sexta-feira, 30 de março de 2018

CRÓNICAS DO VALE - Capítulo 22

NOTA PRÉVIA - A partir deste capítulo abandonamos o título inicial de O FESTIVAL, pois que se nos primeiros capítulos estava previsto atender uma solicitação do Presidente da Junta de Vale do Rio
quando o tema tropeçou com pressões oficiais, e, por se fosse pouco, surgiu um cadáver nos terrenos do protagonista, tudo mudou de rumo. Espero a vossa indulgencia e compreensão.

Chegamos ao restaurate

Mudos como túmulos. Parece que, subitamente, os quatro membros da equipa foram atacados de um vírus que os petrificou. Pelo menos nas cordas vocais.

- Então Bruno, conheces este sitio? E recomendas?

- Dadas as condições que o pai nos colocou, a Luísa e eu, não duvidamos de que este era o local indicado. Nós, que já repastamos neste local anteriormente, apostamos em que vai ficar satisfeito.

- Sendo assim entremos e, sendo conhecido da casa, pede uma mesa sossegada, para poder falar à vontade .

- Boa tarde Senhor Camilo. Ainda chegamos a tempo de pedir?

- Boa noite doutores e sua companhia. Gosto em os ver. Os atenderei pessoalmente e se me perguntarem o que recomendo garanto que não serão aqueles pratos que convém à casa, como em geral se faz.

Estamos batidos nestas sugestões. E mesmo assim, quando temos pressa caímos na tentação de perguntar no que está pronto a servir. Mas hoje queremos escolher, se bem que contaremos com a sua proverbial colaboração.

Para já distribuo a ementa e podem ir lendo. Se tiverem alguma dúvida não se acanhem de me fazer sinal.

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Isabel, já encontraste o que te parece ser do teu gosto?

Se queres que te diga com sinceridade (um bocadinho amanhada) não enjoei na viagem, mas mesmo assim sinto-me um pouco agoniada. E não estou de esperanças! Para ter meios irmãos já bastou comigo. Respondendo directamente depende do fartas que sejam as travessas, caso não venham com os pratos servidos desde o balcão. E se alguém dos presentes quiser fazer uma vaquinha... Dito de outra maneira: esperarei pelo vosso jogo.

Pensou bem a Isabel. Aqui servem em travessa e até em excesso. Eu vou pedir o cabrito no forno,com os acompanhamentos habituais. E se a Isabel quiser petiscar, chegará para os dois.

- Obrigada Bruno.

Pois eu, que apesar do ginásio, tenho que ter cuidado com a boca, que descarrega tudo nas ancas. Vou avançar para a cabeça de garoupa cozida com legumes. E também posso oferecer parte à Isabel se preferir.

Também agradeço Luísa. Isto vai ser parecido como quando com o vosso pai comemos fora e constantemente saltam bocados de um prato para o outro.

- E Bruno, que pedes?

- Já tinha dito antes dos outros, e mantenho a escolha, meia dose de cabrito no forno, que depois tenho que trabalhar e se comer em excesso fico com sono. Além de que, com moderação, beberei um pouco daquele tinto especial.

Sou o último a deitar trunfo à mesa. Mas quero pedir opinião ao dono. Este rosbife é garantido? E traz os acompanhamentos certos ou fica-se pelo arroz e um bife à casa?

Esta graça é nova, para mim. E de facto é um trocadilho à portuguesa. Gostei. E respondendo direi que a carne é de vitela barrosã, enviada directamente da região transmontana. Vai ficar satisfeito. E já agora, atrevo-me, por os ver conversar sem preceitos esquisitos, são familiares seus?

É o meu pai e a esposa, que não é a minha mãe, pois ficamos sem ela ainda muito novos.

Desculpem o atrevimento. Vou já direito à cozinha, e enquanto os pratos não cheguem vou mandar umas reduzidas entradas para petiscarem.

Tudo bem, mas não exagere nas quantidades pois mesmo os jovens já não tem o apetite da adolescência. E, já me esquecia, se algum prato ficar pronto antes que os restantes, pode servir, pois nós nos roubaremos uns aos outros, como bons familiares sem preconceitos.

- Pai, queria que me contasses da situação do problema com aquele cadáver que plantaram no nosso terreno. A julgar pelo seu tom de voz quando falamos disso pela última vez, fiquei com a impressão de que receava uma tentativa de lhe pendurarem este crime. E tenho a certeza de que jamais cometeria tal loucura, e menos a falta de senso no que tocava a fazer desaparecer o corpo do delito.

Pouca coisa posso acrescentar. Os advogados de Coimbra, que são o meu apoio habitual, tem conhecimentos na Judiciária; digamos que pela porta do cavalo. E as últimas notícias, como se previa, é que neste assunto parece que estão implicados muitas personagens importantes. Nada interessadas em que os seus nomes apareçam nos tablóides. O que se prevê é que tudo vá entrando em marcha muito lenta e que, no pior dos casos, se não arquivarem o processo, procurem um desgraçado a quem lhe pendurem o crime. 

Temos que entender que os rapazes da Judiciária sofrem pressões, e que desta vez são múltiplas e de altura. Podem estar habituados a pedidos e cunhas, mas desta vez a coisa fia com muito cuidado. Dizem-me que fique tranquilo, mas estes organismos nunca são de fiar.

- Mas chegou a altura de trincar algumas destas coisinhas que o dono nos enviou para entreter, Os pratos podem demorar uns minutos; entre um quarto e meia hora, pois não me pareceu que nos impinjam comida requentada. 


Bem me parecia ainda no carro. Educados sim, mas não sou do seu meio e entre pai e filhos farão a festa. O mais conveniente é não meter a colher; sorrir e acenar com a cabeça enquanto estivermos juntos. Felizmente não deram saída às minhas tentativas de “entrar a matar”.

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