma entrada simpática nesta vossa
família.
E
tenho que vos avisar de que estou muito curiosa por saber tudo, tudo,
mesmo tudo, das vossas vidas e aventuras. Se não for hoje, será
noutro dia, nem que eu tenha que vir a Lisboa de propósito para vos
puxar da língua. Não se riam, que isto é coisa séria, pois que o
vosso paizinho, quando quer, e é quase a todo momento, é muito
calado, um túmulo egípcio! E vos garanto que destes seus
descendentes -não sei, nem quero saber, se tem outras ninhadas por
aí- tenho poucos elementos para conseguir retratos idóneos. É pá,
esta tirada saiu catita. Não vos pareceu?
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Já que se apresentaram e como não enjoamos na viagem, que decorreu
sem descarrilamentos nem choques com outras composições, creio eu,
como chefe de Clã, que é o momento de nos dirigir para um local,
que vocês dois já devem ter decidido, onde se possa tomar um
ligeiro repasto, devidamente sentados e sem muito barulho ambiental.
Mas! Atenção! Recordo que avisei que não estava pelos ajustes de
me meterem num Avillez ou semelhante. Somos de hábitos antigos e
apreciamos a boa mesa, mas clássica. E agora Bruno, agarra-te ao
leme e leva-nos a bom porto. Entretanto ligarei para o hotel
confirmando que estamos na cidade, mas que não sei a que horas
daremos entrada.
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Suponho que sou tão faladora quanto a Luísa, e já vi que podemos
confiar nas dotes de condução segura do Bruno, pelo que me atrevo a
sugerir que podemos dialogar enquanto ele nos leva à certa. E dou a
palavra à minha filha, recém aperfilhada mas já bem crescida.
Conta-me o que tens feito até agora e o que imaginas que será o teu
caminho daqui em diante. Depois interrogarei o Bruno, sempre
aplicando as artes de fazer falar que treinei enquanto exercia a
pouco nobre profissão de cabeleireira, e depois como empresária de
salões de beleza. Por enquanto são dois, e bem afreguesados.
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